Formatura





E ontem foi a formatura do Leo! Conclusão do Ensino Médio. E eu gostei do telefonema anterior: “tia, quero que você vá na minha formatura”, na sexta! Eu queria! No caminho, a pequena Margot, junto, perguntou, com aquele olhar curioso e encantador das crianças e criaturas desejantes: 
        - “Vovó, o que é formatura”?
        - Uma coisa bem linda! Você vai ver! – respondi. 
        E foi! Muito bonito! Cheio de significâncias, detalhes... e adoro detalhes! Olhar pra eles, fazer leituras de borda. Especificamente, comecei minha leitura pelo longo trajeto  compreendido entre a entrada do portão e entrada do salão: uma escadaria! Lembrando caminho, subida, elevação... Caminho árduo, portanto! Junto à porta principal, cheia de luzes e brilhos delicados, havia uma árvore estilizada; que eu interpretei como sendo uma árvore de Natal. Nela, pendurados, cartões! Curiosa, abri um e ah! Fui abrindo outro e mais outro... Continham traçados, caligrafias singulares, que produziram grande surpresa e emoção em mim... Eram pequenas frases! Grandes desejos que pulsavam nas minhas mãos, diante dos meus olhos, do tipo: “ Quero ser feliz”... “Trabalhar, casar com a mulher que eu amo, ter filhos”... “Quero passar no vestibular, no curso que eu quero e me formar”... “Estudar, trabalhar, cuidar e curtir a vida”... “Viver com saúde, estar com os  amigos, trabalhar, ser feliz”... “ Quero me formar, ter uma vida legal fazendo o que gosto e com quem eu gosto”... Evidentemente não pude ler todos. Eram muitos e a curiosidade da netinha era grande para entrar;  ver o que havia lá “dentro desta formatura”... Eu já estava me deleitando muito, desvelando aquelas essências! Gosto de colocar a aparência a serviço da essência! Considerei a montagem da árvore, um trabalho de grande sensibilidade! 
O clima era de festa, alegria claro! E teve tudo o que é de praxe nas cerimônias de formatura: beleza, esmero no traje, no cabelo, na maquiagem, nos acessórios, no caminhar! Entrega de certificados; discursos e homenagens! E menções, prêmios aos alunos destaques; o que me deprime, sempre. Acho que o momento de formatura é de todos! Os “louros individuais” poderiam ser entregues em outro momento. Porém, eu me esforço, quando isto acontece, para entender o contexto de cada instituição. E coloquei foco na essência: era a formatura do Leo, sobrinho querido, singular e talentoso! E, para completar minha alegria, ali também estavam alguns ex-alunos! Rapazes e moças que conheci pequeninos; acompanhei durante um bom tempo e quando chegou a época, alfabetizei, lá no Quintal! Tão diferentes, agora; crescidos, elegantes!
Observei cada um que era chamado para receber seu certificado... Todos com aquele passo entre firme e titubeante; que, desafiador e confiante,  quer e vai em frente... mas que ainda, por vezes, hesita... necessita de um olhar e de uma mão que assegure: “Vai! Estou contigo”! Naquele momento, como em tantos outros, que atualizaram na memória, eu senti e imaginei que os professores, ali presentes, também sentiam: orgulho de ser professor! 
Os jovens formandos não se comportaram como meros expectadores! Cada vez mais eu via as aparências embelezando as essências! Eles participaram; vibrando, falando, cantando; mostrando talentos e sonhos... muito, muito além dos necessários para passar num vestibular! E de sonhos foi o que mais se falou ali. Especialmente um velhinho; um personagem maravilhoso que entrou de mansinho, de repente e, diante da silenciosa e pulsante platéia, falou sobre SONHOS!  De tê-los bem claro! De exaltá-los! De perseguí-los! De cultivá-los! De protegê-los! De não abandoná-los! E caso isto aconteça: de resgatá-los!
        Impossível, para mim,  encontrar com esta palavra: FORMATURA e não lembrar do meu pai! Ela provocava grande comoção nele; especialmente porque lhe recordava  uma melodia... “A formatura... é linda esta música”, ele sempre dizia, cantarolando-a. Nós ríamos, porque não a conhecíamos e porque, quando falava dos seus sentimentos, o pai exagerava nos gestos, no tom de voz; teatralizava!  Aos poucos, na lidança com os próprios sentimentos, aprendi que não é fácil encará-los e compreendi porque o pai precisava de um “traguinho”, ou então brincar, para expressar o que sentia. A partir disto, passei a “ler” de outra forma, o meu "velhinho". Quando, um dia, a curiosidade foi grande demais, procurei por esta melodia e, encontrando-a, entendi o olhar lacrimejante do meu pai, sempre que a ela se referia. E eu também chorei! Piegas, mas real. Uma canção que fala do esforço e da alegria de uma mãe, abandonada pelo companheiro, para criar e “formar” seu filho; que, finalmente,  recebia seu diploma de médico!
        Ah! Com este significante, olho para elas, as formaturas, sempre com o olhar marejado! Não me canso, não sinto fastio. Eu curto! Curti as “minhas formaturas”, todas: do ginásio, do magistério e da faculdade! Naquela época, os aparatos externos não eram tão apelativos; era tudo mais comedido e, de acordo com meu olhar e entendimento, focado na essência. Mas a emoção de vencer uma etapa; de chegar ao fim de um ciclo, de uma caminhada; de “chegar lá”... acredito que seja a mesma; independe dos aparatos. É bom demais! É prazeroso! Motivo de orgulho!  Para todos!
         No decorrer da vida, no encontro e na lidança com escola, eu me deparei com aqueles que viveram intensamente esta culminância em cada fechamento de ciclo, até a chegada do tão esperado diploma universitário. Vibrei com eles! E também com outros, que optaram por não querer e não participar desta festa. Vibrei com eles, também! Cada um escolheu de acordo com o seu momento. Considero isto especial. Aprendizado. Escolher é fundamental!  Isto é bem diferente de não poder ou de não ter opção; como muitos! Estudar porque todo mundo estuda; ir pra faculdade porque todo mundo vai; ir pra formatura porque todo mundo vai... estudar para passar num vestibular... não! Estudar é um prazer! Para tudo há um momento e um por quê. Alguém vive sem estudar? Sem aprender, neste cotidiano tão desafiador, cheio de demandas? E só existe este caminho para estudar: o da escola? Diplomas não garantem sucesso, felicidade, êxito e nem um emprego; todos sabem e pesquisas recentes confirmam. Exemplos disto também não faltam. Mas ajudam, facilitam algumas coisas. É um caminho... um bom caminho! Acredito que possa melhorar! Eu gosto dele! Gosto da escola! Na verdade, adoro! 
E, a bem desta verdade, é preciso distinguir as coisas: oferecer, garantir o acesso de todos, ao estudo de qualidade,  interessante, cativante; do Infantil ao Superior, é uma coisa! É (ou deveria ser) dever do estado, da sociedade, da escola, da família... Porém, a escolha do sujeito e\ou sua adaptação a esta sequência, é outra coisa! Nem todos se adequam. Quais as alternativas para estes? Organizar a sociedade, o mercado,  para acolher os profissionais que se formam; é algo também muito sério e que precisa andar concomitante. 
Há tanta coisa envolvida, misturada, nisto: muito ideal; muita coisa boa e muita coisa desnecessária, ultrapassada;  coisas belas e coisas inúteis; promissoras e injustas, construtivas e desafiadoras... Sim, há muito para estudar, refletir, amadurecer, avançar, conquistar, transformar em relação a isto!
Por ora, sem perder o foco no que é justo e necessário, vamos curtindo este presente e os belos momentos com que nos presenteia! Parabéns por ontem, queridos alunos! Parabéns por ontem, Leo!!!! Acalentem vocês e acalentemos nós todos, o que nos foi recomendado: não esqueçamos dos nossos sonhos! Nenhum dia!
Voltando para casa, perguntei à pequena:
- E então querida, gostou da formatura do Leo?
- Gostei, vovó!!!!
- Agora já sabe o que é uma formatura?
- Sei, vó! É uma porção de gente sentada!!!!

            

 

0 comentários:


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog