O sol


O sol estende sobre nós,
“suas mãos”!
Através “delas”,
do seu poder e amor,
todos os dias,
nos abençoa com
luz e calor.
Nos alimenta,
Cura,
fecunda,
energiza
e acarinha!
É abrir o coração
os braços;
acolher.
Deixar-se tocar
e transformar!

Entardecer de domingo


Todo entardecer de domingo
a mesma nostalgia,
repetida e funda,
que acaba em agonia:
morro eu e
morre o dia.
As emoções presentes,
todas! De uma vida inteira.
De vidas inteiras!
Todo entardecer de domingo.
A vida vivida:
a lembrada e a esquecida,
na balança.
E mais do que os equívocos,
doem as despedidas.
E mais do que das conquistas,
a saudade é dos encontros.
E meu coração se agiganta
insuportavelmente,
de amor; benquerer inexplicável!
Um amor acrescido
de temperos que não lembro;
mas nítido e claro.
Maior do que posso suportar.
Bom é que dura pouco!
Ressuscito! Com a chegada da lua!
Ela e sua magia;
evocam em mim,
a fênix e a poesia.

Saudade

Sinto-a crescendo,
a saudade,
dentro de mim.
Todos os dias, um pouquinho
mais clara,
mais decidida.
Saudade de um abraço
de encontro
de pertença
de chegada
de sintonia silenciosa.
Sem  palavras.
Só  calor
afeto
entrega.
Quietude
e horizonte,
só.

Presente

Sol
céu
luz
espaço.
Azul
verde
ondas peraltas
voo,
abraço!
Encontro
agradecido e contemplativo,
do velho
com a cantoria e alegria
do novo!
Laço.
Simples e essencial,
puro sossego
sintonia
afeto.
Presente.





Primeiro chimarrão



Primeiro chimarrão!
- “Mas não é de adulto, né, vovó”?!!!
- Não! Só chazinho, por enquanto!
Iniciação.
Rituais são belos, fundos
essenciais. Este, então...
Carinho, roda, respeito.
O chimarrão passa.
Com ele, a conversa,
escuta, afeto, ensinamento:
somos parceiros, irmãos.
Nossa vocação é a solidariedade.
Mais chimarrão no mundo
é menos preconceito e solidão!

Felicidade


Felicidade... 
Nunca é a coisa
em si mesma;
mas o que
a coisa produz!
Onde ela me leva...
me faz experimentar!
Fagulhas intensas,
labaredas que ardem
e queimam ao avesso
sem doer! De puro deleite,
prazer!
Um prazer intenso
             que eleva, dilui,               
agiganta e apazigua!
Puro. Nada egoíco.
Singular, mas também
um todo
que agrega, unifica
lá na raiz; na fonte
das essências e plenitudes!
Onde mergulho
no deleite, na emoção...
Me permitindo experimentar
apesar de ser
uma filha pródiga.
Há um oceano, sim;
de infinitudes delícias;
onde o abraço, o
beijo, a  presença,
o acolhimento, um encontro,
uma lembrança,
um reconhecimento,
uma palavra, um carinho
não é um momento;
é uma vida. É constância.
É continuidade.
Esperar pelo reencontro
com estes momentos,
vale viver todos os hiatos.


"Preguiçosa"




