6.5


Aniversário, 6.5. Amanheci com um lindo dia de sol! Recebi carinho, celebrei a vida e meus frutos. Conectei com laços que teci ao longo de tantos outonos... Estão fortes! Cheios de silêncios preenchidos e histórias de benquerer que hoje abraçaram-me com gentilezas. Anoiteci na praia: um barco em festa no horizonte, embalado pelas ondas, iluminado por meus sonhos, meus amores, meu ser. Inteira.

"Quiança"

Uma “quiança”

voltando no tempo

sem entender,

reaprendendo a se erguer.

Teimando, experimentando

o contrariar!

Expressando sentimentos

sem se importar!

Alternando interesses e olhar,

mudando de ideia

de acordo

com o momento,

com o sopro

de qualquer vento,

de uma lembrança

lá.... numa esquina do tempo.

Um corpo frágil,

vergado,

cheio de memórias antigas

sustentando um presente

que não cria raízes,

que se dilui

como nuvens no céu,

em tarde de sol.

Cansaço e inquietude

perambulando no passado,

vivendo o que já não é mais

mas, ensinando sem querer,

para o olhar que vê,

que ainda é tempo,

para perceber:

a vida é o presente!

Viva.


O fantástico mundo das ideias


 

            PARA GOSTAR DE ESCREVER

 

            “Dentro de um mundo

            tem um mundo e

            dentro deste mundo

            um outro mundo

            que é o mundo da imaginação”.

            Versos lindos de uma canção infantil. Que sensibilidade da Rosy Greca, no CD “GENTE CRIANÇA”! É surpreendente este fantástico mundo das ideias! Como elas surgem, em cada um de nós, associam-se ou, de repente, seguem outros rumos, voam longe. Curto muito observar isto em mim e principalmente, nas crianças, nos alunos. Cada ideia, um mundo. Que não se repete.

            Lembrei desta melodia da Rosy, durante trabalho individual com um aluno. Após identificar-se e escolher três objetos entre tantos: uma espada, o globo terrestre e um dinossauro, discorreu sobre cada um, apaixonadamente. Falava e eu observava como seus olhos brilhavam e as palavras fluíam, vocabulário rico. Desafiei-o para criar uma história, oralmente. Ah! Que história! Interminável! Cheia de detalhes, heróis, batalhas, desafios e lugares perigosos. Memória, imaginação, prazer e palavras numa articulação sensacional. Porém, não concluiu no tempo da aula. Retomamos outro dia, quando propus que escrevesse. Gostou e quis digitar. Perguntei se ainda lembrava do que estava criando. - “Estou com a história todinha na minha cabeça, Maisa, mas decidi que vou modificar, fazer diferente”. E iniciou a escrita. Sorria, fazia um comentário, silenciava, olhava para os objetos, escrevia... De repente: - “Acho que, na verdade, vou fazer um filme”! E não vou acabar, hoje! (sorriu!) Mas na próxima aula, acabo. Até que vai ser bom, posso ter mais ideias... daí a gente pode começar a filmagem, né”!

            Bah! Baita desafio! Nossa! Como filmaremos esta história? Envolvida por tanto querer e riqueza, viajo junto, tocada nos meus mundos; cativada por este mundo maravilhoso que é ele e o mundo que gesta no mundo da sua imaginação. Por vezes, as asperezas, a dor e o egoísmo nos impedem de enxergar os mundos que existem dentro nós e menos ainda, nos outros. Bom demais quando enxergamos. Resgatamos coisas boas. Depois a gente vê se faz um filme, transforma num teatro de fantoches, faz uma contação de história, escreve um livro ou apenas deixa ali, porque o mais importante, com certeza, é o processo.

Lendo o mundo por aí...

  



        Embaixo do parreiral, um mundo maravilhoso de tipos, cores, formas, cheiros e cuidados. O vovô, patriarca que deu início ao parreiral, ia mostrando os tipos de uva ali cultivados. Ele sabia qual já estava no ponto para colher e degustar! Mostrava, com orgulho, toda a organização do lugar para cultivar as uvas com segurança: a colocação das estruturas da estufa para cobrir e proteger cada canteiro; os canais de irrigação para garantir a água necessária; a limpeza do local para facilitar a locomoção e visitação; a necessidade de todos os dias supervisionar o parreiral, para não deixar que nada aconteça com os cachos... Cada canteiro, uma espécie que ele apresentava com admiração. Houve uma, em especial, que chamou a minha atenção: a uva bananinha! Grãos verdes, compridos, parecendo uma banana pequenina! Doces. Eu nunca tinha visto e fiquei encantada com o formato e o tamanho! Gente! Cachos compridos, pesados... incrível que a parreira possa sustentá-los! O vovô fez questão de mostrar-me algo raro que ali acontecera. Fomos até o canteiro de uma espécie de uva rosé, com cachos bonitos, grãos generosos. O que acontecera ali? Imaginem só! Um ramo, danadinho, ligado ao tronco, produziu três cachos do mesmo tamanho, mas de cor diferente dos outros: três cachos verdes em meio aos rosés! Ah! Como pode?! Ele, acostumado com as uvas e aquele universo, estava surpreso, emocionado! Imaginem eu, completamente leiga, vendo aquilo... bonito demais! Principalmente flagrar os olhos brilhantes e o tom amoroso com que se referia ao trabalho familiar, em equipe: a ele, cabia acompanhar os visitantes; o filho era quem, agora, estava no comando do negócio e os netos, aprendizes atentos, colhiam as uvas para os clientes, pesavam e cobravam. Saí de lá não só com uma cesta generosa de uvas; saí acrescida e feliz! Amo encontrar estes universos diferentes do meu. O cotidiano está cheio de cenários inusitados e de singulares histórias de vida. É só parar, olhar, ler ou escutar. Emoção e aprendizado estão sempre garantidos.

 

 

Coração


No coração da mãe

cabem distâncias,

saudades,

parcerias,

alternâncias,

impotências,

escutas,

silêncio e

gratidão.   

Rega

 


Um pouco de calma,

um pouco de paciência,

um pouco de doçura,

de maciez,

por favor!

Deixar chover,

dentro!

Regar a alma,

o coração,

as proximidades,

os laços, os afetos,

a ternura.

Afastar os véus

do deserto

de secura, aspereza

e espinhos

que tomam e encobrem,

nosso interior,

afastando, endurecendo,

torturando e

adoecendo a mente,

as sensações,

percepções, emoções...

Um pouco de quietude

e delicadeza, por favor!

Para prestar atenção,

relaxar o corpo,

afrouxar os braços

para que eles se moldem

num abraço!

Dantes tempos

 

        


    Noite. Estávamos ali, as duas, eu e minha mãe,  contemplando a noite… Sem tv, sem música, sem novela, filme ou série. Sem celular e sem notebook. Na verdade, viajávamos. Cada uma, pelos caminhos da sua memória e da sua saudade. Eu aterrissei num passado muito distante, na infância, que foi um tempo sem eletrônicos; quando as noites eram assim, das luzes amareladas e opacas, das sombras, dos grilos, dos vagalumes, do canto dos ventos e das folhas perambulando pelo chão. E também do espaço que havia, entre estas coisas, para a imaginação e para a interpretação fantasiosa das conversas e risadas dos adultos, que acompanhávamos, mas nunca interrompíamos. Quando escurecia, depois que fazíamos as tarefas, a mãe lavava a louça da janta e não havia roupa para passar, descíamos a rua, rumo à casa do nono e da nona. Lá, os olhos melancólicos da nona, o cheiro do “chá-de-mate” no fogão à lenha e do “paiero” do nono, junto com os causos que ele contava, nos aguardavam. O movimento apaziguava. Não havia pressa para fazer qualquer coisa. Tudo tinha um tempo gostoso de transição e preparo. O nono era um contador de histórias nato: voz grave, forte e sua gargalhada, uma cachoeira! Enchia o espaço, a cabeça e os olhos da gente. Um torpor ia tomando conta do corpo e, de repente, a voz dele ia ficando cada vez mais longe ou cada vez mais sussurrante e nossos olhos pesando… A mãe cutucava: - Não dorme! Aí, num prisco, nos perfilávamos, curiosos, para ouvir o final do causo. Depois, retornávamos à casa. O pai estava longe, em algum hotelzinho de beira-estrada. Era caixeiro-viajante. Só voltava na sexta-feira; sempre trazendo algum presentinho: rapadura, balinhas, abacaxi, banana, ovos, queijo, milho verde… Agora, vivemos um outro tempo. O nono, a nona, o pai chegando nas sextas-feiras, empoeirado e, apesar do cansaço, alegre e cheio de surpresas; a nossa infância, as noites de proximidade, povoadas de histórias e vagalumes, não existem mais.  Ficaram lá, numa esquina do tempo. Porém, de repente, sempre que o cenário favorece e nos entregamos, elas retornam, atualizam; tocam, abraçam e nos lembram quem somos e de onde viemos... Isto é precioso, extremamente sensível.

Laços

 

    


    Das melhores coisas da vida: os laços que a gente faz com o outro. Tão bom encontrar, pelos caminhos, gente materializando carinho, empatia e sintonia. Gente querida, conhecidos, amigos que nos chamam pelo nome, olham nos olhos; com quem temos laços bonitos e muitas, muitas memórias afetivas que embelezam o cotidiano e nos fortalecem a cada reencontro.

Leitura


A leitura,

além de livros,

é a de mundo.

De olhares,

gestos,

silêncios

e de corpo.

Lendo, a gente viaja,

a gente se liberta,

voa,

conhece e aprende.

Vislumbra e curioseia

horizontes.

Lendo, a gente partilha,

reflete, amadurece,

sensibiliza

e humaniza.

Vira cidadão do mundo.



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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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