Incidente (1)

Arrombamento e roubo. Polícia. Xenofobia e neonazismo. Skinheads e Punks. Gangs. Num espaço infinitamente curto, senti-me transportada a este mundo, um outro mundo, como se tivesse entrado em outra dimensão.  Um simples passeio, uma visita a uma amiga querida, transformou-se, de repente, em algo inusitado, invasivo, inesperado, meio torto, violento. Nada de passeios, visitas a lugares interessantes; tempo para conversas longas atualizando distância e o tempo, mas delegacia de Polícia, boletim de ocorrência, instituto médio legal; oficina; seguradora; longo tempo de espera em salas de espera...  A tarde estava bonita! O GPS nos levou direitinho ao destino. Estávamos há uma meia hora no apartamento de nossa amiga quando um barulho, lá fora, chamou nossa atenção e, olhando pela janela, vimos nosso carro todo aberto, transeuntes parados, olhando; dois carros de polícia circundando o nosso; vários policiais, uns falando ao rádio; outros escrevendo e outros olhando, mexendo no nosso carro. No instante que olhei, um deles estava justamente mexendo na minha mala, no porta-malas. Fiquei chocada! Como poderiam ter aberto o carro? Na minha cabeça um filme precipitada e rapidamente se forma: estavam procurando alguma coisa, alguém fizera uma denúncia! Perseguiam bandidos que tinham um carro com as características do nosso...Tudo “imaginações não comprovadas”, como diz meu pai!  Quando chegamos lá embaixo, soubemos que  alguém arrombara o nosso carro, quebrando o vidro lateral, do motorista; uma pessoa  viu e avisou a polícia, que veio rapidamente e prendeu o ladrão em flagrante. O ladrão reagiu e foi agredido pelos policiais, que recuperaram o que ele já tinha pego. Estavam remexendo nossas coisas para tentar encontrar algo para nos localizar, saber de quem era o veículo...Tudo isto aconteceu enquanto, lá em cima, no 8º andar, nos cumprimentávamos, trocando as primeiras impressões depois do reencontro e começávamos a roda de chimarrão. Ainda bem que fomos à janela, caso contrário, dificilmente nos localizariam e talvez o carro fosse guinchado... e, aí, o transtorno seria bem maior! Fomos informados que teríamos que seguir os policiais até a delegacia para registrar a ocorrência. A volta para casa teria que ser adiada, no mínimo, para o dia seguinte. Na delegacia, uma longuíssima espera, quase 4 horas, onde observamos e nos deparamos com realidades duras; um lado obscuro, pesado; do qual se tem conhecimento, mas que circula bem longe do nosso cotidiano pessoal e que nos assustou, surpreendeu; ao mesmo tempo em que constatamos que para aquelas pessoas ali e muitas, muitas outras, este era e é o cotidiano e que isto não os surpreendia. Devo dizer que em relação aos policiais, tive uma agradável surpresa: foram rápidos, precisos, respeitosos no trato, tanto conosco como com todas as pessoas que foram atendidas enquanto esperávamos. Por causa dos casos divulgados de corrupção, percebo que se instaurou uma cultura de desconfiança, preconceito e medo em relação a uma série de categorias profissionais e, uma delas, os policiais. Fiquei, por este lado, contente; tem gente boa em todo lugar, gente em quem se pode confiar. E naquele momento, eu me senti uma cidadã protegida, de fato. Um banho de realidade bastante significativo neste início de ano.

 

1 comentários:

Anônimo disse...

Sensibilidade para perceber o BEM que existe misturado a tantas outras realidades neste nosso mundo! Desejando que meu compadre possa ter lido sob essa ótica também, apesar do transtorno... E vai um recadinho por e-mail.
... aguardando uma próxima vez quando poderemos continuar nossa roda de chimarrão...
Beijo, Maisa.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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