Originalidade

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- “Eu acho que se todo mundo tivesse coragem de falar, as coisas poderiam mudar e as pessoas deixariam de fumar e beber”... “eu perguntei para minha mãe por que as pessoas falsificam coisas... mas ela não soube responder”... Ai que fofos!  Por alguns momentos, no nosso dia de encontro, a aula é deles. Depois é nossa.  Quando no tempo deles, fico de lado, só observando e cuidando do tempo (para não ficar sem tempo!) “babando” de orgulho e desejando que houvesse uma janela para o mundo, afim de que todos pudessem partilhar comigo. Hoje, no 5º ano, como de nosso costume, dois alunos estavam à frente do grupo, apresentando o  assunto escolhidos por eles para expor aos colegas: drogas e falsificação. Eu não teria sugerido estas temáticas a eles! Fiquei surpresa, com expectativa para ver como conduziriam o pensamento, o que teria destaque nas suas falas. Vencendo o natural nervosismo, certa “vergonha” diante de um “grande público”, os dois, um menino e uma menina, tomaram a palavra e bem articulados com ela, seguiram apresentando e argumentando com emoção e propriedade, em favor de suas impressões e “certezas”, questionamentos e experiências; ordenando a participação dos colegas que ouviam e também queriam fazer seus relatos; sustentando seus braços erguidos, para não perder a vez. A turma ainda não participou do programa PROERD, mas  quando o programa chegar na escola, os instrutores serão surpreendidos! Na interlocução, em relação às drogas,  focaram o uso do cigarro e da bebida e, em relação à falsificação, a adulteração de CDs (jogos, música) calçados e brinquedos. São crianças, falaram do seu mundo, do que vivenciam, escutam, sofrem, acompanham, observam, leem, assistem. O que não é pouco para a idade deles.  As crianças não estão sendo poupadas de nada, infelizmente. Acho que nunca foram. Se eu não oportunizasse estes momentos de expressão, também não saberia  sobre isto que eles armazenam, elaboram e constroem, a partir do que observam a nosso respeito e a respeito do mundo que  entregamos a eles. A sala de aula, com sua enorme listagem de programas e conteúdos exigentes e repetitivos, nem sempre abre espaço para o “novo, o pulsante, o vivo”, a não ser que a gente priorize e incursione pelas ruas paralelas e transversais, que eu adoro! Ouvi, depositária da confiança deles,  muitos relatos emocionados sobre coisas vividas e sobretudo, de alguns fantasmas que perseguem alguns, sobre o medo de perder pessoas queridas por causa do cigarro e da bebida ou, de sofrer as conseqüências advindas do uso da bebida, nas relações cotidianas e no trânsito. Queriam saber, com insistência, os motivos que levam alguém a falsificar coisas! Tantas coisas passaram pela minha cabeça... recordações, meus próprios medos e fantasmas nascidos lá na infância... vontade de proteger, de garantir que não existem e não existirão perigos e sofrimentos, nem maus exemplos, nem violência e nem injustiça; ou que não perderão nenhum de seus queridos para as drogas e nem para a bandidagem, corrupção... Encerramos a parte deles com muitos aplausos e com estas pérolas de fato; pensamentos importantes que germinam dentro deles: “importante, né Maisa, é a gente pensar com a própria cabeça”!... “a gente precisa ter coragem de falar estas coisas, daí elas podem melhorar”... “a gente também pode falar estas coisas para os pais e ajudar”... “tem que ir falando, mesmo que não escutem... até que escutem!”... “é bom e é preciso cuidar, se informar, antes de comprar alguma coisa em algum lugar”... “ melhor comprar o original, o falsificado logo estraga ou estraga os aparelhos”...  Toda semana, este privilégio de rever e renovar o olhar! Que coisa! Sintonia bonita a de hoje! Mesmo sem combinar, os dois alunos trouxeram assuntos afins e que ficaram, certamente, suscitando sentimentos e pensamentos, como em mim. Depois disto? Fomos fazer poesia! Então fiquei pensando que a originalidade é o belo, a saúde, a felicidade e que a adulteração, a falsificação da nossa originalidade ou das originalidades alheias enfraquece, estraga, produz dor. Precisamos das “bengalas” da “ilusão” ou das “vantagens”? Nós não nos temos, uns aos outros? Por que então não nos buscamos? 

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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