39 - "Silentium" (2)

Há alguns anos atrás,
à noite, quando costumava
caminhar pela praia,
acompanhando o vôo solitário
e irreverente de algumas gaivotas,
descobri o silêncio do mar...
As ondas se encontravam lá adiante
e, juntas, vinham
e se debruçavam sobre a areia,
sem alardes, somente produzindo
uma suave exclamação de alegria!
E, depois... o silêncio!
Profundo, interminável...
até o outro momento,
com uma nova exclamação!
Eu fechava os olhos e
acompanhava aquele silêncio
até ouvir outra vez
o som das ondas abraçando a areia...
Passei a prestar mais atenção
naquele intervalo, no silêncio,
ele me fazia muito bem.
Após a chuva, agora,
nestes últimos dias,
saí para caminhar um pouco pela rua, à noite.
Havia uma quietude gigante!
Nenhum som.
Eu olhava e admirava o contorno
dos morros, das árvores que
sobressaíam na escuridão.
Era realmente algo majestoso!
O silêncio era de reverência,
dignidade e beleza permeando
e preenchendo de significados.
De repente foi quebrado
por uma cantoria intensa de sapos!
Sons em vários tons,
harmonia e duração.
E, então, silêncio outra vez...
longos e profundos momentos de
silêncio, quando podia perceber, sentir
que algo se processava ali...
até a cantoria reiniciar!
Então compreendi,
de um outro jeito,
o que já sabia sobre
a importância do silêncio, da distância,
do intervalo, dos hiatos...
entre uma respiração e outra,
um encontro e outro,
uma decisão, escolha e outra,
um sonho e outro,
um trabalho e outro
uma tentativa e outra...
Nestes hiatos e distanciamentos
é possível avaliar
o conteúdo, a profundidade
do que é real e essencial.
Aquilo que é supérfluo e ilusório
ao menor distanciamento se dissipa;
mas o que é verdadeiro,
se organiza e fortalece
na distância e na falta
e, está sempre lá, no horizonte,
sinalizando algo.

38 - Espera

Espera...
esperança “esperançosa”
que é lenta mas insistente;
anima mas é “durona”;
mantém mas desgasta;
alimenta mas não alivia;
estimula mas não garante;
sorri mas não é doce;
agrada mas não facilita;
é bonita mas distante;
acena mas não se envolve;
convida mas não dá o endereço;
valora mas não estabelece o preço;
promete mas não se compromete com prazos...
Espichaaaaaaada!!!
Por vezes espinhosa.
E lá no fim:
pode ser que não,
pode ser que sim!
Então... se o alvo do desejo
está lá, num vir a ser
distante e de “quem sabe”...
há algo muito importante:
não perca o “agora”,
este único e especial instante!

37 - Lá e aqui

Era leve e
esperançosa
a nuvem branca
cobrindo o céu
depois da chuva...
Eram pesados
e desesperançados
os pensamentos
incolores
cobrindo meu
desejo de leveza.

36 - "Silentium"

     Silêncio... Gosto desta palavra! Vem do latim “sileo-silentium”: repouso, tranqüilidade. Assim é o silêncio para mim; não uma ausência de sons, mas quietude. E na quietude, tantas coisas falam! Existem tantos sons, tantos significados... Por vezes, o silêncio tem sabor: é amargo quando exclui, ignora. É doce quando há acolhimento e cumplicidade. O silêncio dos sentimentos é tão impressionante! Pode ser salvador ou arrasador! Já se deparou com o silêncio terrível da indiferença, da rejeição, do medo, da raiva, da dor, da desconfiança, da mágoa? E com aquele silêncio fundo e maravilhoso provocado pela emoção do arrependimento, da ternura, da alegria, do êxtase, dos apaixonados, dos reencontros?! E o silêncio forçado e doloroso dos oprimidos, dos inseguros, dos inocentes, dos violentados, injustiçados e esquecidos? Indigno e corrosivo o silêncio dos infratores, dos omissos, dos que abusam, dos que “se acham” e não se importam. Eu adoro ouvir e me deleito com o silêncio da noite que fala baixinho, suave; da chuva cantarolante nas folhas, nas janelas e telhado; com o silêncio do mar suspirando a cada onda, lembrando dos seus tesouros escondidos; com o silêncio da música que torna presente todos os sentidos e os sonhos mais queridos. Com o silêncio da mata chamando, sedutora, para seus mistérios; com o silêncio dos passarinhos afinados e no seu alarido, delicados. Com o silêncio do amanhecer, gentil no seu despertar, presenteando com promessas que não consigo alcançar; com o silêncio majestoso das palmeiras, lembrando antigas histórias de nobreza de caráter; com o silêncio da chuva, sábia, inspiradora e curativa... E o silêncio das palavras? Ele é maravilhoso porque então os olhos falam! E eles não falam inverdades, hipocrisias. Eles falam daquilo que o coração está cheio.

