Capitulina (1)

Meu pai, “a vida toda”, diante de algo inusitado ou dúbio, falou em tom malicioso, que “oooolha... Capitulino começou assim...”. Nunca soubemos de fato, quem era o Capitulino, nem o que aconteceu com ele e nem como tudo começou (o pai nunca chegou a contar).  Com certeza é algo que nem ele sabe; apenas repetiu e repete, até hoje, uma expressão machista, lá do tempo dele...; mas eu sempre achei graça e, intrigada, ao longo dos anos investiguei, sem muita implicação; mas atenta aos acontecimentos. Não descobri o que aconteceu com o Capitulino, mas partilho que encontrei a “Capitulina”! Soube o que aconteceu com ela; que nada tem a ver com a Capitulina de Machado de Assis e, como tudo começou.  Descobri que quando nasceu, Capitulina tinha olhos grandes, curiosos, alegres, desejantes. Olhos gulosos! Aos poucos, sem que os familiares percebessem, foi perdendo a gula, o brilho e por um longo tempo de vida, viu muito pouco de tudo. Interessante que era como se visse, porque ninguém percebeu que ela não enxergava; nem ela! Passou muitos anos sem ver as coisas de fato; mas eis que de repente, começou a ver! Fantástico! Um processo silencioso e anônimo; que não abalou e nem interferiu no cotidiano individual ou coletivo de ninguém, porque Capitulina era comum; tinha uma vida comum; embora lá no íntimo, bem íntimo, bem escondido, alimentasse sonhos incomuns.

 

0 comentários:


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog