Enlaçamentos...


O despertador me chamou cedinho. Quando cheguei na rodoviária, eles já estavam lá, sentadinhos no meio fio. O ônibus adiantou-se hoje... Eu sabia que ele, meu pai, estava machucado, caiu fazendo arte, subindo num banquinho! Coisa que aos 79 anos não é aconselhável fazer. Mas um legítimo filho de Virgem faz o que quer e sempre tem razão, não é?! (não entendo nada de astrologia!) Meu coração estava apertado e sabia que o deles também. Mudanças sempre mexem muito, imagina nesta idade, deixando para trás toda uma vida, uma cidade, uma história, amigos, parentes, costumes, a casa, os móveis, relíquias e rotinas... Não lembrei de dar as boas vindas, preocupada em saber como estavam, se esperavam há muito tempo, ali, por mim (só quinze minutos! Mas sei que isto pode ser uma eternidade...); como tinha sido a viagem e, dar um abraço! “Pegaram” chuva a viagem toda, disseram e isto foi por quase doze horas, o tempo da viagem. Eu sentia um aperto cada vez maior na garganta e fazia muitas perguntas, querendo  encaminhar a conversa para horizontes mais azuis, leves; como se fosse como sempre: estavam chegando para uma visita. Mas não estavam. Ainda bem que quando chegamos em casa, meu filho abraçou-os alegremente e com a franqueza e espontaneidade que lhe é peculiar, disse: “bem-vindos e agora é para sempre”! (a palavra que eu não dissera!). Isto produziu um alívio! Precisávamos falar disto. Meus pais chegaram para morar comigo. A "mudança" vem depois. Assim que todos começamos uma vida nova! Tenho que ficar atenta para quando a saudade chegar nos olhos deles e providenciar, então, um passeio aos “pagos”, para rever a querência, a vida que ficou lá; no “torrão natal”; o solo gaúcho que amam tanto! Mas que não foi maior do que o desejo de estar perto de mim, neste período sensível da vida. Duas gerações, dois mundos bem diferentes enlaçando-se no meu, agora; de um lado meus pais chegando e de outro, um bebê, ainda gestando na barriga da minha filha. Eu estou palpitando!

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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