Depois de muito tempo, reencontrei com minha prima e sua família, fazendo uma visita a eles, em Floripa. Reencontrar uma pessoa querida e próxima, assim como ela, parceira de infância e adolescência, é emocionante! A gente quer falar, atualizar tudo de uma vez! As palavras se atropelam; os assuntos se misturam e viajam desordenadamente.
Então, nos primeiros momentos, não prestei atenção em nada mais do que nela e nas impressões que o nosso reencontro oportunizava; recordações de tantas coisas boas da nossa cidade natal; dos nossos familiares comuns e das vivências e parcerias. Circunstâncias, caminhos singulares e a geografia nos mantiveram afastadas por muitos anos. Agora, temos esta oportunidade de partilhar novamente a vida, num outro estágio. Coisa boa!
Num momento em que levantei para entregar a cuia do chimarrão; então sim, prestei atenção na varanda linda, cheia de sol e de horizonte e foi aí, que eu a vi: a “preguiçosa”!
Não  pude acreditar! Uma “cadeira preguiçosa”! Do meu tempo de guria! Emoção funda e uma viagem fantástica e vertiginosa ao passado, à infância. Nunca mais tinha visto uma dessas! Elas faziam parte dos acessórios da casa dos meus avós, dos meus pais e dos meus tios. Era quase um objeto sagrado! O que será que aconteceu com aquela que tínhamos na casa dos meus pais? Não lembro. Parece que diluiu-se, sutil e silenciosamente, junto com o tempo e tantas outras coisas, a espera de um inusitado, como este, para ressurgir, pulsante! A última de que tenho lembrança é a que havia na casa de tios muito queridos e próximos. Era a cadeira preferida do meu tio. Só podia ser, porque não lembro de outra pessoa sentada na cadeira, se ele estivesse presente. Depois que ele faleceu, não vi mais a “preguiçosa”.
Muito nítida, agora, a imagem do meu pai, sentado na “preguiçosa” que tínhamos em casa... quieto, saboreando sua “cangibrina”; ouvindo, no rádio de pilhas, as melodias melancólicas, no final de tarde... Olhar fixado, ora no horizonte, ora nas  rachaduras do piso avermelhado, que brilhava como um espelho, graças ao capricho da mãe... imagino que aquelas rachaduras no piso eram como estradas, por onde ele voltava ao passado longínquo; o que fazia seus olhos lacrimejarem ou, por onde se permitia aventurar ao futuro, sonhando com as suas “imaginações não comprovadas”.
Quando o pai não estava; a mãe usava a cadeira. Fazia ali os seus cochilos, entregue, depois do almoço e de limpar a cozinha; com a “preguiçosa” espichada sem esforço... Mãe cochilando, relaxada, tranqüila, serena, silenciosa e sorrindo! Sorrindo e sonhando! Processando a dureza e a frieza da lida cotidiana. E sim, sonhando com delicadezas, levezas e tantas possibilidades que ficaram no passado... eu gostava de observá-la neste “recreio”. Ah! Delícia de descanso! Magia depois do almoço... um soninho que sempre apreciei no cotidiano dos outros, mas que nunca experimentei!
Mas a nossa “preguiçosa”, eu curti, claro! Às vezes que sentei e deitei na “preguiçosa”, foram especiais. Não era uma cadeira qualquer, até porque era pesado abrí-la. Era coisa de adultos. Como toda criança, tinha admiração e curiosidade em relação ao  mundo adulto. Acessar a algumas coisas deste mundo, era o máximo! Eu gostava daquela magia de movimentar a cadeira: sentar e deitar;  baixar e levantar! Acho que também sonhei muitos sonhos, ali, contemplando os verdes, o céu, as pessoas que passavam na rua (imaginando suas histórias...), a chuva, as noites estreladas (quando fiz amizade com uma estrela a quem eu chamava de Paulina)...
Linda “preguiçosa”! Que de preguiçosa, não tinha nada! Mas de companheira, sim! De lida e de sonho; de vida! Tão bom te rever!
Obrigada, Rosane e Fernando, por este reencontro duplo!!!!


Órfãos da Lola

       
         De tardinha, Brigite já estava acomodada no seu poleiro, descansando da labuta diária, esgravatar  as cercanias da casa.  Mas e a Lola? Cadê a Lola? Não apareceu. Não respondeu aos chamados. Nem ao som mais apelativo e irresistível: da ração "cantando" no pote! A noite chegou e as buscas não puderam prosseguir na floresta escura.
        Ao amanhecer do outro dia, só Brigite cantou e pôs seu ovo, cumprindo com sua obrigação, antes de sair ciscando e brincando de desencavar tesouros por todas as partes do seu rico universo... Mas tem graça brincar sozinha? Cacarejar sozinha vocalises galináceos? Desbravar mundo e fundos, sozinha? Não. E Brigite voltou logo para perto do galinheiro, chamando sua amiga! Veementemente! Invadindo, com audácia, os limites da casa, desconfiando que sua amiga pudesse estar escondida ou prisioneira. Mas não estava.
        Lola apareceu no meio da tarde. Veio morrer em casa. Veio cambaleante, fraca, quase inconsciente. Veio, pelo afeto e pelo dever. Veio morrer em casa, entre os seus e, num esforço de dar dó, cumprir sua sina feminina: por um ovo, seu último ovo.  Tão grande era este desejo que conseguiu, mas ele não estava pronto; era um ovo em formação, ainda ... mas valeu a intenção, Lola!
        Nunca saberemos o que aconteceu com ela, durante o tempo em que ficou desaparecida; penas que foi ferida mortalmente. Aparentemente não estava marcada; não tinha ferimento aberto e nem vestígios de sangue. Mas seu peito estava sujo e sem algumas penas. Mereceu carinhos, um banho, uma caminha limpa. E se entregou. Morreu.
           Brigite não se conforma. Não entende o que houve. Está atônita. Elas eram boas parceiras. Estavam sempre juntas. Imagino a dor. Todos estamos mexidos. 
      Chegaram, hoje, mais dois pintinhos; na verdade, duas “pintinhas”. Logo crescem, sabemos e farão amizade e boa parceria com a Brigite; porque todas são galinhas do BEM. Mas, a Lola, nunca mais! Lugar, no espaço físico, pode ser ocupado por um outro; mas no coração... no coração, não! Cada um tem o seu lugar. Ninguém ocupa o lugar de ninguém, no campo dos afetos. Lola  não era apenas uma galinha. Era nossa galinha e ela nos deixou órfãos da sua  presença e generosidade cotidiana.

Por que eles são feridos?

Eu falava sobre Gandhi, apaixonada que sou pela “ahimsa”. De repente, um aluno perguntou:
- “Maisa, por que sempre matam ou ferem estas pessoas que fazem o bem; que são da paz?”
O silêncio foi intenso. Muitas respostas, imediatamente, vieram à mente; assim como um grande pesar. Mas deixei o meu silêncio ocupar espaço. Deixei as impressões de cada um ocupar espaço.
Eu queria encantar e fortalecer meus alunos em relação à paz, à convivência fraterna; apresentando a eles, algumas destas figuras  maravilhosas que têm acompanhado o percurso da humanidade adormecida, com sua presença, sua palavra e sua atitude generosa, pacífica e perseverante. Queria apresentar modelos de gente de carne e osso, gente como a gente; vivendo não apenas sua vida, mas implicados, de fato, com o coletivo, o outro... para que, depois, com seu olhar e sensibilidade, cada um deles pudesse descobrir e valorar, no seu cotidiano, aqueles tantos que trabalham no anonimato, persistentes e generosos, para o bem estar de familiares, amigos, comunidade... Mostrar que o mundo é feito de gente boa! Que os egoístas e perversos ainda são exceção. Queria contribuir com a onda colorida, de emoção, beleza e esperança paralela a esta de desesperança,  banalização e menos valia de valores e atitudes generosas, que se instaura, silenciosa e decidida por entre os rumores dos escândalos, delações, violência e injustiças crescentes. Isto num mundo, num século cheio de tecnologias, conhecimento e facilidades; onde a vida e a convivência, tornando-se mais prática e cômoda, naturalmente deveria estar melhor, avançada. Mas não.
Indubitavelmente, o momento é de limpeza. E limpeza se faz assim: tirando tudo para fora, arejando; selecionando aquilo que ainda serve, está bom; ainda tem valor, pode ser reaproveitado. Livrar-se dos supérfluos; do que não serve mais e deixar espaço para o novo. O que não dá para esquecer, mesmo e de fato, é de olhar bem;  reservar o que está bom;  o que está ainda de acordo com nossa medida e é de uso indispensável; para que não seja descartado junto com o lixo. Que não façamos trocas equivocadas!
E é na limpeza que os justos e bons são eliminados, feridos. O fanático, o desesperado, o fascinado, o arrogante, o que não se reconhece e por isto nada lhe basta; este mata, fere, deixa-se corromper.
O justo, o bom, perturba. Exatamente porque ele se basta. Ele encontrou algo. O seu ideal, sua fé, seu horizonte, seu sonho, sua ética, lhe basta e é muito maior do que seu pequeno mundinho. Vê o que nosso olhar perturbado ou cheio de ilusão, não alcança. E ele olha, ele fala; ele está impregnado disto que mais dói dentro da maioria de nós; que é simples e essencial: sentido de viver. Aviva  nossos brios e eleva os sentimentos e pensamentos. Por isto, os justos morrem. Mas nunca morrem! 
É isto, queridos da profe! Agora, continuemos pensando e, sem esquecer: sentindo! Outro dia retomamos o assunto ...





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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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