Gente do BEM

        


   - “Moço, preciso cumprimentá-lo! É extremamente prazeroso encontrar uma pessoa do  BEM”!
        Não resisti! Meu coração ia explodir de ternura e se eu não fosse cumprimentá-lo, não teria paz! Ele era um ilustre desconhecido e dificilmente o encontraria novamente! Ao seu redor, uma aura de leveza e alegria!
        Estávamos no mercado. Literalmente “cheio”. Gente pra todo lado; filas quilométricas de carrinhos gigantescos, transbordando de compras por causa dos  descontos e promoções. Pessoas de  todos os tipos, cores e humores dirigindo os carrinhos e circulando pelos corredores imensos.
        Eu não havia percebido que estava na fila dos caixas “preferenciais” (gestantes, idosos, etc). Meu marido escolhera o lugar enquanto eu concluía uma compra e depois foi para o carro, nos aguardar. Fiquei ali, na fila, distraída, conversando com meu filho. Na nossa frente, dois moços haitianos, com dois carrinhos fartos! Eles estavam muito alegres e tiravam fotos. Um fiscal do supermercado veio e falou que era proibido tirar fotos dentro do mercado. Os rapazes não entenderam, num primeiro momento e ele teve que repetir e repetir; Até que guardaram o celular. Fiquei intrigada, porque enquanto fazia as compras, casualmente vi um grupo de moças tirando fotos, com "pose" e tudo, tranquilamente, no meio do supermercado e ninguém fazendo observações a elas.
        Um tempo depois, quando seriam os próximos a passar suas compras no caixa, novamente os haitianos foram abordados pelo mesmo “fiscal”; que disse que eles não poderiam ficar ali, porque o caixa era “preferencial”. Os rapazes definitivamente não entendiam o motivo, mas compreenderam que depois de toda espera, teriam que sair daquela fila. Neste momento, eu também me dei conta de que estava na fila de um caixa preferencial e fiquei um pouco tensa. Nunca entro nesta fila; não me incluo, ainda, no perfil!!!  E foi então que um moço, da fila ao lado, entrou em cena! Ele não iniciou uma discussão com o fiscal e nem incitou críticas e reações hostis a ele, não! Ele pediu licença, a cada um dos que estavam na sua  fila (e era uma porção de gente), para colocar os dois haitianos na frente dele; uma vez que a sua fila não era de caixa preferencial e ele estava muito inconformado pelo fato de que os rapazes teriam que, depois de ter esperado todo aquele tempo e, justo na sua vez se chegar no caixa, ir novamente para o final de uma daquelas filas intermináveis... Todo mundo concordou! Incrível! Ele falou com muita educação, com respeito, mas com convicção.  E os dois haitianos e seus dois carrinhos repletos de compras, trocaram de fila, muito sérios, agradecidos! O fato criou um clima diferente, ali, ao nosso redor; de calmaria, suavidades! Meu coração transbordou por presenciar uma atitude concreta de implicação com o outro, com a cordialidade! Ninguém reclamou de esperar mais um pouco! Foi um gesto de renúncia e amor fraterno a desconhecidos que produziu prazer, bem estar. Acredito que muita e muita reflexão, também.
        Receando ser advertida pelo fiscal, movimentei meu carinho para procurar outra fila. Mas o mesmo moço não deixou. Gentil e prontamente ele disse que meu lugar, ali, estava assegurado, que eu não saísse. Fiquei. Senti-me amparada! Senti orgulho de nós, ali, vivenciando algo  que poderia e pode ser considerado, por alguém, banal... só que aparentemente! Porque em verdade, essência e  realidade, de grandes significantes!
Depois, enquanto meu filho levava as compras para o carro, fui até o moço, que por sua  vez, agora estava no caixa. Era imperioso olhar nos seus olhos, apertar sua mão, talvez dar um abraço! Agradecer por oportunizar a todos nós, ali, entrar em contato com algo BOM; quando somos cotidianamente bombardeados com notícias,  visões e atitudes ruins, de descaso, de humilhação, de violência, de egoísmo, grosserias, indiferença e asperezas.
        Ele ficou muito emocionado! Agradecido. Não estava esperando esta minha devolutiva. Beijou minha mão e falou: “Obrigado! Todos nós “ganhamos o nosso dia, hoje, senhora! Muito obrigado”!

        Eu não consegui falar tudo que tinha vontade; porque estava muito mexida e lacrimejante. Mas acredito que ele entendeu: “moço, continue distribuindo e semeando  gentileza e respeito, não desista”! Isto faz muito bem à saúde e à alma!
            

 

2 comentários:

arlete disse...

Que bonito, Maisa. Tenho observado que, em meio a tantas mas notícias, há uma onda de boas noticias de pessoas boas sendo compartilhadas. A " corrente do bem" precisa vencer!

Maisa Schmitz disse...

Acredito nisto, Arlete! Depende de nós! E, que bonita sua lembrança da "Corrente do Bem". É TUDO DE BOM!!!!


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog