113 - Pontes

          Olho as fotos que meu filho envia de lugares, paisagens, países, pessoas, belezas, tesouros preservados que contam a história, a trajetória bonita, marcada por grandes feitos e grandes desatinos da humanidade... maravilhas singulares que dificilmente verei com meus olhos... vejo através dos olhos dele e me emociono com isto, porque me fazem sentir e ficar perto dele e também mais consciente da presença destes tantos outros com quem reparto o espaço neste planeta; pessoas que nunca verei, com quem não trocarei um olhar, uma palavra, mas com quem talvez, tenha afinidades; uma vez que têm suas histórias particulares de trabalho, sonhos, conquistas, cotidianos, mazelas, expectativas e esperanças como todos... apesar da língua, clima, fuso horário, costumes e tradições diferentes. Eu me encanto em relação ao quanto podemos aumentar ou diminuir as distâncias! De repente, através de um pequeno instrumento, posso, além de escrever, ver o meu filho em tempo real, conversar, ouvir a sua voz e ao mesmo tempo fazer, como toda mãe, a leitura dos seus gestos, expressões, do seu olhar... lá onde está, quase do outro lado do planeta, onde tudo é tão diferente deste nosso contexto, aqui. Eu penso: o que se passa com ele e com todos estes, que como ele, em um e outro momento tornam-se cidadãos do mundo, neste movimento de transitar e conhecer e partilhar espaço e tempo com tantas diferenças? Com certeza, esta riqueza de horizontes deve ou deveria, penso, humanizar muito mais, amadurecer e solidarizar ... quanto aprender com estes que experimentam frio e calor mais intenso e com aqueles que convivem com o tempo de claridade ou de escuridão maior do que este que conhecemos; com aqueles que conviveram ou ainda convivem com guerras ininterruptas, destruições, invasões e grandes reconstruções; com a diversidade de alternativas para sobreviver, ser organizar, avançar; com a diversidade de línguas para expressar os mesmos sentimentos; com o conhecimento, com a poesia, a música, a arte como um todo, resultante destas experiências... com os limites que as condições geográficas, climáticas, culturais e econômicas impõem! Num momento como este, de observação e reflexão, eu percebo com clareza, assim como tantos e tantos outros, o quanto são absurdas, tolas e infantis, as divisões, a intolerância, o racismo, o preconceito, as invasões; o exercício, a imposição de poder, de conceitos, de atitudes de uns para com os outros, em todos os aspectos! Os encontros, as descobertas, os aprendizados, as invenções, as partilhas são tão importantes! Produzem grande bem, tanto entre os povos como entre os sujeitos! Pena que tudo aquilo que construímos para melhorar a vida, aproximar, também serve para machucar e separar. E isto que machuca, destrói e afasta não está diluído no anonimato ou restrito a alguns monstros que nomeamos e apontamos na história e no dia-a-dia; também está dentro de cada um de nós. Sempre gostei das pontes. E gosto de ver meus filhos e alunos aqui e os filhos e alunos dos outros ali e lá, construindo pontes e alargando horizontes, encurtando distâncias; é uma esperança de que os canteiros de flores e os bosques continuem verdes, coloridos e interligados, garantindo a vida, a alegria, os encontros e a poesia, no planeta.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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