Formatura

Formatura. Há tantos anos ouço meu pai recordar uma melodia “Dia de formatura” e emocionar-se profundamente.  De fato, é um momento ímpar. Na minha história familiar, (raríssimas exceções anteriores), somente os da minha geração em diante puderam ou conseguiram acessar ao mundo acadêmico, a universidade. Não que não houvesse desejo, apenas não era valor ou não havia condições econômicas. O trabalho, sim, este era essencial. Estudar, parecia um luxo, direito de apenas alguns, dos que tinham grana e podiam bancar os filhos em outras cidades, grandes centros, onde estavam as universidades. Hoje, apesar estar presente na cultura como valor e necessidade; de muitos estímulos e facilidades, acessar à escola e, especialmente ao ensino superior, ainda é privilégio. Mas eu desejei e estudei. Trabalhei e estudei, concomitantemente. Meus filhos também tiveram este desejo e foi um prazer, para nós, pais, oportunizar e garantir a continuidade, no estudo de cada um, onde desejaram estar e na carreira que cada qual escolheu. Ontem foi a formatura do meu filho caçula! Revivi aquela mesma emoção de orgulho, de alegria, de felicidade que experimentei na formatura dos dois mais velhos! Compreendi um pouco mais a emoção do meu pai... Um momento de paraíso, de redenção, de plenitude: tudo valeu a pena, tudo estava certo e no lugar onde deveria estar! Quando ouvi o nome dele sendo chamado, foi impulsivo e fundo o levantar da cadeira e exclamar: “é meu filho”! E isto ecoou dentro! E me dei conta que era algo novo e ao mesmo tempo repetitivo. Já dissera isto, em outros momentos distintos, num passado recente: “é minha filha!”... “é meu filho!”. Mas é sempre novo! Porque nenhum filho é igual ao outro e nem eu, mãe igual nestes três momentos. O igual era o sentimento de agradecimento, a felicidade! A emoção arrebatadora!  Ver um filho crescido, usando a "beca", sendo aplaudido, recebendo o canudo e “se virando no mundo”... sujeito! O mesmo filho que “ontem” estava na minha barriga; logo depois entrando na escola, vencendo medos, enfrentando desafios, conquistando autonomia... passando por todas as fases.... crescendo tão rápido, não cabendo mais nas roupas, no colo e nem no espaço da casa; porque o mundo se abria e convidava para sair, explorar, conquistar... tornando-o um cidadão do mundo!  Hoje estou mais emocionada do que ontem; porque o vazio na casa e nos braços ficou mais evidente e definitivo (como deve ser), ao mesmo tempo que abriu-se um espaço imenso de ternura, cumplicidade e esperança num outro lugar, no coração... Não é mais dependência, mas parceria. Ontem fiquei tomada de prazer, euforia! Hoje estou tomada de realidade, de silêncio e compreensão. São todos adultos, formados, pensando, escolhendo e agindo com suas próprias cabeças, pernas, braços e sentimentos!  Cidadãos brasileiros. De pé, entoando o Hino Nacional no auditório da UFSC, a alegria, a emoção, o orgulho não era só por causa do filho bonito, sensível e inteligente, mas também por ser brasileira e por meus filhos  serem cidadãos deste país que eu amo; cidadãos bons,  aptos a pensar, criar, trabalhar e produzir BEM comum!!! Que assim possa ser e meu coração de mãe aquietar!

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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