101 - Saudade

                           A saudade, quando chega, arrasa! Sempre grande, avassaladora, mas com roupagem diferente; o que se adequa com algo que encontrei por aí escrito, sobre sua origem etimológica: “é a palavra saudade, de origem tão obscura como o fundo dos mares portugueses, tão misteriosa como a virgindade das selvas brasileiras, ou tão cheia de calor como as terras de Angola ou Moçambique...”. Por vezes, bate na porta em forma de vazio, “oquidão” insuportável, fantasma invisível que desestabiliza, desassossega; porque nada mais existe para preencher, passou, acabou... ou vem vestida de lembranças adoráveis, que confortam e preenchem o momento com beleza, conteúdo, sensibilidade! De repente chega inesperadamente, na carona de um sonho do qual não se quer mais acordar e cujas imagens e sensações se prolongam, perpetuam durante o dia, dias, meses, anos... parecendo que “para sempre” tão forte e “real” no nosso desejo e imaginação; configurando-se numa saudade infinita e sem trégua de algo que não se viveu mas que, contraditoriamente se sabe como é; o que é pior do que qualquer outra. Há momentos em que se apresenta como um monstro, uma bruxa desgrenhada, horrível, má, que apavora e desampara, porque não há remédio, nem solução, a não ser a entrega e a espera de que passe, amenizando gradativamente, com o tempo... Mas ela também chega de mansinho, como algo bom e curativo, tornada presente ou instaurada por uma melodia, uma brisa, um gesto, uma fala, um “nada” sutil, uma lembrança qualquer que ressignifica a ausência de um dia, um olhar, uma flor, um lugar, um sorriso, um abraço, uma palavra, uma descoberta única, um encontro fundo que aconteceu lá e ficou lá, mas que feito elástico vem até o agora e de um jeito que não se explica e nem justifica, é sempre presente, verdadeiro, bonito e jardineiro zeloso.
É surpreendente
como, de repente
te tornas presente
urgente, vivo!
Mesmo ausente,
distante,
está inteiro
nos sons,
na natureza
que vibra ao redor
e também dentro,
pulsando no pensamento
borbulhando no coração
correndo pelas veias,
diluído nas respirações...
necessário e especial.



 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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