Metáforas

Palavras ao ponto”. Fiquei maravilhada quando ouvi! Foi uma das sugestões apresentadas, pelos alunos, para o nome do livro de poesia da turma. Que coisa bonita! Uma metáfora! ... “professora, é assim...uma ideia fica no cérebro e a gente vai pensando, vai escrevendo até que, aos poucos, ela se transforma em poesia...”. Lindo! Isto! Isto me apaixona e me toma! A magia que acontece nesta mistura\combinação de palavras para expressar  pensamento,  sentimento... E ver esta paixão no outro, nos alunos, me enche de uma alegria ímpar! Outra sugestão: “Fantástica fábrica de poesias”... profe, parece com o nome daquele filme da fábrica de chocolate...é que tem uma máquina dentro do cérebro da gente e ela manda as ideias para a nossa imaginação e a imaginação faz as poesias... e isto nunca acaba! Sempre fazendo mais e mais... o combustível da máquina é o pensamento... é só pensar...”.  E mais outra: “Arte em palavras” porque eu penso, profe, que pensar também é arte; a gente pode criar coisas com as palavras, como as poesias...”. Eu fico num contentamento só, em ouvir! Tanto do lugar de alguém que ama isto tudo e observa, um pouco de fora e se deleita; quanto do lugar  da professora, esta que está presente na condução e mediação do trabalho! Metáforas... elas são maravilhosas e curativas! Com elas dá para olhar e falar daquilo que comumente não nos atrevemos; seja por censura, medo, ética, culpa, pudor... ou dor... consciente ou inconscientemente. Descobrí-las é encontrar com a liberdade e com as rotas de voos mais altos, desafiadores e belíssimos!

Cúmplice

Me esperava
à saída da reunião.
Linda e frágil
lá no alto...
desamparada
entre nuvens escuras
e ameaçadoras.
Quando me viu
só desta vez não falou
de amor!
Cansada,
desmanchou-se!
Mostrou o lado,
disfarçado,
dos desencontros
e da dor...
Bem depois,
na madrugada,
escondida, chorou!
Lágrimas
deslizaram pela minha janela
soluços ecoaram
no telhado,
nas folhas
no lago...
solidária e cúmplice
chorei com ela...
O abraço da noite
acarinhou e cuidou
de mim e dela.

Reticências...

               Imagem de Elcio Limas
Bom acordar junto com o dia, que chega cheio de promessas e incógnitas... reticências que encantam e fragilizam, ao mesmo tempo! Nisto que não aparece e não se sabe, há um intervalo de felicidade latente, o do que pode vir a ser e que é do desejo mais ardente! E que de fato arde, vibra, mexe, inquieta, acorda, impulsiona, queima, feito sol em brasa! E onde mora toda esperança e todo bem querer! E também, toda ilusão... E há sempre uma sombra cercando a esperança: ignorância e impotência... alternando-se; impedindo ou dificultando a plenitude de cada momento...

Ximitão 8.0


O silêncio da madrugada acolhe e ajuda a organizar o vivido, intenso e corrido  deste final de semana dos 80 anos do meu pai. Comemoramos ao gosto dele, com um mínimo de acessórios. Um irmão não pode vir. Acho que deve ser algo muito especial olhar e ver, de repente, o quanto o tempo passou e num momento, poder observar os frutos de toda uma vida, ali materializados e presentes nos filhos, nos netos e nos bisnetos e no que cada um, na sua singularidade, é, produz e articula no seu espaço... As ligações familiares são fortes, são bonitas e também cheias de melindres, sutilezas; demandam intenso trabalho interno... não é fácil falar delas. Cada circunstância é material para  processar por longo tempo e remete à tantos sentimentos, “encontrados e desencontrados”, profunda sensação de inteireza e também de vazios e perdas; de sintonia, “porto seguro” e absoluta solidão diante da individualidade e das diferenças; assim como diante da  impotência frente aos desafios e obstáculos que cada um tem que enfrentar no seu cotidiano. Mas os encontros alimentam os afetos! E isto fortalece. Anima. Humaniza. 

Tudo e só



Estar lá
no olho
do outro
é tudo!
Singulariza,
diferencia
alimenta
constitui.
Ali me vejo
e ali me reconheço,
existo e sou
num olhar de amor!
O tudo e o só.
Enfeites, acessórios
todo o resto.

Devagarinho...

  Imagem de  Elcio Limas
Quando me perco
do tempo 
de escutar 
e traduzir
o que a alma
anseia, urge,
falta-me o ar!
Aprisionada
tento fugir
das asperezas
vivendo devagarinho...
até o sol brotar!

Ensaios...

    Imagem de Elcio Limas 

Por vezes, o dia interno está assim, encoberto por tantas questões... olho embaçado, ouvido confuso, coração desalinhado, pensamentos desencontrados. O que vai resultar e se mostrar quando a calmaria chegar e o dia amanhecer? Virá a garoa ou  virá o sol?... Virá o sossego ou maior inquietude?... Virão as cores vivas e quentes ou permanecerão os cinzas sisudos, reclamando silêncio e mais recolhimento?... Virão cantorias fazer curativos ou os vazios prolongando as descidas e as entradas mais fundas nas feridas?... Coisas do real da vida aparecendo para o olhar, sempre singular... E no horizonte e mais alto, passagens, ensaios de luz! Portas abertas, saídas de alegria; janelas de ar! Como viver cada dia sem os abraços da poesia?!

Lágrima

Uma lágrima de flor!
Deslizava suave
quase imperceptível
pela pétala...
Forte e frágil, toda
perfumada de incenso,
colorida de luz.
Florzinha,
o que te dói,
assim tão fundo
e silencioso?
O mesmo que em mim?

