Sissi


      Sissi  apareceu  perto  do  meio dia. A vovó e a  netinha de cinco anos, voltavam de um trabalho exaustivo e praticamente inútil: varrer e  juntar  as folhas que, cansadas ou curiosas, despencam, graciosas e afoitas, do arvoredo em redor; acumulando-se nas calçadas, meio fio, rua e jardim, todos os dias; toda  hora; todo minuto. Ah! Que trabalho duro! Só mesmo duas tonchas, uma “veia” e outra nova, para “dar conta” deste imaginário!
- “Que trabalheira, né vovó! Olha! Elas não param de cair”... 
Preparar o almoço era uma boa justificativa para encerrar o trabalho; naquele momento, sem que isto parecesse uma derrota!    Quando abriam as janelas para arejar a cozinha, viram o inseto, grudadinho no vidro!
Um mosquito? Uma libélula? Não. Nunca tinham visto uma figurinha deste tipo; diferente, elegante e cheia de cerimônias. O que fazia ali? E ficaram entregues, esquecidas do tempo, contemplando-se mutuamente, através da parede de vidro: ela pelo lado de fora; a vovó e a pequena, pelo de dentro. As panelas, a comida, o fogão, lá... esperando. O assunto, ali na janela, é que era o urgente, o interessante!!!!
O inseto dava sinais de que queria comunicação! Mexia as anteninhas, as asas, as patinhas, abria a boquinha, visível que só! Passava uma e outra patinha pela cabeça, como se estivesse preocupado com algo.
Era instigante demais! A  vovó lembrou das panelas:
- Conversa com ela, querida! A vovó vai começar o almoço.
Mexendo nas panelas, observava o movimento da menina e do inseto. A pequena aproximou-se do vidro e conversava baixinho. A vovó não conseguia escutar.
- “O nome dela é Sissi, vovó! Eu perguntei e ela balançou a cabeça, dizendo que sim. E ela é uma fadinha! Olha só o corpinho dela!!!!
- É, ela é muito linda, querida!
- “Vovó! Eu não entendo o que ela fala, ainda; mas eu pergunto e ela responde com as patinhas e a cabeça. A gente ficou amiga!... Vou contar um segredo pra ela”!
A vovó distanciou-se para não escutar algo sem querer. O momento, na janela, era de grande intimidade e cumplicidade. Coisa sagrada. Não dava para invadir. A conversa foi longa... Até que pequena anunciou:
- “Ela já foi, vovó! Tinha que ir pra casa. Acho que vou fazer um desenho e deixar pra ela, se ela voltar quando eu não estiver aqui”.
Ganhou um abraço da vovó e foi procurar o material.
As duas voltaram para o trabalho. Uma preparando a comida e a outra, um desenho para sua nova amiga. Um silêncio gostoso aquele. Silêncio preenchido.
- “Pronto vovó! Vou deixar o desenho aqui na janela, pertinho de onde ela estava. Deixa bem aqui! Não deixa ninguém mexer! Quando a Sissi voltar, vai ver e vai gostar! As amigas gostam de fazer desenhos e dar, uma pra outra”...

Promessa é promessa. O desenho permanece ali, na janela. E a vovó espera. Espera a netinha e a Sissi. Em algum momento as duas voltarão e será tudo de bom, as três juntas, tomarem um chá e conversar “tonchisses”.

 

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