Lógica infantil





       
       

        A lógica infantil é comovente!

- “Vovó! Quando você era pequena, as cores não existiam”?

- Por que você pergunta isto, querida?

- “É porque eu vi umas fotos tuas e elas não eram coloridas, só tinha o preto e o branco”. As outras cores não existiam, vovó”?

       Quase não suportei a emoção!

       - “E você tinha televisão, vovó? E celular? E computador”? E escova de dentes? E você ia na escola? Ia no shopping? Você assitia filminho com o seu dindo? Você falava palavrão, vovó?

       Curiosidade aflorada, o “rosário” de perguntas da pequena, de cinco anos, sempre vai longe, nos nossos encontros!  Assim como as hipóteses mirabolantes a respeito de como são, como foram criados, isto e aquilo....Vejo que gradativamente aumenta sua observação e leitura de mundo e, consequentemente sua percepção acerca das diferenças entre realidade, mundos, objetos, pessoas, jeitos de agir\reagir, pensar, falar... O olhar de uma criança não é superficial.

       Tento me colocar no lugar dela... Como isto é profundo e intenso para uma criança! Qualquer criança.  E como estas percepções\observações são exigentes de nossa maturidade (adultos); tanto para ouvir, respeitar, cuidar; como para orientar; não impor (pre) conceitos, "verdades prontas", ranços e, sim, para estimular pensamento, investigação, descoberta, reflexão... 

       Acompanhar isto, bom demais! Encantador! Poderia dizer que isto  também é tarefa difícil demais; mas a palavra difícil é limitadora, desencantada, fraca. Então escolho a palavra “sério” demais. Sério significa não banalizar, não subestimar, não  infantilizar, não assustar; mas proteger, ter responsabilidade, cuidar. Só que sério não é sinônimo de “sisudo”! Então a gente pode brincar, rir, ser feliz, admirar e se emocionar com estas perguntas espontâneas, inteligentes e cheias de lógica que as crianças nos fazem! Elas nos ajudam a sensibilizar, refinar pensamentos, sentimentos, atitudes e ter força, desejo e coragem de “ser” melhor. 


      

Brisa



Ah! Brisa...
na tarde mormacenta...
Carícia preguiçosa...
Ah! Sopra! Sopra devagarinho,
um benquerer...
sossega a saudade!
Agita este frescor!
Embala sonhos e nuvens,
acena com
o que não vejo, intuo.
Suspira, sob
 véus misteriosos,
os mais fundos sentimentos,
o mais superficial dos pensamentos...
Mistura, neste ir e vir,
paixão, lamento,
razão, ternura e
alento... ah! Que bom!
E sem tempo!
Ah... brisa deliciosa
na tarde mormacenta...
entrando e saindo
pela janela aberta
sem cuidado
e  sem compromisso...
Acarinhando levezas;
gestando turbilhões,
fora e dentro...

Fadiga






Cansei das asperezas,
dos espinhos,
das agulhadas.
Desejo o frescor da brisa da manhã,
e a suavidade do voo das borboletas!
Cansei da pressa dos dias úteis,
da ansiedade e rigidez das horas.
Anseio pela quietude e
sabedoria dos hiatos,
pela trégua entre as diferenças que não se aceitam.
Cansei da animosidade,
das desconfianças,
dos “pitacos”,
das respostas prontas;
da acomodação dos inconsequentes
sugando tolerância, paciência,
iniciativa, esforço, boa vontade
e o fruto do trabalho do outro.
Cansei da ignorância,
do não olhar, não refletir e só seguir...
Anseio  pela leveza de um olho no olho;
pelo pouso e decolagem
tranquila e segura,
no tempo do outro, no espaço do outro!
Cansei da impotência diante da má educação,
da arrogância, da fraqueza,
da hipocrisia, do egoísmo,
da mentira calculada,
da infantilidade boçal
dos que não são crianças.
Anseio pela leveza de um: bom dia!
Um cuidar da sua vida.
E só!
Cansei da verborreia!
dos complementos,
das orientações,
das manipulações
dos que sabem tudo;
dos que se sentem melhores,
donos da verdade.
Anseio pelos improvisos,
pelos inusitados,
pela curiosidade e encanto
dos que não sabem!
Cansei dos desencontros
dos conceitos, dos significados.
Anseio pelas metáforas!
Cansei das palavras certas,
do óbvio,
da mesmice.
Anseio pela espontaneidade
e leveza das entrelinhas!
Pela cantoria dos que desejam
e sonham!
Pela dança suave das palavras não ditas,
inspirando arte,
conhecimento,
generosidade,
e poesia...
Anseio pelos mistérios
das coisas que se tocam,
brilham, aquecem,
criam, se acarinham
e deixam marcas.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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