131 - O ciclo....

        Gradativamente as fases e as lidanças da vida vão se apresentando. Nossa infância, depois a adolescência, juventude, o trabalho, casamento, filhos; a vida dos filhos por sua vez ascendendo e a gente envelhecendo e os nossos pais, tios, a nossa frente, murchando e se encaminhando para algo inevitável. De onde estou, agora, posso ter uma visão da vida inteira: o início, o meio e o fim. Inevitável. Claro. Certo. Antes não pensava no fim. Não via o fim. Agora vejo. Agora presto mais atenção. Antes esperava com ansiedade as folhinhas das violetas aparecerem, desenvolverem e por, fim, as flores delicadas surgirem e isto era tudo! A minha alegria em vê-las! Uma flor sucedendo a outra. Não prestava atenção naquelas que iam murchando, se tornando adubo. Agora eu vejo como vão perdendo o brilho, a cor, se encolhendo, desmanchando. E sinto; me despeço delas e agradeço o que me deram. Antes não tinha este sentimento. Agora, o que ocorre ao redor convoca meu olhar para a velhice. Não para a velhice digna que sonhamos para nós e para os nossos queridos; não para o ideal de uma velhice tranqüila, com lucidez e sabedoria. Mas para uma velhice que parece ser a realidade maior: uma colheita triste de equívocos, enganos, ilusões, abandono, dor, solidão, imaturidade, despreparo. Como parece ter sido a vida toda. Com a velhice vem a fragilidade e se não há amparo de afeto, de acolhimento de outros ou uma força pessoal construída no aprendizado duro da vida, o sujeito cai, marionete ou atrapalho na “ vida organizada” dos outros, especialmente nesta nossa cultura, que se fecha e resiste aos imprevistos, aos inusitados que atrapalham, questionam ou querem furar a rotina construída, os muros erguidos para proteger nossa intimidade; esconder nossos egoísmos, medos e inseguranças. Todo meu ideal de amor conflitua e é questionado, posto a prova. Por que acabar assim? Por que asilos, a doença, a miserabilidade, a perda da memória, da razão, dos sentidos, dos movimentos, da dignidade? Há culpa? Algo que um abraço, uma palavra, um dia, num momento especial e necessário tivesse feito a diferença? Como saber...

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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