Magali, o gambá e as metáforas

       
        Acordei com o movimento que meu marido fazia, levantando às pressas e correndo para a área de serviço, que fica no outro lado da casa. Fiquei um pouco tensa, pensando que ele tivesse flagrado um ladrão. Apreensiva, fui atrás. Ele havia mesmo flagrado um ladrão, no galinheiro. Um gambá! O caso era com as nossas galinhas. Estava atrás da Brigite, Magali e Xoxô. 
        Foi uma correria! O ladrão levou uma série de vassouradas; mas não estava disposto a largar a Magali, a mais frágil. Mas teve que largar! Para sobreviver. Fugiu, protegendo-se na escuridão da mata.
        Brigite e Xoxô, em coro cacarejavam seu medo! Magali, desfalecida, passou a madrugada numa caixa. Nós?  Esperamos o dia amanhecer, intranqüilos.
        Sexta-feira é dia de faxina. Decidi investir no meu afeto e no que acredito; alternei a lavação infindável de coisas com minutos de encontro com a sofrida galinha. De cinco ou de dez em dez minutos, conversava com ela, passava um reiki, fazia um carinho. Na primeira e segunda vez, nada de resposta: quietinha, cabeça caída; sem energia. Minha sensação era de frio.  Mas na terceira vez, um calorzinho instaurou-se entre nós e ela ergueu a cabecinha, com um esforço e ouvi um...      
              - Cócócó... – fraquinho!
        Assim, de pouquinho em pouquinho foi me contando daquele momento de pavor. E a energia começou a fluir pelas minhas mãos e eu senti a vida pulsar novamente e o desejo dela, de viver, crescer! Nossa cumplicidade instaurou-se e eu tive certeza de que ela iria viver! Começou a beber água e alimentar-se devagarinho, no dia seguinte. Outros cuidados que vieram depois e a continuidade do reiki, recuperaram a Magali!
        Ainda não está no galinheiro, com as outras. Primeiro porque, após uma tentativa, as companheiras, não reconhecendo a amiga, ou sabe-se lá porque outros motivos conscientes ou inconscientes das galinhas, voltaram-se contra ela, enchendo-a de bicadas. E segundo, porque ainda está “mancando”. Certamente sequelas ficarão daquele ataque inesperado, violento. Concordamos, aqui em casa, que temos que planejar sua reintegração gradual ao grupo. 
          E eu estou aqui, com metáforas exultantes dentro de mim! A natureza tem suas leis.  A galinha, o gambá, eu, você, temos o direito de viver. Queremos viver! Muitos de nós, antes de viver, têm que se preocupar em sobreviver. Uns sucumbem, outros avançam. Viver é bom, mas dá trabalho. Uns não se contentam com seu espaço e ambicionam o espaço do outro... invadem, violam, machucam, nas sombras ou em nome de dogmas, leis, justificativas, resistências, preconceitos, intolerâncias, poder, moeda, ignorância. Uns não amadurecem e permanecem infantis, egoístas, e não sabem ou não conseguem viver fraternalmente; ajudar-se, proteger-se, acolher um ao outro. Só veem a si mesmos, suas necessidades, sua dor, sua verdade, seu momento... Apesar de todas estas constatações que habitam dentro e fora,“metade de mim”, feliz, segue! Cada dia mais observadora, atenta, percebendo e aprendendo sobre esta energia extraordinária, que é a energia vital, o reiki. Observando, sentindo e aprendendo sobre esta fantástica energia do afeto. Ambas, de uma só vertente: a poderosa energia curativa e transformadora do  AMOR!

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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