Coisas de quem ama


Nesta manhã chuvosa, propícia para uma conversa, um chá e silêncios preenchidos de cumplicidades; me encontro atarefada, um pouco ansiosa com tantas coisas para fazer e com o tempo restrito a me sussurrar que terei que fazer uma escolha (e rápida) entre o que preciso  e o que desejo fazer; pois não há maneira de conciliar... de repente escuto alguém chamando por mim. Puxa! Não queria falar com ninguém! Tão bom este silêncio! Ficar aqui, no meu cantinho, só com minhas coisas, por alguns minutos, por uma manhã... atualizar a vida comigo mesma; mesmo que sejam as coisas do dever as priorizadas. Logo identifiquei a voz do meu pai e seus passos um tanto inseguros subindo as escadas até chegar aqui, no mais alto do alto da minha casa, no meu esconderijo e refúgio, de onde tenho a visão de estar plantada no meio da floresta ao redor! Respirei fundo, tentando não imaginar nada; inutilmente, porque de antemão já vislumbrei a figura dele, ofegante, me fazendo alguma queixa ou solicitação de algo. Mas fui surpreendida! Ele chegou no topo da escada e entrou no recinto com as mãos estendidas para mim: - “olha aqui, minha filha, trouxe este lanchinho pra você”! Meu coração quase parou! Tamanha singeleza e ternura do gesto. Veio lá de baixo, da casa dele (que fica no meu pátio), subindo tantas escadas só para me fazer um agrado!  - “Não sei se você vai gostar, minha filha, mas eu trouxe este lanchinho pra você, sei que está trabalhando e não vai sair daí para comer”... eu o interrompi com um abraço! Feliz e tocada com o carinho inesperado e sentindo-me culpada pelos pensamentos anteriores. Agradeci muito! E ele saiu dizendo que eu merecia muito mais. Como pode isto? Estas coisas “pequenas-grandes” que de repente invadem a vida da gente, fazendo tanto bem e que não têm preço... fazendo a gente (re)pensar num sem fim de coisas... São coisas de pai, coisas de mãe, coisas de quem ama. Algo que entra e sai no cotidiano da gente, gratuita, despretenciosa e sutilmente; deixando sempre um perfume inexplicável de benquerer, de ternura, de calor na medida certa, como se fosse uma carícia na alma. Eu me sinto, agora, revigorada e amada. E é só o que preciso para seguir em frente; olhando para o dia, para minha vida e tudo que me é querido, com o coração arejado; a alma cheia de amor, ternura e poesia!

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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