108 - Amadurecendo

      - "Ah! Mas a gente perdeu a copa por causa do Felipe Melo, né, professora?! Ele fez um gol contra!”. - lamenta um garoto do 3º ano.
      - "É, mas você já fez dois gols contra, no nosso jogo, um dia destes, lembra?”. – interfere outro.
     - 'Né, professora, que até o melhor goleiro do mundo pode levar um frango?” - questiona um terceiro.
     - "Jogo é jogo. Tem que saber ganhar e perder, como na OLINQUI, né, professora?!” - já procura consolar um quarto.
    Eu acho tão fofo! Fico tão feliz ouvindo, acompanhando as conversas deles! Vejo como observam, refletem, processam, amadurecem suas percepções... procurando ver os dois lados da questão que ocorre; encontrar saídas para os problemas, para as frustrações; como se articulam com a palavra em busca do que é justo, dentro da lógica e perspectiva deles e como buscam e precisam da mediação do adulto neste processo. E é aí que reside a maior responsabilidade do educar e do educador; no meu entendimento. Aí, a delicadeza e a seriedade do processo! É isto que mexe conosco; porque mexe com os nossos valores, nosso conteúdo, nossa riqueza e também com a nossa pequenez e limitações. Ultrapassa a responsabilidade de “ensinar ler, escrever, calcular, compreender a história, a geografia, a ciência, línguas, arte e filosofia”. Trata-se de educar sujeitos, cidadãos singulares, únicos e não de fazer pequenos xerox de mim, dos pais, de interesses e expectativas e, do sistema. Acompanhar e não atrapalhar. Orientar e não direcionar. Desafiar e não dar a resposta pronta; ao mesmo tempo que acolher as devolutivas, como elas podem ser dadas e não como se quer e conseguir respeitar e não comparar! E ainda questionar, “mas será que não poderia ser de outro modo, será que não pode caprichar um pouco mais, dar um pouco mais?...”. Que responsabilidade quero para mim, professora? A de estimular a construção de sujeitos com mentes fechadas, preconceituosas, arrogantes, competitivas e elitistas, separacionistas? Eu sonho que sejam cientistas e poetas; desenvolvam o raciocínio e a sensibilidade; que pensem, olhem e sintam, se posicionem e encontrem alegria e caminhos dentro da complexidade ou da simplicidade; dentro de uma medida justa para si mesmos e para os outros, como aprendo. Eu sonho, eu quero, eu me dedico; mas esbarro, como disse, nas minhas limitações e falho. E aprendo e também amadureço. Não tem como. Nada pronto. Tudo em processo e o olhar precisa estar sempre atento, implicado, reflexivo, para que não se perca o prumo.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom dinda, adorei mesmo :)
bjs Luna

Oficina Pequeno Pintor disse...

Que olhar lindo e profundo! Cada dia que passa te admiro mais e mais, pois quando vejo tua atuação e postura diante das situações ainda acredito que o mundo tem JEITO!
LIIINNNDA!
da tua amiga Andrea.

Anônimo disse...

Me sensibilizo com sua reflexão e ao mesmo tempo lamento, por não ter trilhado em minha vida uma professora que estimulasse a simplicidade e a pureza da poesia que existe dentro de mim. Talvez ela só apareça e transborde nos momentos de solidão, abismo, vazio... Mas aos poucos aprendo, me reconstruo e me implico não pelo amor, mas talvez pela dor...
Abraços com muita cumplicidade, Michele.

Michele disse...

Me sensibilizo com sua reflexão e ao mesmo tempo lamento, por não ter trilhado em minha vida uma professora que estimulasse a simplicidade e a pureza da poesia que existe dentro de mim. Talvez ela só apareça e transborde nos momentos de solidão, abismo, vazio... Mas aos poucos aprendo, me reconstruo e me implico não pelo amor, mas talvez pela dor...
Abraços com muita cumplicidade, Michele.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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