81... e quantos dias de sol, pai?

    O vô Xmitão, a neta Llian e a bisneta Maria Margot
     
      Hoje, 81 anos, né, pai!  Vai haver um bolinho, sei. Meus irmãos e os filhos deles, teus netos e os bisnetos daí, certamente vão passar  à tardinha, para o abraço, o chimarrão e aquelas conversas características entre o Ximitão e sua prole. Eu não estarei, nem meus filhos e nem a bisneta daqui. É tão longe para uma visita de final de semana... Ao telefone, hoje cedo,  disseste que tua meta é chegar aos 82, “bater o record” dos teus irmãos... Eu não imagino o mundo sem ti, pai! Vais viver muito, ainda! O tempo passou. Passou tanto e a música que ouço agora me leva tão rapidamente, de volta, por tantos caminhos, estradas e dias do passado... me enchendo de emoção a cada reencontro, que preciso chorar a distância destes dias vividos; porque foram tão belos, mesmo os de dureza e dor. Tudo tão intenso! Intensas presenças e intensas faltas. Intensas marcas.  Eu me lembro de ti, pai, em tantos dias, tantos contextos, tantas histórias... na minha infância, na adolescência, na juventude e neste meu tempo de vida madura e também na vida dos meus irmãos. Lembro de nós, todos pequenos, esperando tua chegada de viagem, nos finais de semana, ansiosos pelos presentinhos, coisas boas pra gente: rapadurinhas, queijo, ovos, frutas! Das visitas na casa do vô e da vó. Gostavas dos teus pais, havia um grande carinho não falado, mas perceptível, como um fio que nos enlaçava e eu gostava daquele aconchego, de escutar as conversas de vocês. Aquilo me dava uma sensação de pertencer. Recordo da delícia que era irmos, de quando em quando, a um restaurante! Ou tomar sorvete! Ou ganhar um “diamante negro”! Dar uma voltinha ao redor da praça! Pequenas deleites que enfeitavam a vida e pelos quais esperávamos pacientemente. Sinto saudades das passeatas pelas ruas de Ijuí, quando das vitórias do Inter! Eu, na janela, levando a bandeira vermelha, tu buzinando e os manos batendo tampas de panelas!!!! Ah! Que coisa boa!!! Éramos os donos do mundo porque o nosso time, o melhor time do mundo! Era um orgulho ir nas lojas e ouvir: Ah! Você é filha do “Schmitz do Samrsla” ou o “Schmitz da Casa dos Retalhos”. Isto me dizia que tu eras uma pessoa de bem. Que o meu pai era conhecido e querido, considerado por tantas pessoas na cidade!  Eu admirava, também a tua assinatura! Aquelas letras desenhadas. Eu acompanhava com admiração quando assinavas um documento, meu boletim, um cheque... e imaginava se um dia teria uma assinatura assim, tão bonita e difícil de fazer!    Lembro de como foste te organizando e melhorando nossa vida. E de repente podíamos ir à praia! E viajávamos de fusca e de Kombi, no verão! O carro cheio! Roupas novas! E na praia, tínhamos sorvete ou picolé garantido, todos os dias! Nem precisávamos pedir. Lembro dos carros que tivemos, de como tudo foi conquistado aos poucos... uma Rural, depois o Fusca, a kombi, a Belina,  e a “Catarina” (variant)... e outro fusca! Gosto de fusca até hoje! Fizemos viagens memoráveis de fusca, não é?!!! Lembro do meu debut e do meu casamento; dois momentos muito especiais em que você entrou comigo nos ambientes e do quanto ambos estávamos nervosos, mas juntos! E lembro que um dia socorreste minha filha, bebê, levando-a ao hospital, salvando-a, num momento em que eu não estava em casa... E do carinho que deste aos meus filhos.  Sempre admirei tua alegria, pai! Teu bom humor e esta tua habilidade de jogar, brincar com as palavras, criar expressões a partir de outras!  Claro que um dia eu descobri tua humanidade, tuas falhas, tuas fraquezas e deslizes. Claro que de muitas coisas eu não gostei. Coisas que foram duras e difíceis para mim; deixaram marcas.  A vida ensina que ninguém escapa de seu pai e sua mãe. Eu também marquei meus filhos. Porém, o tempo e a distância redimem, suavizam, minimizam... e, no nosso caso,  o que ficou é o afeto, a ternura; só o amor! Real ou imaginário, não importa... o que importa são os frutos que produziu: frutos amorosos.  Hoje te imaginei aí, no teu Rio Grande, o sol, que tu amas, entrando de manhãzinha pelas janelas,  portas e portões! Te envolvendo, refletido na tua careca e nos teus olhos sempre marejados d”água; “remoendo” todas estas coisas que nós sabemos que te ocupam... Mas fique tranqüilo! Nós, teus filhos, estamos bem. Teus filhos são homens de bem. Eu, tua filha sou uma mulher forte. Teus netos, todos, belos e batalhando pela vida, cheios de saúde, criativos, inteligentes! E teus bisnetos, preciosas promessas de futuro! O sol está brilhando, pai, dentro. Nunca deixou de brilhar, nem de aquecer. Estamos contigo. Te amo! Feliz aniversário! 

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              

 

1 comentários:

elis teixeira disse...

Sem palavras!... Humanamente lindo.


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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