Alívio


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- “Vovô, por que você vai subir na árvore? Cuidado, vovô, não vai cair! Você está cortando a árvore, vovô”? – pergunta a pequena, curiosa e inquieta.
- “Não, querida! O vovô não vai cair e não vai cortar a árvore! O vovô só vai tirar estas plantinhas que se grudaram na nogueira. Elas estão fazendo a nogueira sofrer. Estão tirando a comida dela. Se a gente deixar assim, a árvore vai secar, vai morrer! E não dá! Esta árvore tem sido muito boa para todos, há muitos anos! Nos tem  dado nozes gostosas... agora é nossa vez de ajudar a nogueira; fazer alguma coisa boa para ela”! – respondeu o vovô, esquecendo a idade e escalando o tronco e os galhos da velha e boa nogueira; como se fosse um garoto!  
Sem entender muito bem, a pequena chamou-me: - “Vovó, vem só ver o vovô! – e aninhou-se no meu colo, olhando o vovô; deixando entrever duas preocupações: uma com a árvore, que precisava de ajuda e outra com o vovô, que podia cair...
Mas o vovô não caiu. Foi limpando, com zelo e tenacidade, o tronco da generosa nogueira, que agonizava “nas mãos” dos parasitas.
- “Por hoje, tá bom... temos que arrumar uma escada maior para limpar os galhos mais altos”... – disse o vovô, um longo tempo depois.
Dava para ver que a nogueira estava respirando melhor!
Observando a cena, pensei no quanto meus olhos e interpretação tinham se equivocado. Muitas e muitas vezes olhara para a majestosa nogueira e a admirara ainda mais por aquela cobertura  verdinha, que no meu entender, a deixava mais bonita! Mas não era assim. Era uma coisa de aparência. Nada a ver com a essência ou realidade. A planta, uma parasita, estava sugando e destruindo a nogueira, que não tinha como se defender. Curiosa, investiguei... há muitas coisas interessantes sobre plantas parasitas  e sobre este “abraço fatal” que dão nas árvores...
Ah! Quantas metáforas a nogueira possibilitou! Como é importante a gente “apurar”, sutilizar e aprofundar o olhar! Como vemos pouco... ou como é superficial e muitas vezes, ingênuo o nosso olhar. Maravilhoso poder e saber que é possível ver, saber, aliviar, libertar.   

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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