Lado de dentro


Dia quadriculado
cheio de gavetas
agenda, pauta, regras,
cuidados, horários
e de uma chuva repentina
que vem cantar
vontades de
uma janela aberta
de um horizonte largo
e um pouso suave
num abraço apertado
num olhar enluarado.

Pai

"Vira natureza"...

... “ eu gostei muito deste livro porque a menina da história gostava muito da natureza e dos animais e porque um dia, quando a vó dela morreu, ela disse: - não preciso ficar triste! Minha vó morreu e virou natureza!”... enquanto a aluna falava, entusiasmada, apresentando aos colegas o livro e a sua leitura do  mês, percebi como esta leitura estava sendo significativa para ela, auxiliando a lidar com todas as questões que envolvem a morte, com estes medos e apegos e fantasmas que nos assombram a vida desde que nascemos, uma vez que cada dia é dia de viver e também pode ser dia de morrer! Percebi o alívio na sua voz, na expressão do rosto e do olhar... claro! Entendi o que ela pensava! Se a gente morre ou se morre alguém que a gente ama, vira natureza; então não morre, continua de outro jeito e ainda mais, continua pertinho  e numa forma bonita! E toda turma compartilhou com ela aquele instante, aplaudindo a descoberta! Foi um momento bem especial, que me encheu de emoção e quando, novamente, me senti no lugar certo; quando aprofundei o porquê de apesar dos anos, demandas e das limitações, goste do meu ofício e ele me encante e reencante tanto, incessantemente, presenteando com este aprender e reaprender através dos olhos das crianças e de estar ali, oportunizando e partilhando momentos únicos de descobertas, reflexão e humanização. Ler e escrever é muito bom! É mágico e profilático.

Momento de felicidade

Veio e já foi,
intenso e suave
como temporais exaltados em noites escuras
e a brisa fresca nas  tardes de verão
juntos! (se isto fosse possível!)
Um momento de felicidade!
Raro e inteiro,
forte, belo,
cheio de luz e brilho
emergindo  e respirando
entre  fragilidades
vestindo a vida
de beleza... tanta, tanta!
Justificando um infinito de saudades.

Palavra

  Imagem de Elcio Limas

PALAVRA
PA   
LAVRA.

Revolve
mistura
expõe
envolve
revela.

Ora suave
ora fundo
acarinhando
ferindo
rasgando
apaziguando.

Lavra e prepara
lavra e fecunda.
lavra, corta e fere
denuncia, fortalece
escreve, gesta
cria, apaixona!

A terra grita
o olho chora
o coração sangra
a mão registra
e transforma.

O sol nasce!
A poesia redime
e me salva!
A vida continua.

Dentro...


Numa gotinha de sangue,
vi minhas células
elas estavam assustadas
pedindo ajuda
e eu não sabia
eu não ouvia ...
Que mundos misteriosos
dentro de mim...
Quanta objetividade
e sutileza!

Blog: dez mil


Numa contagem singela, cotidiana e persistente, iniciada em  2009, hoje o blog Maesagem completou 10.000 visualizações. Sinto grande alegria por isto! Por receber todas estas visitas:  intencional ou acidentalmente;  de meus amigos, meus queridos e de  desconhecidos; dos que entram e saem silenciosamente e dos que deixam um comentário.
Escrever é
meu melhor jeito de
expressar o que sou.
É necessidade,
saúde, alimento
vício, desejo,
prazer; refletir,
processar, sublimar,
compreender e organizar.
            Quando escrevo,            
 deixo fluir 
um  rio imenso
que há
dentro de mim
e que provoca sintomas
se não puder correr
livremente...

Regresso

  Imagem de Elcio Limas
Olhos atentos no horizonte
o "guardador do sol",
na montanha mais alta,
anuncia, emocionado:
- Ele está chegando!
Grandes “vivas”
ecoam entre os montes,
vales, florestas e mares...
brindes e sorrisos de luz
em todas as direções
cantorias de pássaros
e danças com a brisa!
Radiante, à vontade
o SOL vai visitando
e abraçando
a um e a todos
sem pressa
potencializando
sabores, cheiros,
movimentos, vontades,
a vida, em todas as cores...

Surreal


Surreal a noite
com seu manto de neblina
esvoaçante e misterioso
tingido de tons vibrantes.
A sua  passagem e carícia
vultos e sombras
se entregam
silenciosos
e apaixonados.
Insetos traduzem
os murmúrios
de amor.
Única.

Paródia


Um, dois, três, quatro...
décadas de sóis e luas...
o tempo passou, de fato!
Cenários mudaram
árvores cresceram
cabelos branquearam
os filhos do sonho vieram
cresceram e voaram!
Cinco, seis,
gostei tanto
de encontrar vocês!
Jardins, violetas,
primaveras, gatos,
palavras, verdes
e borboletas!
Sete, oito,
meu coração,
apaixonado e afoito,
tem vibrado tanto
com os encontros
de trabalho,
de fazer,
de criar
de partilhar!
De encanto
de canto
de  conto!
De riso
de fala e escuta
de parceria,
de alegria!
Nove, dez!
Não quero comer pasteis!
Quero continuar
“curiosando” e amando
um dia de cada vez!

Bom dia, sol!



Sonolentinho, ainda
mas faceiro,
empurrando a coberta
de neblina que o cobria
há tantos dias,
o sol desceu o morro
e veio me dar um “oi!
Mas não está
com vontade de ficar...
Ora... eu queria
um abraço mais prolongado!


"O amor é cego"?


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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