Não parecia...

Não parecia chuva,
a fina e transparente cortina
que descia sobre as coxilhas
entremeadas de soja,
capões,
gado
e quietude,
melancolia e saudade;
mas era.
Não parecia que os anos
haviam passado;
tanta vida e tanta morte
nos atravessado
e, que esta
de cabelos brancos
um dia, fora eu menina,
com uma porção de quimeras,
mas era.
Não parecia
ser verdade
que ele não estava mais ali,
varrendo a calçada;
fazendo um pacote;
limpando 
espigas de milho
com a paciência
e o capricho de Jó;
fazendo a gente rir
de tudo e de nada...
mas era.
Não parecia
que a vida,
apresentando-se
como um horizonte infinito
à nossa frente,
era tão cheia de curvas
e esquinas;
escorregadia
e fugaz;
provocadora,
e cheia de surpresas
inusitadas,
como uma manhã
de chuva solitária,
mas era...




 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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