Asfalto

Sob o asfalto,
a terra agoniza;
sem ar,
sem sol,
sem verdejar
sem frutificar.
Escuto seu lamento.
Agora escuto.
De repente, vejo
num curto e rasteiro
lampejo.
O asfalto
amordaçou
pedaços de vida.
A urgência de caminhos,
a rapidez,
a praticidade
e a comodidade
conquistadas,
sufocaram
ânsia de sentimentos,
liberdade de pensamentos
e carência de movimentos.
O asfalto
acinzentou caminhos,
avançou calçadas,
subiu morros,
interligou o mundo
e fabricou outros muros.
As distâncias, agora,
são outras.

Aquecer



A menina tem olhar:
- “as bonecas
têm frio, vovó”!
A vovó tem escuta.
Tricotar benquerer
é tempinho de nada;
aquece e enlaça!

Pai

     

           O Dia é dos Pais, mas também ganhei um presente: este belo livro “Emocionário”! Ele me lembra meu pai, que era um “craque” em “brincar, transformar e criar palavras novas”! Meu filho organizou até um “Dicionário” com as palavras “criadas” pelo vô Ico!  Uma lindeza!
        O livro e um vídeo do Marcos Piangers mexeu com minhas vivências enquanto filha e profe e, fortaleceu a compreensão da importância e diferença que faz na vida da gente, sentir orgulho do nosso pai. Lembro do orgulho que tinha do meu pai, quando criança! Admirava sua profissão, caixeiro-viajante! Parecia algo mágico sair na segunda e voltar na sexta, percorrendo estradas, lugarejos, sob sol, poeira e chuva, com estradas derrapantes! Mais ainda: chegar na sexta com uma sacola com  rapadura, banana, abacaxi e balinhas, para nossa delícia! O que poderia ser melhor e maior do que este carinho, esta lembrança?!! Na época, estávamos muito distantes do consumismo e do descarte fácil das coisas.  Depois, passei admirar sua assinatura! Achava a coisa mais linda aqueles traçados e não entendia quando ele dizia: “filha, teu pai é um semianalfabeto”. Depois, admirei seu sobrenome, Schmitz e, decidi que, quando crescesse, queria me casar com um homem que tivesse o mesmo sobrenome, para não mudar (na época, era assim, a mulher assumia o sobrenome do marido). Extraoficialmente, ainda hoje só uso o Schmitz! 
       Cresci e o pai-herói desmistificou, caiu. Ficou a realidade: apenas um homem, com limitações e talentos. Com o pé no chão, cultivei respeito e carinho pelo meu pai; reconhecendo suas qualidades e aprendendo a conviver com seus limites; admirar sua luta para sobreviver, prover a família. Homem simples, alegre, trabalhador; que não desistiu da vida, apesar de todas as mazelas e faltas na infância e juventude! Que foi à luta com o que tinha e podia. Nos deixou muito valor: senso de justiça, a importância do trabalho, o bom humor e o olhar brilhante, lacrimejante e melancólico que muitas e muitas vezes perdia-se no horizonte, atrás de coisas que eu nunca soube; mas herdei.

Dá-nos a Paz

Pedro Casaldáliga partiu. 
Descansa, Pedro! 
Quando alguém querido se vai, 
fica tristeza e vazio. 
Quando alguém querido e essencial se vai, 
fica, de início, 
esta sensação de desamparo, 
orfandade de voz, de bondade, 
de justeza e de solidariedade; 
de quem acredita, se importa, 
luta por e luta com 
aqueles que ninguém vê ou quer ver. 
Pedro se foi, 
mas continua conosco na sua obra, 
seus feitos, suas opções, 
seu exemplo 
e sua poesia:

Gestando borboletas

         

Tempo de recesso
e também de pandemia
é tempo de casulo,
na cabeça de profe!
Tempo de
reflexão
embelezamento  interno,
trabalho,
estudo…
Até chegar o tempo 
da borboleta!
De repente,
ideias 
saudades 
sonhos, projetos,
vestidos de borboletas
eclodem!
Esvoaçantes! 
Verdes,
vermelhas,
coloridas
borboletas
intuindo horizontes!
Esperançosas,
encantadas!
Atrás do seu voo
segue o 
sorriso tranquilo
e cúmplice
da profe...
visualizando
encontros,
talentos,
ternuras
e partilhas!


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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