35. Apegar quer, desapegar não quer...

APEGO
A PÉ

PEGO
EGO
     Eu me apego aqui. Tu te apegas ali. Ele se apega acolá...
Apego
pego
não nego!
Coisa do ego?
     Apegar é pegar ou ser pego?
     Apegar-se é ficar preso de livre vontade.
     Desapegar é libertar-se de livre vontade.
     Desapegar é um trabalho “meio” inútil de tentar separar algo misturado, como água e açúcar. É “deveras” trabalhoso e doloroso! Alguém já conseguiu, de fato?

     No desapegar, o que mais dói é a consciência de que o outro não precisa de mim. O apego é meu. 
    Há dois tipos de apegado: o que não larga e o que tenta largar.
   O que tenta largar, tenta agüentar o desapegar, que é o mesmo que rasgar, virar do avesso; deixar pra lá quando o que de fato quer dizer “vem pra cá”.
     Quando o apegado desapega, geralmente já está apegado a outra coisa.
     Todos os dias, apegar e desapegar, repetitivo, contínuo, “eterno".
     Eu me apeguei. Eu tento desapegar. Eu desapegarei, quiçá, se perseverar!
     Neste movimento incessante, o interessante é desapegar sem deixar de amar.

34 - O Vôo

Ontem, o dia estava perfeito para voar
céu azul, claro, luminoso!
Convidativo, seguro.
E o jovem voou para terras
bem distantes do ninho!
Um vôo ousado e longo
sozinho, forte!
Movido pela ânsia,
urgência e determinação
dos jovens
em todas as espécies.
Ânsia de fazer, descobrir, viver!
O mundo, as distâncias,
idiomas e culturas diferentes
se aproximam, apequenam,
encurtam neste interesse,
neste processar, absorver e
sorver com inteligência e alegria
as informações, as possibilidades,
os desafios, as oportunidades,
aqui e ali e lá...
O limite parece que está
só dentro, no medo, que,
de quando em quando, invejoso
faz balançar, tremer
mas não o suficiente para
“arredar o pé”, desistir.
E o céu, para estes vôos
de liberdade e conhecimento
não oferece resistência
e o sol ilumina
e aquece o viajar!
Em algumas alturas
o vôo é solitário e será
preciso estabelecer pontes,
laços de amizade
com a solitude, porque
às vezes será a
única companheira!
O bom disto é que ela
é ótimo guia e professor!
Foi isto que a gaivota Fernão
(assim como todos nós, um dia)
aprendeu e também ensinou.
Foi um belo vôo!
Agora, é continuar
exercitando as asas.

33 - Avatar

         Vi o filme. Gostei muito e penso em ver outra vez para prestar atenção em outras coisas, detalhes; uma vez que fiquei muito atenta aos personagens, ao ambiente físico, que é deslumbrante! - e ao enredo! Um cenário diferente mostrando a sempre atual luta (que está aí desde os primórdios) motivada pelos diferentes interesses em relação a  um mesmo objeto. Como para  a maioria das pessoas, em mim mobilizou o deslumbramento diante da beleza do ambiente e do modo de viver daqueles seres e, profunda indignação contra os exploradores sem escrúpulos. Percebe-se como é fácil tomar partido, indignar-se contra ações egoístas, gananciosas, injustas... dos outros! Por outro lado, como se sabe, tudo isto está dentro da gente, em maior ou menor escala e interesse e, o difícil, com certeza, é não ser este egoísta, ganancioso e injusto; que muitas vezes somos sem perceber ou admitir, em contextos menores, no nosso real “dia após dia”. Mais difícil ainda penso que seja respeitar, ouvir o diferente e cuidar da nossa própria vida. Fiquei cativada por aquelas criaturas de 3 metros, belas, sensíveis e fortes (uma parte de nós mesmos, aquela capaz de discernir, agir com bom senso, interagir com respeito, afeto e sabedoria); (re)pensando nestas e em muitas outras coisas... então, recebi de presente a foto que compartilho, mostrando os belos "avatares" dos meus “filhotes”. Que docinhos e lindinhos, assim, azuis e com estas orelhinhas e narigões nesta brincadeira!!!!





32 - Lá dos "pagos"....

          Não foi sempre assim, mesmo sendo gaúcha; porém, já há algum tempo, favorecida pelo contexto, aprendi a ouvir e gostar e, mais, apreciar com deleite; melodias tradicionalistas e nativistas (elas têm suas diferenças, que ficam para quem se ocupa disto)! Belas poesias! Lindos jeitos, fundos jeitos de interpretar e traduzir o movimento da vida. Mergulhar na essência de algumas delas é deixar emergir, dentro, a alma rebelde, errante, apaixonada dos homens dos pampas; amantes da natureza, das grandes causas, da liberdade de pensar, sentir e interagir! Partilho, não as melodias na íntegra (quem ouvir, vai gostar), mas alguns versos das mesmas, que adoro ler, ouvir, pensar neles... belas construções de palavras numa linguagem peculiar, envolvendo sentimentos, imagens, que evocam a interação amorosa e intensa entre o homem e o seu contexto; a profunda consciência de ser solitário numa solidão preenchida por tudo aquilo que está ao seu redor e que ele valora.

“Meus desassossegos sentam na varanda,
pra matear saudade nesta solidão,
cada por de sol, dói feito uma brasa,
queimando lembranças, no meu coração”.
(João Chagas Leite)

“A primeira vez que eu vi você,
senti no teu olhar a luz do entardecer,
aprendi sonhar antes de adormecer,
e a vida foi chegando de uma vez...”
(Elton Saldanha)


“Atirei as boleadeiras
contra a noite que surgia
noite adentro entre as estrelas
se tornaram Três Marias”
(Luiz Coronel E Airton Pimentel)


“Me orgulho em ser serrano
pisador de geada fria
domador de ventania
para-peito pro Minuano”
(Serranos cantam)


“Quando as almas perdidas se encontram
machucadas pelo desprazer
um aceno, um riso apenas
dá vontade da gente viver
são os velhos mistérios da vida
rebenqueados pelo dia a dia
já cansados de tanta tristeza
vão em busca de nova alegria”.
(Serranos)


“Poncho molhado olhar na tropa e no horizonte
vai o tropeiro devagar estrada afora
a chuva encharca que está chovendo desde anteontem
dói dentro d'alma essa demora
Irmão do gado ele se sente nessa hora
e o seu destino também vai nesse reponte
igual a tropa nesse tranco estrada afora
sempre encharcado de horizontes”
(José Hilario e Ewerton Ferreira)


“Cantamos que a vida passa
como chuva de verão”.
(Noel Guarany)













31 - Então...

Mudanças batem à porta
querem adentrar, arejar
afoitas, não percebem
estão sem asas,
sem pernas, sem mãos...
Urge forjar!
Como não sabem disto
debatem-se em
tentativas desordenadas...
É pena. Vai demorar.




30 - Os que se importam

          Os que se importam estão em todos os lugares. São muitos... mas falo destes que têm interesse “pelo outro” e não “no outro”: pessoas, animais ou causas ambientais. Têm algo “a mais” no seu fazer, uns no olhar, outros no sentir, outros no tocar, no falar, no ouvir, no pensar e, todos com certeza, na sua qualidade de ser! No ano que passou, com um grupo de alunos, buscamos aprofundar o conhecimento sobre alguns destes: Martim Luther King, Madre Tereza de Calcutá, Betinho, Mahatma Gandhi, Song Kosal, especiais no seu importar-se pela paz, pela justiça social. Nestes últimos dias tenho ouvido e recebido muitas coisas sobre o importar-se e o grande bem fazer social da Zilda Arns. Todos figuras públicas, conhecidas e com certeza inspiradores de muitos outros, que anonimamente, todos os dias importam-se aqui e ali no planeta. Estes, encontramos na família, no trabalho, nos grupos, nos consultórios...Temos notícias deles atuando com prazer e gratuidade nos asilos, orfanatos, presídios, hospitais, igrejas, associações, no campo, em áreas de conflitos; junto a desabrigados... por estes dias, ocorreu assistir mais uma vez o filme “A corrente do Bem”. Gosto da temática. Desta vez surgiu-me duas questões. Primeiro, as pessoas “do bem” (verdadeiras ou fictícias) quando morrem e muitas morrem neste ofício de importar-se, provocam grande impacto e, se não o foram em vida, são então reconhecidas neste seu generoso fazer. A perda dói e não é só porque não estão mais por aqui; mas também porque eles, no seu importar-se, sustentam não só com palavras bonitas, mas com ação, o quanto é possível fazer coisas que a maioria de nós acha que não é. De alguma forma, mostram que as utopias, os sonhos, de repente, podem sair dos papéis, das cabeças e se concretizarem. E isto encoraja e conforta: saber que alguém se importa. A outra questão é que o menino, personagem do filme, num dado momento, expressa tristemente, algo assim: “as pessoas até que se importam, mas quando as coisas não acontecem como planejaram ou se tornam difíceis, elas desistem...”. Este “desistir” é assustador mesmo! Enquanto a gente tenta de todas as maneiras, a possibilidade permanece. Desistir é aceitar que algo é irremediável, impossível. Isto é a morte. Os que se importam não desistem porque eles acreditam na boa qualidade e importância das sementes que lançam. E mais, eles acreditam que aquele “solo” que recebe a semente é bom e tem condições para acolher e fazê-la germinar; mesmo que aparente o contrário, que ninguém acredite ou que demore. Por isto, os que se importam se entregam e sorriem. Sabem o que fazem e esta é sua satisfação íntima! O que muitos não entendem, porque não se importam.

29 - O curso do rio


Não apresse o curso do rio”...
É sábio e inteligente
porque o “rio” segue tranqüilo
conduzindo suas águas
cantarolantes e transparentes,
acariciando suas pedras singulares,
cheias de histórias,
de vida, de significantes.
Lá adiante, num ponto,
ele alarga e imitando uma cachoeira,
despenca lá embaixo
onde as águas se recompõem
depois da queda,
em pequenos filetes
que se espalham em várias direções,
até se perder numa curva misteriosa!
Mais um pouco e reaparece!
Com troncos displicentemente
acomodados no seu leito,
cobertos por verdes
e plantas singulares...
Como pode?!
Tanta diversidade!
E flores, e verdes, detalhes
e formações, contornos
e pedrinhas de infinitas formas...
a ponto dos olhos
não darem conta de tudo!
E ainda, de repente,
um contorno inesperado,
uma entrada, um lugarzinho
separado, escondido, ..
uma parede de pedra,
um canto cavado na rocha;
quentinho, seguro, acolhedor
um ninho de amor!
Se houver paciência
para apreciar
é possível enriquecer com
os detalhes do percurso.

28 - De manhãzinha...



     Como  são  belos 
  os  primeiros  verdes
  da  manhã!

27 - Poesia é curativa















Esta espécie de borboleta chama-se Erato Heliconian.
Lindas como a flor, a Helicônia!
Inspiradoras como Érato, a musa da poesia!

A poesia
regenera!
É de utilidade pública!
Não somente esta
dos poetas que amamos
e que está nos livros.
Mas esta que todos
somos capazes de ver
e criar com o nosso olhar
e o nosso fazer;
quando nossos
sentimentos liberados,
encontram
partilham e se importam,
com as coisas
simples e bonitas
que alimentam,
produzem
encontro e calor,
e resgatam,
de dentro da dor,
do desconforto,
da desconfiança,
dos escombros
da desesperança:
a alegria,
o desejo de viver
e valor!








26 - Mudanças

          O dentista considerou que seria importante fazer um alinhamento na altura dos dentes e recomendou uma pequena cirurgia, que foi realizada por estes dias. Acomodada na cadeira, por trás de grandes óculos e daqueles aparatos cirúrgicos que só deixavam à mostra a sua boca, ela fechou os olhos para fugir daquela luz forte focada no seu rosto e para afugentar alguns receios, que de repente, vieram e somente naquele momento. Foi bem assistida, o procedimento ocorreu como esperado, tranqüilo e agora se recupera... No entanto, ocorreu algo paralelo durante o processo. De surpresa, apareceu um grande sentimento de desamparo e de questionamento; por que estava fazendo aquilo? Em nome do quê submetia-se a estes momentos de desconforto, dor, invasão ao seu corpo? Para ficar melhor! Esta resposta vinha a todo instante. E melhor em que e para quê? Para sentir-se melhor diante de si mesma e dos outros... Na verdade, estes questionamentos apenas abriram as portas para algo mais fundo. Estava fazendo algo concreto, decisivo e corajoso em benefício de si mesma, querendo melhorar! E como corredeiras de águas cristalinas e gritantes as lembranças vieram, atualizando todas as coisas e momentos em que teve o desejo e a necessidade de mudar e não a coragem para agir! Paralisada pelo medo do novo e de magoar; pela covardia, pelos valores, pelos preconceitos e conceitos endurecidos; pela insegurança e até mesmo pela preguiça e acomodação. Decidir, enfrentar e ir, fazer! Mudar o destino, a rotina, o cabelo, um defeito, um vício, uma debilidade, um sentimento, uma decisão, uma regra, uma norma. Quebrar a mecanicidade, a mesmice; as coisas prontas, as frases feitas, os modelos, os rótulos... vínculos doentios! Isto dói! E não tem anestesia. E não tem a garantia de que vai dar certo. É sempre um salto no escuro. Sempre haverá uma dor; coisas sendo estraçalhadas dentro da gente e dentro dos outros, uma morte. Leva tempo.... e deixa cicatrizes. Por isto é difícil mudar; é como nascer de novo. E então, sentada na cadeira do dentista, ela chorou! (alguém já disse algo semelhante!) O tipo de choro curativo, quando a gente mesmo cuida, afaga os machucados por tudo aquilo que não tem remédio; quando se encontra, perdoa e reconcilia com o próprio coração, com a alma, com a verdade dentro da gente; renovando o pacto de parceria para novas tentativas, olho brilhando.











25 - Finitude?

A finitude
se mostra cruamente.
O que escolher?
A insignificância ou
a supervaloração de tudo?
O tempo é curto....
... e já é o fim!
E tudo se acaba...
coisas mal resolvidas,
não experimentadas,
não concluídas,
recém conquistadas....
Tudo se acaba
soterrado por este
duro real...
Isto é o que repetem,
repetem e repetem
incessantemente
as tragédias,
agora cotidianas.
O que escolher?
A razão ou
aquela outra parte, doce?
Doce não pode,
faz mal. Faz?
Há tanta dor
ao redor e dentro...
e perto e longe...
Quem vai cuidar
destas feridas?
Quem vai cuidar de
todos nós,
crianças impotentes e imaturas
diante do tempo,
da dor, das perdas
e até mesmo da
grandeza dos nossos sonhos?
De repente...
dentro do trânsito congestionado
respirando a impaciência,
a má educação e egoísmo
do contexto...bem ali...
ao lado do choro e do lamento
eu vi um gari
regando com paciência
e amorosa atenção,
um canteiro de flores!
E cada uma desabrochando!
Cheias de encanto
e infinitude! Obrigada!!!!

24 - Voar

O vôo da máquina
é perfeito,
mas o vôo da ave
é belo!
A máquina voa tensa
presa aos comandos;
o pássaro voa leve,
no comando
da sua vontade.
A rota é o seu desejo;
da máquina,
o desejo dos outros.

Já o vôo do pensamento
e do sentimento é pleno!
Obstáculos?
Só o que eles criam.
Pensar é estar,
sentir é ver, tocar, ouvir.
Adentram as montanhas,
o fogo, a água, o espaços,
os objetos, distâncias e
um outro olhar
e investigam e
por vezes pousam
e ali ficam
sonhando seus sonhos
edificando realidades.

23 - O amor viaja

“Gulizes”!
Não fica triste
além do olho embaçado,
do coração apertado
e da voz contida!
Olha... quando o amor viaja
dói, mas, ele volta!
Não está indo embora!
Só vai passear
um pouquinho,
tomar um ar!
Conhecer
crescer
amadurecer
na saudade e
na distância!
E acredite,
o novo,
os desafios,
vão aprofundar
o sentimento!
Respira! Abraça!
Abençoa! Encoraja!
Uma parte dela fica,
uma parte tua vai
porque o coração
é feito elástico
espicha de amor
quanto precisa
quando quer
quando precisa
e cuida do tempo
para que ande com
cuidado e no ritmo dele.
No dia do reencontro,
lá na frente,
que delícia! Terão muitas
“malas” de contentamento,
“mochilas” de vivências,
“sacolas” de abraços
“maletas” de beijos!
Êxtase! Exuberância!
Experiência! E
todo o futuro para
ser sonhado! Junto!
Vislumbra?
Agora é só um intervalo
de passagem definitiva
para o mundo adulto.
Tempo bonito,
abre os braços e
acolhe!

22 - Aniversário

          Gosto de aniversários, do meu e dos outros!

          A etimologia (do grego “étmus”: real, verdadeiro + “logos”: estudo, descrição ou seja, a “verdade da palavra”) – que lindo! – fala que a palavra aniversário vem do latim “anniversarius”, que significa “aquilo que retorna anualmente” (“annus”: ano + “versus”: volta). E, que a palavra que costumamos usar tradicionalmente: parabéns, formou-se do “para” (preposição) + “bem” (substantivo), “para o bem de alguém”. Simples e bonito! Parece que resgatar o significado original, resgata, também o sentido e o valor daquilo que se torna repetitivo, mecânico, banal, com o tempo. Na verdade, isto acontece com tudo e, de repente, nada mais tem graça se a gente não retoma, não cuida, não anima, coloca “alma”.
           Hoje, dia 13,  é dia de aniversário de muitas pessoas. Conheço uma, em especial, do meu convívio cotidiano: um tipo silencioso e laborioso no seu fazer. O seu pensamento é focado naquilo que constata como uma necessidade (é provedor) e dentro disto, este pensamento passeia, se organiza, planeja, estrutura e suas mãos vão produzindo, numa sintonia amorosa com a idéia. Não sonha um sonho separado e depois vai tentar colocar em prática. É junto. Aquilo que está sendo gestado no imaginário vai sendo concomitantemente gestado no concreto e isto, muitas vezes atropela e assusta; mas não vê e mesmo que veja não se ocupa disto, porque o importante é fazer, dar conta das demandas e, neste fazer, é generoso e protetor, porque pensa no coletivo e no final do processo, nos benefícios da obra concluída. Não se ocupa com os detalhes, embora visualize e tenha seu ideal de beleza; que geralmente atrita com o olhar do artista, dos críticos e dos outros, que dispensa e não consulta. Por isto, em alguns momento é sozinho no seu sonho, no seu fazer e por vezes, banalizado. Mesmo assim, faz e faz e faz e todos os dias o mundo, desde o seu despertar, avançou por causa de pessoas assim, destemidas, fortes na sua vontade, com os pés no chão; que encaram os desafios, que estão com o olhar sempre presente e antecipado para as coisas práticas, de primeira necessidade, de sobrevivência; sem preguiça e hora marcada; movimentando, inquietando os outros, nem sempre positivamente, mas sempre estimulando respostas. É bonito ver, compreender o que o move e como se articula e trabalha! Bonito ver como o seu trabalho é útil e inestimável; especialmente quando  junto com o dos outros, que agregam (ao que iniciou ou planejou) suas habilidades de paciência, crítica, persuasão, sensibilidade, técnica, estética, sutiliza, leveza, diálogo, etc.  A etimologia confirma isto dizendo que seu  nome significa “protetor inestimável”.  A astrologia também tem muitas coisas a dizer sobre isto. Bonito aprendizado a gente faz observando estas singualaridades, enriquecendo o olhar e a visão...  PARA ELE, TODO BEM! E a todos que  neste ano já deram ou darão mais uma volta retornando ao dia do seu nascimento para celebrar mais um ano de VIDA, tentando ser melhor, fazendo o seu melhor.

21 - Queridos, amigos!

 
 Há muitos anos atrás, li, num jornal, um anúncio pitoresco: um vidente, em estado grave, terminal, estava selecionando um substituto, alguém a quem “passaria o seu dom”. Para candidatar-se, haviam alguns requisitos e, um deles era que a pessoa pudesse enumerar e rapidamente, cinco amigos, amigos de fato. Deixando de lado o anúncio, pensei sério e, surpresa, constatei, no momento, muito exigente, que eu não tinha cinco amigos, de fato, se quisesse listar. De quando em quando, com o passar dos anos, lembrei disto. O tempo me deu bons amigos, queridos amigos! Alguns de momento, outros que permanecem, perto ou somente no coração. Perfeitos amigos, aprendo, só no imaginário. Alguns são presentes que ganhamos, chegam e ocupam espaço nas vidas e corações da gente, sem força, suaves! Outros, temos que conquistar, cultivar, cuidar. Amigos são pessoas como eu, com limite, com falhas, com faltas, com medos, inseguranças; com ciúmes e com grande desejo de ser um bom amigo! Assim eles são. Diferentes, muitas vezes como quente e frio. Caminham com a gente, como podem, quando é possível, quando é necessário, quando é doloroso, quando é prazeroso ou por outra coisa qualquer, independentemente ou apesar do que somos ou fazemos. Lembrar do amigo já é estar perto, sentir-se acolhido e em casa e, quando perto de verdade, então... gostoso um abraço! Abrir as portas e as janelas; andar pelas ruas do vivido, confortando, ouvindo, juntando pedaços, animando, festejando! Se pensam diferente, é bom; certos os puxões de orelha, as críticas; cada um pode fortalecer naquilo que é e pode aprender, se quiser. O respeito é essencial. Se pensam de forma parecida, é bom! Não precisa falar muito. E não é só uma outra pessoa, é também um sentimento de não estar só, de pertencer, estar conectado a algo... por vezes, pode ter a forma de um animalzinho, uma planta e, surpreendentemente, muitas vezes se descobre o amigo dentro da gente! A gente amigo da gente mesmo! E é tão bom abraçar este que somos!

20 - Érato, a Amável


















Érato, musa da poesia e da música

O tempo
de um momento
por vezes
é insuficiente
para o crescimento,
confunde,
ilusiona
o pensamento.
O tempo
de vários momentos
amadurece,
fortalece e
aprofunda
o sentimento.

19 - Helicônia



A Helicônia me captura há tempos. Eu não sabia que era este o seu nome. Eu a nominava de “bananinha do mato”. Não sabia nada sobre ela, nem que sua família é imensa! Fui descobrindo aos poucos, um amigo falou algo aqui, outro ali... e aprofundei pesquisando. Muitos adjetivos cabem a ela, que, de fato, é bela! Quanto mais se olha, mais encanta! É perfeita e tranqüila, tanto na simplicidade, escondida no mato; quanto destacada no jardim; enfeitando a casa ou um lugar sagrado, um altar. Eu também não sabia que este nome “Helicônia” foi dado por um cientista, Lineu, em 1771, em homenagem ao Monte Helicon, na Grécia, local onde, segundo a mitologia, residiam Apolo e suas musas. Eu gosto da Helicônia, gosto da mitologia e gostei imensamente de saber desta sua relação com musas, inspiração, criação. Diz-se que “musas” são criaturas reais ou imaginárias que inspiram a criação artística e científica e que na Grécia, eram nove estas criaturas mitológicas, todas filhas de Zeus e Mnemosine. E, que o correspondente masculino seria o “fauno”, mas que na verdade, este ser não tem a mesma capacidade inspiradora na mitologia. Eu também não sabia disto, mas considerava que devia existir o masculino para "musa";  um dia ouvi alguém sugerir "muso" e passei a usar. Diz-se, também, que o templo das “musas” era o Museion, que originou a palavra “museu”, exatamente um local onde se cultiva e preserva arte e ciência. Cativou-me, entre as nove musas, Érato, a Amável, musa da poesia lírica e dos hinos. A beleza destas descobertas envolvendo a Helicônia está, além de motivar a contemplação e inspirar sentimentos e ações; nisto de perceber as relações que existem entre coisas que são importantes para mim. Isto acontece com todo mundo, num primeiro momento não temos consciência do porquê umas coisas nos atraem mais do que outras; porque isto ou aquilo; mas com o tempo, vamos descobrindo os enlaces e isto, eu acho, é bonito e produz sossego.

18 - Depois da chuva

Depois da chuva intensa,
depois ainda daquela quietude
que sucede a tempestade,
quando a natureza
respira fundo e lentamente,
quietinha...quietinha....
num silêncio solene;
as cigarras começaram
a zumbir fortemente!
Borboletas mais afoitas,
borboletear graciosas!
Um gato... dois gatos
despertar do sono...
Passarinhos circular,
articulando cantorias e brincadeiras.
Um deles pousou, suavemente,
nos galhos do jovem flamboayant
que, surpreendido,
balançou desequilibradamente.
Ah! Que susto!
O passarinho que não sabia, ainda,
pousar e nem da fragilidade
daqueles galinhos, quase caiu!
Mas não caiu!
O flamboayant, generoso,
ofertou uma “carreirinha” inteira
de gotinhas de água
que retivera da chuva!
O passarinho bebeu e, saciado,
decolou, cantarolando por aí!
O jovem flamboayant permaneceu
entregue à brisa,
que chegou de súbito,
aproximando e animando a conversa
entre os verdes e as criaturas do jardim.

17 - Pequeno mundo



A vida no lago....
Um mundo dentro do nosso mundo
e cada mundo, ali dentro,
pequeno mundo
com a vida se produzindo
e reproduzindo no seu ritmo,
sons e coloridos...
Vários tempos...
O tempo da metamorfose dos sapos e
o tempo de espera pelos sapos martelos
que vêm comandar a sinfonia da sapaiada
entre 19 e 23 horas.
O tempo do Martim Pescador
paciencioso que “desliza” sutilmente
pelas folhas das lótus
articulando a melhor tática
a espera do melhor peixe.
O tempo de espera pelas flores de lótus,
que hibernam no inverno e
ressurgem na primavera;
se abrem apaixonadas e belas
para a noite e seus mistérios
e se fecham, sensíveis, à luz do dia.
O tempo do inverno,
quando os movimentos,
as cores e os sons se recolhem
e o silêncio, nas águas espelhadas,
reflete e faz refletir;
o tempo da primavera,
quando tudo borbulha,
se enfeita e se mostra
faceiro, encantador, dativo!
O tempo em que os peixes
mergulham e viajam para o interior
investigando as profundezas
e o tempo em que retornam
e passeiam seus tamanhos
e formas na superfície,
num exibicionismo evidente!
Os tempos em que
nos esquecemos dele
robotizados no nosso ir e vir
e os tempos em o redescobrimos!
Por vezes, pelos olhos dos outros
por vezes, pelo nosso olhar,
que acorda e se deslumbra!







16 - "SALIGNOS"...

         Um dia, Mitão, diante de algumas críticas sobre o churrasco, defendeu-se: “não tenho nada com isto, porque eu não sou saligno!...”. Nossa! Eu achei isto o máximo, porque saiu tão espontâneo e cabível no contexto, como nenhuma outra palavra! Fiquei repetindo e rindo por um bom tempo, até que não achei mais graça e pensei sério nesta expressão casual. Os “salignos” põem sal nas coisas todas. Às vezes, demais. E uma comida, uma fala que tinha tudo para ser uma delícia ou importante no momento, estraga e faz mal; dificilmente tem conserto. Mas são os salignos que temperam e dão sabor a tudo! Que provocam, fazem demandas, desafiam, exigem respostas! Isto é bíblico. Sem eles, as coisas ficam insípidas e eles parecem ser mais resolvidos e felizes. Doce, sempre doce, enjoa, fica pegajoso, não estimula e acomoda, eu descubro. Eu quero muito aprender com os salignos! Muitas vezes tive medo de alguns deles, assim como as pererecas e sapos, que segundo o “mito” temem o sal, porque podem “derreter, morrer”. Não testei o mito, mas fui aprendendo que saligno não é maligno. Que é preciso ser saligno, para não ser “sem sal”, ou seja, amorfo, entediante, aquele que “não fede e não cheira”, que fica “atrás do muro” e, por isto mesmo, não faz diferença e não importa. Por outro lado, ser saligno implica em aprendizado, para não sair e não perder “o ponto”, Mitão que o diga! Eu também!










15 - A fronha

A fronha
era bonita
e cativou a moça,
na loja.
Gostou tanto dela
que quando o
namorado pediu
uma fronha sua,
um tempo depois,
preparou- a com carinho,
junto com o seu travesseiro,
para presenteá-lo,
imaginando, claro,
que os sonhos dele
seriam com ela!
Estas coisas
de quase nada
arrebatam e
fazem o coração
borbulhar
enfrentar e vencer
o mundo!
Flores e fronhas cheirosas...
Chaveirinhos para guardar
preciosidades!
Uma mão que se estende,
acolhe, respeita e confia!
Bilhetes, uma palavra doce,
um elogio,
um reconhecimento sincero!
Um ombro que ampara,
partilha o silêncio...
Um beijo na mão
e o olho dentro do olho,
cúmplice!
Um chamado para dançar
e ser feliz
nos momentos
mais inusitados!
Não tem idade,
não tem hora,
não tem motivo
para se saber
querido, amado
por alguém.

14 - BELOS E EM TODOS OS LUGARES!

     Num cantinho, apertadinho entre o cimento, quase imperceptível na ampla calçada, um pequenino trevo se lançava na luta pela sobrevivência, resistindo às vassouradas, ao calor intenso entre as pedras, à falta de água e a solidão! Isto trouxe à memória a história linda, que eu soube, de um Ipê, lá de Porto Velho, Rondônia. Ele resistiu e resolveu não morrer, brotando e florescendo mesmo depois de ter sido transformado em “poste” para sustentar os fios de energia elétrica! Eu me deparo com isto e preciso muitas vezes retomar e ver de novo, cativada pelo ensinamento fundo... que, me reporta ao trabalho, quando contato, no cotidiano, com a fibra e desejo de viver daqueles que têm dificuldade ou não conseguem andar, falar, movimentar-se com autonomia, alimentar-se, fazer sua higiene... me encanto e me humanizo com sua luta, sua energia, seu desejo e sua alegria por todo e qualquer avanço, valorando e aproveitando tudo, absolutamente tudo que a vida oferece e eles acolhem, de momento a momento... e, não tem como não lembrar de tantas histórias, de gente de perto e de longe e de suas perdas dolorosas, tentando continuar.... Todos eles, incluindo o trevinho e o Ipê, sem fazer alardes, exibições; no seu esforço e nas suas conquistas grandiosas me remetem a um mergulho fundo dentro de mim, resgatando dali, "a cor, o sabor e o prazer de ser, fazer, aprender e viver", como diz um poeta e educador que adoro!


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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