Casa de cachorro

Da janela, eu contemplava a chuva e a paisagem diferente; pensando que quanto mais se olha e se vê, mais se descobre coisas para admirar e encantar, onde quer que se esteja. Foi então que vi a casa de cachorro. Sozinha na ponta de um terreno baldio; partilhando o espaço com uma também solitária árvore, no outro canto do terreno. Havia um fio de arame ligando a casa e a árvore e era por onde o cachorro circulava, preso ao fio por uma corrente. Um espaço grande, mas limitadíssimo diante do porte do cachorro e das infinitas possibilidades que certamente lhe aguçavam os sentidos e o desejo. Nunca tinha visto isto: uma casa de cachorro, sozinha, num terreno imenso e elevado, o que chamava mais ainda a minha atenção e marcava cruamente a sua solidão. Acho mesmo que muito mais do que surpresa, fiquei chocada. Os donos moram em frente ao terreno baldio, num conjunto de casas geminadas, pequenas. Como não há espaço, nem dentro e nem fora da casa, ainda mais para um cachorro daquele tamanho, não tiveram outra alternativa a não ser solicitar permissão, ao dono do terreno em frente, para ali colocar a casa do cachorro. Não queriam abandoná-lo e nem dar para outra pessoa. Gostam dele! Olha a situação! Dali, o cachorro acompanha a vida dos donos. De longe! Eles dão comida, água e vem conversar com ele, levam para passear. Chovia... E da janela eu via o cachorro, deitado na sua casinha, focinho de fora, olhando pra casa dos donos. De repente parecia que a chuva era choro. Também fiquei com vontade de chorar... Me contaram que quando os donos saem ou chegam em casa, ele fica agitadíssimo, uma mistura, penso, de alegria, saudade, desejo de dar um cheirinho, ganhar um afago... Não esqueço  este fato e nem a visão dele. Olhar de longe, gostar de longe... este limite de não poder estar junto ou de estar perto, mas absolutamente longe ao mesmo tempo... ou ainda, estar perto, mas com restrições...O amor deles, por enquanto, sobrevive assim, com restrições e sem liberdade. É como pode ser agora. Esta parte é triste. Mas há uma parte bonita: eles não desistiram de ficar juntos; estão lutando pelo amor, pelo afeto! Quando a gente gosta, vale a pena lutar.  Lutar e resistir. Pelo tempo que for necessário. Estou torcendo por eles.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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