Coragem é preciso


            

          


            - “Vovó! Eu acho que não fui tão corajosa assim”!

       Sentada no banco de trás do carro, a menina lia e relia, decodificando com cuidado, o “certificado de coragem” que  recebera após uma coleta de sangue. Era visível o conflito.

       - Por que, querida?

       - “Ah! Eu chorei! Eu não queria tirar sangue... eu tive medo daquela agulha”...

       - Sei... mas você foi corajosa! Você não queria, chorou, sentiu medo mas foi em frente! Aí está a coragem!!!! Assim é o corajoso, a corajosa!

       Por um tempo, silêncio. Kenny G preencheu o espaço; acarinhou nossos corações, nossa emoção.

       Uma música inteira depois:

       - “Vovó, já sei! Eu pensei: vamos fazer uma festa! Uma festa pra coragem”!

       - E como seria esta festa?

       - “Ah! A gente faz uns pudinzinhos, uns salgadinhos, pipoca, um chá e chama o pai e as tias” (a mãe estava viajando e a pequena passando uns dias na casa da vovó)!

       - Hãhã... e quando?

       - “Hoje, vovó! Depois da aula, de tardinha”.

       Sim! – refletiu a vó.  A coragem merece uma celebração!

       Enquanto a vovó providenciava o almoço, a pequena fazia as ligações, autônoma. Mas a lista era pequenina! A vovó disse que estava preparada para receber só um pequeno grupo.

       Chegou eufórica da escola, no final da tarde! Como a vovó havia organizado a mesa; ela foi preparar as filhas (bonecas); pois eram convidadas especiais.

       Os outros convidados chegaram: o pai, o tio e a tia que moram próximos e uma tia que estava de férias. Nossa! Era muita alegria extrapolando pelos olhinhos da pequena e, expectativa pelos olhos dos “grandes!

       Após o lanche, ela cochichou;

    - "Vovó! Acho que vou fazer umas lembrancinhas para eles"...

    No sábado anterior, participara de um “Chá de bonecas”, na casa de uma amiga e recebera, ao final, um bilhetinho personalizado que a deixara emocionada! Isto estava bem vivo na sua memória.

Sentou, então, na sua mesa de trabalho e produziu, muito seria e laboriosamente, palavras e frases para os adultos e para as filhas! Depois, foi entregando, uma a uma. Todos tinham que ler. Foi um “momento e tanto”; envolvendo uma escrita alfabética e uma leitura apaixonantes!

O que se passava na cabecinha da pequena e no seu coração, naquele momento... quem poderia saber?! E no coração dos adultos? Cada um se (re)encontrando com suas interioridades e com sua emoção... se permitindo perceber, contatar ou não...

Um encontro inusitado por um motivo mais do que justificado: celebrar a coragem! E era segunda-feira! Que dia mais espetacular para celebrar esta virtude! A coragem que temos! Ou a coragem que nos falta! Ou a coragem que queremos e precisamos  resgatar e forjar cotidianamente... Sem coragem, como viver? Seguir?  Lutar? Construir? Conquistar? Cativar? Esperançar? Mudar? Transformar?

Ah! Que sorte nós temos! Nós, adultos convivendo com crianças! Sorte de viver isto e tantas outras coisas que nos permitem crescer e humanizar de momento a momento! Oportunidades singelas! De pouco aparato e de muito conteúdo! Intensas! Merecendo olhar e escuta! Merecendo lugar e celebração!


 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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