120 - A caranguejeira

      Ela chegou na minha sala de aula trazida por um professor de biologia, na sexta à tarde. Eu o convidei para vir falar sobre as aranhas, porque os alunos do 3º ano escolheram este tema para a Feira de Ciências. Ele trouxe a caranguejeira! Dentro de um vidro. Imensa, “gordinha”, peludíssima. De verdade, acho que só tinha visto caranguejeiras em filmes. Quando ele entrou na sala com ela, tranqüilo, como se carregasse flores, houve um “alarido” e eu senti as pernas bambas e um enjôo que me obrigou sair para tomar água e respirar, disfarçadamente! Voltei e encontrei o convidado e os alunos numa interação animada; ele falando apaixonadamente sobre as aranhas e suas peculiaridades e os alunos com olhos brilhantes de desejo por saber, curiosos, encantados e interrompendo o tempo todo, com muitas, muitas perguntas e histórias para contar, ilustrar... Depois ele tirou a caranguejeira do vidro e ela começou a andar pelo chão... as crianças vibraram! E tiramos fotos. Aprendemos tanto... Tão bom aprender com quem sabe algo e adora ensinar! Uma aranha daquele tamanho e praticamente inofensiva! Frágil e solitária... Ah! E agora já transformada aos meus olhos! Apesar das reservas, fiquei solidária e vi, ali, uma criatura com direito à vida e privada da liberdade; com seu jeito, sua beleza, suas características. Flagrei o meu medo e pavor gratuitos, associados a preconceitos, fantasias, a um fantasma fora da realidade. Concluí que a ameaça real, ali, era somente a nossa presença. E pude, finalmente deleitar, olhando pra caranguejeira com o olhar das crianças, um olhar que em tudo vê algo interessante, encantador; um olhar que se envolve, se deixa cativar, percebendo essências. Por isto, aprender é bom! Aprender coisas com significado; capazes de produzir mudanças; coisas que marcam, que nos permitem alçar vôos,  livres; desejar mais e nos sentir capazes, próximos, pertencentes a um contexto que não se limita ao nosso umbigo; mas que envolve todas e tantas criaturas, tantas realidades, pequenos mundos...

 

0 comentários:


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog