O meu amado (parodiando)

Parodiando o texto belíssimo,
que adoro, do AT: o  "Cântico dos Cânticos":

Por vezes, a solidão me alcança e toma,
o medo aprisiona e paralisa
o cinza envolve  a luz e a cor...
Mas quando meu amado chega,
fico feliz outra vez!
Às vezes chega só a lembrança
da sua voz, do seu  riso...
e de todo jeito,
tudo se ilumina
apazigua!

Os olhos do meu amado
são profundos e infinitos
eles me olham
de todos os lugares...
estão na brisa
no sol, nas flores,
nas noites, nos pássaros,
nas matas, nos riachos
e no mar!
E quando eu esqueço,
eles me lembram
quem eu sou,
como sou.

Quando eu vejo
a irmãzinha sabiá e seu companheiro,
como cuidam do ninho,
dos seus filhotes,
e um do outro e
como se amam,
eu lembro do meu amado!

O meu amado
conhece as estrelas e as plantas
a magia das cores e dos sons
o poder das palavras
a arte de combiná-las
e tocar meu coração!

O meu amado é belo!
Suave como a carícia da brisa
numa tarde de sol quente e
doce como o mais doce mel; aqui, ali!
Bravo e ruidoso como uma
cachoeira em época de cheia; lá, acolá!

Quando meu amado
ou sua energia me envolve
eu me sinto não só inteira e
una com ele,
Mas inteira e una
com todas as criaturas!

Como um arco-íris
cheio de tesouros e delícias,
assim é o meu amado!

Mesclas

O contato com o real
pode ser
tão duro, tão forte,
por vezes sufocante;
tão chocante (!)
a ponto de, momentaneamente,
desestruturar, paralisar; mas só ele
oportuniza mudanças subjetivas
necessárias para crescer, de fato
e, destruir, desmistificar
os fantasmas
que nos assombram
os sonhos, o imaginário...
e impedem a fluidez.



Nossos olhos não falam bobagens,
nem hipocrisias,
nem verdades estabelecidas.
Falam a nossa verdade!

Fênix

Interessante observar a fênix (interna) em cinzas e, aos poucos vê-la reconstituir-se com pequenos significantes, que poderiam parecer insignificâncias.... o dia amanhecendo, cedinho... nuvens vestindo cor-de-rosa, dançarinas no céu, adivinhando chuva e, depois, a chuva! Gotinhas se acumulando no parabrisa até se unirem e, juntas, feito montanha russa, escorregar pelo vidro e desaparecer numa “curva” sinuosa...Que motivo maior ou mais belo para renascer  e querer viver novamente, do que este, neste momento?!!!

Pássaros no mercado (4)

Logo que entrei no mercado, escutei a cantoria! Agora são dois! Não sei se é um casal, sei que são amigos! Voam de lá para cá, muito juntos; como se temessem separar-se, perder-se um do outro. Imagino a alegria do primeiro, que ficou ali, por tanto tempo sozinho! Como deve ter sido especial quando chegou este outro... acabou a solidão por entre os corredores e lâmpadas, pelos dias e noites sem trégua, metódicos! Será que já tinha acostumado com a solidão, a mesmice? Será que já esqueceu como é o nascer do sol, um dia de chuva e o alvoroço, no fim do dia, retornando ao ninho com o bando?... Apesar desta falta sem remédio, agora tudo mudou, ressignificou! Explorar os ambientes com companhia é outra coisa! Eu os vi apostando corrida de uma gôndola a outra e de uma delas, para o alto,  para as luminárias e suportes no teto! Eu os flagrei felizes, cantantes, em evidente exibicionismo um para o outro, sem a menor preocupação com os outros, nós.  Imagino também a “paúra” do segundo, quando percebeu-se preso ali, sem conseguir encontrar a saída e como este temor diminuiu quando encontrou  um semelhante! Que alívio! Talvez no contexto lá fora, nunca se encontrassem ou não estabelecessem uma relação; não se escolhessem. A circunstância os aproximou e eles não esboçaram resistência; se permitem interagir, espontâneos! Escolhem viver e aproveitar! E estão aparentemente felizes! Porque ninguém há de ficar feliz prisioneiro! Estão felizes com o que podem e têm no momento. Quem sabe estejam mais protegido ali dentro?... De todo jeito, desejo que numa destas, acertem o corredor, encontrem a saída e retomem o mundo real, cheio de desafios, perigos; mas com certeza; com muito mais luz, cores, possibilidades e incógnitas...

Valor

O sol
a  brisa
as estrelas,
a magia da lua
os verdes brilhantes
e o mar... os pássaros
as borboletas...
seu voo, seu cantar...
Só têm sentido
significado e beleza
quando traduzidos
pela poesia
que inspira o
teu movimento, teu olhar!
Sem a inspiração,
apenas formas,
elementos
compondo
paisagens  indiferentes,
estrangeiras
sem brilho, sem calor,
sem um lugar, 
sem ar.


Bem querer

Mais  do que a dor
que rasga e descolore,
do que as palavras:
as  ásperas e as doces,
do que a escuta entregue,
fica o olhar!
Olhar que sustenta
se importa,
te olha e
te enlaça
cheio de bem querer!

Casa de cachorro

Da janela, eu contemplava a chuva e a paisagem diferente; pensando que quanto mais se olha e se vê, mais se descobre coisas para admirar e encantar, onde quer que se esteja. Foi então que vi a casa de cachorro. Sozinha na ponta de um terreno baldio; partilhando o espaço com uma também solitária árvore, no outro canto do terreno. Havia um fio de arame ligando a casa e a árvore e era por onde o cachorro circulava, preso ao fio por uma corrente. Um espaço grande, mas limitadíssimo diante do porte do cachorro e das infinitas possibilidades que certamente lhe aguçavam os sentidos e o desejo. Nunca tinha visto isto: uma casa de cachorro, sozinha, num terreno imenso e elevado, o que chamava mais ainda a minha atenção e marcava cruamente a sua solidão. Acho mesmo que muito mais do que surpresa, fiquei chocada. Os donos moram em frente ao terreno baldio, num conjunto de casas geminadas, pequenas. Como não há espaço, nem dentro e nem fora da casa, ainda mais para um cachorro daquele tamanho, não tiveram outra alternativa a não ser solicitar permissão, ao dono do terreno em frente, para ali colocar a casa do cachorro. Não queriam abandoná-lo e nem dar para outra pessoa. Gostam dele! Olha a situação! Dali, o cachorro acompanha a vida dos donos. De longe! Eles dão comida, água e vem conversar com ele, levam para passear. Chovia... E da janela eu via o cachorro, deitado na sua casinha, focinho de fora, olhando pra casa dos donos. De repente parecia que a chuva era choro. Também fiquei com vontade de chorar... Me contaram que quando os donos saem ou chegam em casa, ele fica agitadíssimo, uma mistura, penso, de alegria, saudade, desejo de dar um cheirinho, ganhar um afago... Não esqueço  este fato e nem a visão dele. Olhar de longe, gostar de longe... este limite de não poder estar junto ou de estar perto, mas absolutamente longe ao mesmo tempo... ou ainda, estar perto, mas com restrições...O amor deles, por enquanto, sobrevive assim, com restrições e sem liberdade. É como pode ser agora. Esta parte é triste. Mas há uma parte bonita: eles não desistiram de ficar juntos; estão lutando pelo amor, pelo afeto! Quando a gente gosta, vale a pena lutar.  Lutar e resistir. Pelo tempo que for necessário. Estou torcendo por eles.

Incidente (2)


Na delegacia de polícia, deparei com muitas situações revelando a fragilidade, o desamparo e a incapacidade (ou grande dificuldade) do ser humano em dialogar e lidar com os afetos, com a realidade e suas demandas; com as diferenças e situações  inesperadas e desafiadoras. Num dado momento, jovens adentraram, seguidos de policiais. Ficou evidente, pelas roupas e características, que se tratava de dois grupos antagônicos. Três deles, de pele clara, musculosos e de cabeça raspada, denominados “skinheads”, estavam algemados e foram conduzidos para o interior da delegacia. Os outros, chamados “punks” permaneceram na sala de espera; estavam agitados e indignados; tinham sido importunados pelos “skinheads”, na madrugada anterior e naquela tarde. Dois deles (negros) exibiam ferimentos. Um policial trouxe as armas que tinham encontrado com os  “carecas”(brancos): duas facas, duas soqueiras e um bastão de ferro, para que os “punks” fizessem o reconhecimento. Reconheceram e depois, baixinho comentavam e repetiram expressões como “xenófobos”, neonazistas”, covardia... dando a entender que os confrontos entre os grupos eram frequentes. Um deles, num dado momento, fez uma ligação e o  escutei chamando alguém de mãe;  contando a ela onde estava e o que acontecia.  Cada um, ali, tinha uma mãe! Onde elas estariam? Será que alguma delas tinha idéia de onde seu filho, sua filha estava? O que fazia? Com quem andava? Uma delas, agora sim! A mãe sonha e deseja tantas coisas boas para seu filho, sua filha... Quem desejaria que um deles se tornasse delinqüente, ameaçador, rebelde sem causa? Ou que fosse agredido, na rua, por causa da cor da pele, da roupa,  da nacionalidade, da opção sexual, do preconceito? Uma mãe entende a dor de outra. Os perigos do mundo afligem demasiado uma mãe. Isto não tem remédio e ela tem que lidar com esta questão a vida inteira; não importa a idade do filho. Fiquei bastante mexida presenciando  o fato. A gente pensa que há tantas e suficientes coisas para um filho, um jovem fazer... estudar, trabalhar, namorar, se divertir, praticar esportes... longe da bebida, da droga, da violência... mas, por vezes e por “n” motivos, ele resolve trilhar outros caminhos... o que motiva? O que almeja? O que faltou? O que foi excessivo, passou da conta, na nossa atuação junto a eles? Estou aprofundando, lendo, pesquisando sobre estes grupos e conceitos, descobrindo o que considero terrível e retrógrado: o preconceito, este veneno, avança e cresce, mesmo num tempo de abertura, informação e progresso; manifesto na conduta de homens e mulheres, idosos, adultos, jovens e, impressionante: já nas crianças pequenas! O que é um crime terrível: nosso, dos adultos que educamos estas crianças e estes jovens! O preconceito já produziu e provocou tantas desgraças na história da humanidade e continua... O que não aprendemos ainda? Por que criamos e alimentamos as divisões, separações quando precisamos tanto do outro? Quando vamos, de fato, avançar no campo do “ser”? Ou não vamos? 

Alento


No meio do caos,
depois da chuva
e do medo,
o sol abriu um sorriso!

Incidente (1)

Arrombamento e roubo. Polícia. Xenofobia e neonazismo. Skinheads e Punks. Gangs. Num espaço infinitamente curto, senti-me transportada a este mundo, um outro mundo, como se tivesse entrado em outra dimensão.  Um simples passeio, uma visita a uma amiga querida, transformou-se, de repente, em algo inusitado, invasivo, inesperado, meio torto, violento. Nada de passeios, visitas a lugares interessantes; tempo para conversas longas atualizando distância e o tempo, mas delegacia de Polícia, boletim de ocorrência, instituto médio legal; oficina; seguradora; longo tempo de espera em salas de espera...  A tarde estava bonita! O GPS nos levou direitinho ao destino. Estávamos há uma meia hora no apartamento de nossa amiga quando um barulho, lá fora, chamou nossa atenção e, olhando pela janela, vimos nosso carro todo aberto, transeuntes parados, olhando; dois carros de polícia circundando o nosso; vários policiais, uns falando ao rádio; outros escrevendo e outros olhando, mexendo no nosso carro. No instante que olhei, um deles estava justamente mexendo na minha mala, no porta-malas. Fiquei chocada! Como poderiam ter aberto o carro? Na minha cabeça um filme precipitada e rapidamente se forma: estavam procurando alguma coisa, alguém fizera uma denúncia! Perseguiam bandidos que tinham um carro com as características do nosso...Tudo “imaginações não comprovadas”, como diz meu pai!  Quando chegamos lá embaixo, soubemos que  alguém arrombara o nosso carro, quebrando o vidro lateral, do motorista; uma pessoa  viu e avisou a polícia, que veio rapidamente e prendeu o ladrão em flagrante. O ladrão reagiu e foi agredido pelos policiais, que recuperaram o que ele já tinha pego. Estavam remexendo nossas coisas para tentar encontrar algo para nos localizar, saber de quem era o veículo...Tudo isto aconteceu enquanto, lá em cima, no 8º andar, nos cumprimentávamos, trocando as primeiras impressões depois do reencontro e começávamos a roda de chimarrão. Ainda bem que fomos à janela, caso contrário, dificilmente nos localizariam e talvez o carro fosse guinchado... e, aí, o transtorno seria bem maior! Fomos informados que teríamos que seguir os policiais até a delegacia para registrar a ocorrência. A volta para casa teria que ser adiada, no mínimo, para o dia seguinte. Na delegacia, uma longuíssima espera, quase 4 horas, onde observamos e nos deparamos com realidades duras; um lado obscuro, pesado; do qual se tem conhecimento, mas que circula bem longe do nosso cotidiano pessoal e que nos assustou, surpreendeu; ao mesmo tempo em que constatamos que para aquelas pessoas ali e muitas, muitas outras, este era e é o cotidiano e que isto não os surpreendia. Devo dizer que em relação aos policiais, tive uma agradável surpresa: foram rápidos, precisos, respeitosos no trato, tanto conosco como com todas as pessoas que foram atendidas enquanto esperávamos. Por causa dos casos divulgados de corrupção, percebo que se instaurou uma cultura de desconfiança, preconceito e medo em relação a uma série de categorias profissionais e, uma delas, os policiais. Fiquei, por este lado, contente; tem gente boa em todo lugar, gente em quem se pode confiar. E naquele momento, eu me senti uma cidadã protegida, de fato. Um banho de realidade bastante significativo neste início de ano.

Chuva e solidão

Cidadão do mundo. Gosto muito desta expressão! Gosto de pensar num mundo assim, sem fronteiras; a gente podendo ir e vir, conhecer diferenças, estabelecer laços,  sentir-se em casa em cada lugar; sem burocracias e medos.  Adoro o lugar onde vivo há 21 anos, por opção! Mas algo diferente se move, dentro de mim, quando lembro, ouço notícias e melodias características  e, quando volto à terra onde nasci, como agora... uma emoção grande, que remexe nas entranhas! Deve ser algo semelhante ao que seria se pudesse retornar, de quando em quando, ao útero materno. Lugar único.
Chuva e solidão combinam
neste momento
adentrando, outra vez,
no solo gaúcho.
Voltando.
Sempre uma emoção
diferente e igual...
retomando uma história
misturada com tanta história
antiga e ainda latente
nas paisagens e essências.
Manhã  de tráfego tranqüilo e
de estradas lavadas,
Sol escondido
chuva mansa,
nuvens sombrias e
natureza entregue,
saciando a sede,
Silenciosa e feliz.
Minha alma, atormentada por sentimentos grandes e desencontrados vai   encontrando um lugar, acolhimento e curativos nas melodias, nos versos dos poetas nativos, que entendem destas coisas da alma como poucos! “Meus desassossegos sentam na varanda...cada por de sol, dói feito uma brasa, queimando lembranças no meu coração...”; ...“e o seu destino também vai nesse reponte... sempre encharcado de horizontes”; ... "Atirei as boleadeiras contra a noite que surgia, noite adentro entre as estrelas, se tornaram Três-Marias”... “não ta morto quem peleia, tchê”...; ... "Meu amigo prepara um mate e mantém acesa a brasa, pois hoje mesmo estou voltando para casa”...; ... "pisador de geada fria, domador de ventania, para-peito pro Minuano" ...; ..."Quando as almas perdidas se encontram, machucadas pelo desprazer, um aceno, um riso apenas, dá vontade da gente viver”...; “O amor à terra foi deixado como herança, marcas do tempo escritas na nossa história”...; ..."Esta pura verdade que não tem idade, é a nossa identidade aguentando o repuxo”...; “Se lá no povo entre os blocos de cimento, sentir no peito uma espécie de vazio, junte a piazada, tranque seu apartamento, venha pra costa ouvir o canto do rio...quem cuida o mato como cuida o passarinho,quem cuida o rio sem pretensão de pescar mais, tenha certeza que o sol nasce mais bonito, brotam mais flores ao redor dos mananciais"... Eu me fortaleço. Há uma parte guerreira (teimosa e perseverante) em mim que se nutre nesta “solidão preenchida” a que a visão dos pampas sem fim, remete. A energia, ali, me faz visualizar o homem resistindo à dureza da lida, do clima e ao jugo da prepotência, da injustiça e tirania que quer lhe domar, tolher a liberdade...  ao mesmo tempo que cultiva um olhar profundo sobre o que vê!  O que lhe permite sutilizar a percepção e compreensão dos anseios da alma humana e de todas as criaturas da natureza. A grossura que aparece em muitos,  é só casca. Chuva e solidão preenchida combinam. Eu estar aqui, agora, também combina. Nutre a base que me sustenta. E neste momento frágil, este colo é tudo.

Esperei


Quando te encontrei
e durante muito,
muito  tempo
desejei e esperei
que lesse meus olhos,
compreendesse meu coração,
escutasse os anseio da
minha alma!
Que caminhasse e
dançasse comigo
nos compassos do dia!
Que partilhasse as emoções
da palavra e do silêncio
e que voasse comigo pelos
céus, mares e verdes!
Que me permitisse  ouvir,
segurar tua mão, partilhar
alegria e dor!
Que tivesse sonhado comigo
tanto quanto sonhei contigo!
Que soubesse que
“viajei tantos espaços pra
caber assim, no teu abraço”!
E que o por do sol
nos encontrasse, 
na varanda
em doce harmonia
envelhecidos,
de mãos dadas
e cúmplices!
Então descobri
que neste universo
eu sou a noite
você o dia!

Metade

Sempre faltou algo...
Uma última palavra,
demorar um pouco mais
no abraço,
olhar novamente,
envolver num sorriso!
Um  leve toque no cabelo,
reconhecer um gesto,
elogiar uma mudança,
dizer “Tchau!
Segurar a mão por
só mais um pouco,
acolher uma queixa,
fazer um carinho,
atirar um beijo,
escrever "oi",
aconchegar no colinho...
Podia ter sido mais!
Economizar
pechinchar
no afeto
é esbanjar
nas indelicadezas,
acumular solidão.
No universo amoroso
quanto mais se gasta
mais se tem.

Tricô


Tricotar
fazer laços
entrelaços
tecer e criar
pacienciar...
Um ponto
escapa...
Fica pequeno,
fica grande...
Voltar atrás,
desmanchar,
refazer
mudar a cor,
o ponto,
o modelo.
Começar de novo,
como na vida.
Vovó, prazerosamente
tricoto roupinhas delicadas,
enquanto mulher,
vou  tricotando
sem modelo
sentimento e pensamento
sonhos e o querer...
Tecendo,
autora e expectadora,
meu daqui pra frente.

Faxina

Remexer nos guardados, fazer faxina... Eu gosto. Atualizo tantas coisas. Especialmente remexer nos papéis... tantos escritos! Meus e os que recebo dos outros. Remexer é como olhar um álbum de fotografias impressas na memória dos sentidos, chamá-las outra vez à vida! Tudo que tenho guardado é bom. Especial ter vivido. Por vezes, algo mais crítico, amadurecido dentro de mim, no momento, julga piegas, tolo, infantil, ideias e sentimentos registrados  lá no pretérito, nem sempre tão distante. Mas logo, outra parte mais justa, também dentro de mim, pondera que aquilo que está ali, sou eu! Eu naquele momento, verdadeira! Sem máscaras. Não como gostaria de ser, nem como outros gostariam que fosse, ou como poderia ter sido. Sou eu como podia ser naquele momento. Não mais talvez como sou agora; mas como sentia e compreendia naquele preciso e precioso instante. Tenho carinho pelo que passou. Meus equívocos ficaram lá, também importantes. Passar e pagar por eles abriu a possibilidade de criar, aprender, me adaptar e respeitar. O bom é que os acertos, em percepções e ações foram tantos! Amadureceram comigo, no meu ritmo, ou não. Algo ainda precisa de mais tempo para processar, lapidar; como as faltas, as rejeições, as perdas. Mas quanto carinho! Quanto carinho! Meu baú está cheio, transborda e me inspira! Conversava com meu filho  sobre isto de ficar na defensiva em relação aos outros, por causa de atitudes anteriores. Ele falava que sua experiência era de que na maioria absoluta das vezes, as pessoas repetem as ações e “pisam na bola” outra vez, e que por isto ele não acredita e não espera mudanças; fica prevenido; uma parte sempre desconfiando do outro. De minha parte, reafirmei acreditar  nas coisas boas:  nas minhas e nas dos outros. Já “pisei na bola” em relação aos outros e já “pisaram na bola” comigo; mas mesmo que isto, num balanço, se configure realmente como maioria; as vezes em que valeu a pena acreditar, confiar, foram tão significativas e maravilhosas que mesmo minoria, superam todas as outras em grandeza, alcance, importância, resultado e marcas. Vale, ainda,  acreditar e esperar o melhor de cada um, inclusive o meu! Os medos, as limitações, as raivas, as mágoas, as impossibilidades, aprendi, na análise, a nomear, transformar em palavras que vão, no tempo que cada uma precisa, se acomodando nas minhas linhas e entrelinhas, com sossego. Quanto mais os sentimentos e pensamento se expressam, mais claros, depurados e livres! Bom faxinar, remexer, arejar e prosseguir com bagagem mais leve e essencial; sem  pesos, excessos e supérfluos impedindo ou limitando trajetos, encontros e reencontros.

Seguir


Superfície e aparência
dentro e essência
o real e o seu fantasma
a sede e a fome
a necessidade e o prazer
o que dói e o que cura
o que oprime e o que alimenta
acaricia e machuca...
Alternâncias de
pontos sensíveis
no movimento da vida.
Sem desistir
os pássaros  cantam
e fazem seus ninhos;
Uma melodia, longe
afina com as singularidades
talvez saudade, melancolia,
sossego, bem estar...
O sol abraça
Incondicionalmente.
Palavras tentam se organizar.
Será possível,  um dia,
entendimento, consenso
harmonia?

O amor


Os arautos do amor
são escandalosos
ansiosos, ardentes,
voláteis, passionais. 
Mas, o amor,  
ele mesmo, 
é esta percepção
enraizada e boa
de te sentir
sempre comigo,
segurando minha mão;
me enxergando
nos teus olhos.
Semente obstinada
que brota e desabrocha
em qualquer estação.
Melodia silenciosa
que inspira meus sonhos,
apazigua meus tormentos
eleva, em voos de horizontes azuis,
minha emoção
o que de fato sou.


Olá, 2012!

Bem vindo 2012!
No ar
na terra
e no mar!
No que vem de dentro
e no que vem de fora!
Nas grandes e
pequenas coisas,
nos altos e baixos
do cotidiano.
Nos dias frios
nos dias de azul, de luz
de muita flor e de
sonhos de amor!
No novo
e no repetitivo!
Nas surpresas,
espantos, deslumbramentos!
Nos desafios
e encantamentos.
Que eu seja forte,
que eu esteja atenta.
Que eu ame
mais e melhor,
que eu veja,
observe e produza!
Não vou resistir!
Me abandono
nos teus chamados,
teus acenos,
tuas incógnitas. 


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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