Vazio


De repente,
o buraco negro.
Tudo esvazia
de forma
sentido
e gosto.
Desenlaçando
os laços,
o corpo
é um fardo;
a alma,
errante.
Não há nada
aqui, ali
e nem dentro.
Um mergulho fundo
no silencioso
caos interno,
adormecimento.
A brisa da manhã
vai produzindo
alento... mas
por quanto tempo?

Alamanda


O sorriso lindo,
doce e exibido
de uma alamanda
amarela...
espontânea
e tão, tão bela;
único e suficiente,
resgata meu olhar!
A vida se “destapa”
e sinto, então
o frescor da manhã
colorida de luz, tons,
cheiros, sons,
convites...
Ah! Torno a desejar!



Este outro...


Bom ser
como se é;
não ser limitado
pela ação do outro:
seu desejo
ou rejeição.
Bom experimentar
espaços, superfícies, roupas,
personagens...
Bom descobrir talentos
e gostos, sabores
que nunca aflorariam
se não houvesse
a possibilidade
de curiosar, ousar!
Sentindo e imaginando,
por pouco que seja,
o que é ser o outro,
a gente respeita melhor.
O sr inseto que o dia, hoje!

Assustamento


Era  só um menino...
Estava com uma
arma na mão
em frente da sua casa,
no portão.
Conversava com outro menino
e com uma menina.
Estufava o peito e ria!
Fazia mesuras,
apontava a arma pra
menina,
pro menino, não.
Ria  e apertava o gatilho.
O que saía, não sei não,
mas a menina mudava de lado,
desconfortável:
- Para com isto! Que chateação!
Ele não parava:
empoderado,
insistente,
ria e apontava a arma
só pra menina,
pro menino, não!
Mas era tudo brincadeira!
A arma era maneira,
só de matar passarinho!
Matar bichinho,
"que é que tem", né?
Era um menino que ria,
uma menina acuada
e outro menino que fingia
que nada de mal, ali havia.
Crianças! Três crianças
reproduzindo com maestria
o mundo, os valores,
atitudes dos adultos:
um exercitando poder;
outra, a submissão
e o outro, a alienação.
Parei e olhei nos olhos deles.
Olhei fundo.
O menino com a arma na mão
não se envergonhou,
sustentou!
Havia um vazio, ali.
A menina baixou a cabeça.
Havia medo.
O outro menino lavou as mãos
e se afastou.
Havia indiferença.
Em seguida,
o grupo dispersou.
Meu coração,
tamanho assustamento,
acelerou, inquietou;
meu pelo, arrepiou!
Lamento tanto,
que dói.


E ela segue... a VIDA!


Ciclos. Fases.
Círculos. Intersecções. Vida.
Cada um com seu tempo,
demandas, desafios.
Num  suspiro
mudou a hora,
um algarismo
e era 2019!
O dia amanheceu
faceiro e interrogativo:
- E aí? O que vai ser?
  O que vai querer?
Nós?  
Acordamos os mesmos!
Mas não iguais.
Naqueles milésimos de segundos
da "virada"
ficamos acrescidos
de desejos,
sacudidos pelo ímpeto visceral
de, mais uma vez,
ser e fazer diferente,
ou igual, ou inusitado...
Mas ser feliz!
Fazer mudanças,
sonhar, experimentar, realizar!
Construir intimidade
com o cotidiano,
lidar com a dor, a perda, os limites;
aproveitar o simples,
valorar o que está sempre ao lado!
Viver a vida!
Viver a vida!
Compreender os enigmas,
as pegadinhas,
os presentes,
os laços,
as faltas e
seus significados.


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog