Chuva e solidão

Cidadão do mundo. Gosto muito desta expressão! Gosto de pensar num mundo assim, sem fronteiras; a gente podendo ir e vir, conhecer diferenças, estabelecer laços,  sentir-se em casa em cada lugar; sem burocracias e medos.  Adoro o lugar onde vivo há 21 anos, por opção! Mas algo diferente se move, dentro de mim, quando lembro, ouço notícias e melodias características  e, quando volto à terra onde nasci, como agora... uma emoção grande, que remexe nas entranhas! Deve ser algo semelhante ao que seria se pudesse retornar, de quando em quando, ao útero materno. Lugar único.
Chuva e solidão combinam
neste momento
adentrando, outra vez,
no solo gaúcho.
Voltando.
Sempre uma emoção
diferente e igual...
retomando uma história
misturada com tanta história
antiga e ainda latente
nas paisagens e essências.
Manhã  de tráfego tranqüilo e
de estradas lavadas,
Sol escondido
chuva mansa,
nuvens sombrias e
natureza entregue,
saciando a sede,
Silenciosa e feliz.
Minha alma, atormentada por sentimentos grandes e desencontrados vai   encontrando um lugar, acolhimento e curativos nas melodias, nos versos dos poetas nativos, que entendem destas coisas da alma como poucos! “Meus desassossegos sentam na varanda...cada por de sol, dói feito uma brasa, queimando lembranças no meu coração...”; ...“e o seu destino também vai nesse reponte... sempre encharcado de horizontes”; ... "Atirei as boleadeiras contra a noite que surgia, noite adentro entre as estrelas, se tornaram Três-Marias”... “não ta morto quem peleia, tchê”...; ... "Meu amigo prepara um mate e mantém acesa a brasa, pois hoje mesmo estou voltando para casa”...; ... "pisador de geada fria, domador de ventania, para-peito pro Minuano" ...; ..."Quando as almas perdidas se encontram, machucadas pelo desprazer, um aceno, um riso apenas, dá vontade da gente viver”...; “O amor à terra foi deixado como herança, marcas do tempo escritas na nossa história”...; ..."Esta pura verdade que não tem idade, é a nossa identidade aguentando o repuxo”...; “Se lá no povo entre os blocos de cimento, sentir no peito uma espécie de vazio, junte a piazada, tranque seu apartamento, venha pra costa ouvir o canto do rio...quem cuida o mato como cuida o passarinho,quem cuida o rio sem pretensão de pescar mais, tenha certeza que o sol nasce mais bonito, brotam mais flores ao redor dos mananciais"... Eu me fortaleço. Há uma parte guerreira (teimosa e perseverante) em mim que se nutre nesta “solidão preenchida” a que a visão dos pampas sem fim, remete. A energia, ali, me faz visualizar o homem resistindo à dureza da lida, do clima e ao jugo da prepotência, da injustiça e tirania que quer lhe domar, tolher a liberdade...  ao mesmo tempo que cultiva um olhar profundo sobre o que vê!  O que lhe permite sutilizar a percepção e compreensão dos anseios da alma humana e de todas as criaturas da natureza. A grossura que aparece em muitos,  é só casca. Chuva e solidão preenchida combinam. Eu estar aqui, agora, também combina. Nutre a base que me sustenta. E neste momento frágil, este colo é tudo.

 

1 comentários:

arlete disse...

Ah, esta minha comadre poeta! Como você diz as coisas que eu também penso e sinto, mas não escrevo! O céu já é feito desde agora de toda essa comunhão!
Beijo, Maisa!


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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