Encontro


De manhãzinha,
a gata e a galinha
no repetido
e repetitivo
encontro matinal,
partilham sonhos...
Os noturnos
e os de quintal.

Apaixonada pelos encontros! Por estes "toques" que acontecem entre um e outro ser, em todos os cantos e cantinhos deste “universão”... mesmo quando encontros desencontrados! Gosto de observar e de vivê-los. Lamento o limite de tempo, de palavras e de  talento para  atualizá-los e traduzí-los.
        Brigite e Lina. Duas sobreviventes. Duas guerreiras! Brigite, a galinha, sobreviveu a inúmeros e violentos ataques noturnos dos gambás, coisa que suas irmãs, infelizmente não lograram. Lina, a gata, sobreviveu ao abandono e a uma noite aterrorizante, quando ficou encurralada, por cachorros e outros bichos, num cano estreito de PVC, na rua. Quando conseguimos retirá-la de lá, achamos que tivesse enlouquecido, tamanha agressividade e pavor diante de qualquer tentativa de aproximação. Meses se passaram até que ela saísse de dentro de uma caixa, onde a colocamos para cuidar e amparar; até que confiasse no espaço, em nós e o afeto pudesse ser instaurado e os sonhos, sonhados!!!
Minha decifradora de sonhos preferida, Maria Margot, segredou-me que tanto a gata, quanto a galinha, têm sonhos!!! -  "Têm sim, vovó!" O da galinha Brigite, é entrar dentro de casa. O da gatinha Lina, é ter um filhote. Depois que soube disto, passei a observar com maior atenção a galinha e a gata. Se a decifradora estiver certa, Brigite tem grandes chances de realizar o seu, brevemente. A Lina nunca poderá gerar um filhote; foi castrada. No entanto, do jeito que as pessoas descartam animais nesta região onde moramos, é provável que um dia destes ela escolha adotar um dos tantos filhotinhos por aí largados.
Acompanho que nos seus encontros, as duas não competem, nem com lamúrias e nem com feitos. Elas partilham espaço, relaxamento, olhares e um silêncio tranquilo, respeitoso. Um silêncio de subentendidos, sintonias e singularidades. Não competem, partilham! O afeto instaurado assim; cresce, fortalece!!!! Encontro é assim! A gente se reconhece e se encontra no outro, em algum significante. Isto é tudo. Numa fração de segundo, no encontro, sabemos se podemos contar com o outro. Muitas vezes, saber disto, é só o que precisamos.

  Sim! Encontro é assim! Esta coisa boa de estar junto; onde, como e do jeito que for ou puder ser! Pode ter estardalhaço, riso, brincadeira, altos papos, confidências... Mas parece que quando a  gente sutiliza um pouco; com silêncio preenchido, com outras escutas e outras formas de expressão; o olhar, o afeto, a palavra e o respeito aprofundam e a alegria resultante disto é mais consistente. 


Significantes




Na areia,
traços,
passos
e pesos...
a onda vem
e apaga!
O que estava ali
deixa de existir.
Simples assim!
Nos dias,
ondas também vêm
e sempre levam algo.
Mas deixam marcas.
O que estava ali,
não vai embora
tão de repente...
Duro assim!
Quem viveu
é que sabe
a intensidade,
a importância do momento
que um momento seguinte
levou...




Nublado


Nublado,
intervalo entre a chuva e o sol.
Silêncio nas ruas
tudo devagar...
Vazios nas calçadas,
praia, ruas, bares, lojas.
Todos em cortejo nostálgico,
olhos baixos, passo apertado.
É  tempo dos pombos nas ruas
e das gaivotas na praia.
Atravessam as calçadas,
xereteiam as areias
à vontade,
sem temor.
Audaciosos no seu tranquinho...


Rodopia


Rodopia,
Maria!
Tua saia,
teu sorriso
tua graça!
Rodopia
esta alegria
do movimento
da leveza
do encanto.
Rodopia!
Que nosso riso escapa,
a gente vira criança
e o sonho acorda,
vem brincar;
o corpo balança,
o coração
palpita!
Rodopia,
Maria!
Ah! Um rodopio
e lá se vai a tristeza!
Outro, e lá
vai a desesperança!
Rodopia,
Maria!
Cada rodopio
deixa a vida 
mais bonita!
                                                                                                                                                                                                   

Como uma luva

A cada  respiração
o mar enche a praia
de sussurros,
palavras,
sons que cabem,
exatos,
no meu instante,
como uma luva!
Eu visto
e está tudo certo.
Redondo. Presente.
Sem pretérito
e sem futuro.

Ah...

Conversa na janela



De vez em quando
eles pousam
em nossa janela
e então nos curiosamos,
sem medo.
Conversa na janela,
conversa pouca,
enquanto asas se recompõem,
sobre horizontes de dentro
e horizontes de fora;
sobre o preço alto dos voos,
e a comodidade da rotina,
tão mais em conta.
Cada visita
um convite.
Hoje eu disse:
- Ficando um pouco mais leve,
para não dar trabalho,
vou junto, passarinho!
E comecei uma dieta;
priorizando doçuras.





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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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