Casinha

Brincar de casinha! Mamãe, papai e filhinha! Me encanta! Impressionante ficar observando como as crianças gostam e se articulam e organizam para brincar; como distribuem os papéis, quando em grupo. Por vezes acontecem impasses e disputas; mas geralmente concordam e fazem circular os papéis, depois de definidos. E ali, na casinha, reproduzem suas percepções, as falas, atitudes, tons e jeitos dos adultos do seu convívio. Quando a gente se reconhece em algumas delas, descobre como a criança “nos lê”, interpreta; o que sinaliza muitas coisas e nos oportuniza reflexão e mudança. Fiquei surpresa quando vi minha neta brincando de “mamãe”, tão pequenina! Ninando, alimentando suas bonecas; conversando com elas amorosamente; fazendo coisas na casa, "imitando" ações das mulheres do seu convívio. Não se trata somente de uma pura e simples imitação do universo adulto; mas também de uma identificação com o mundo feminino.
O vovô construiu uma casinha num espaço singular, protegendo uma árvore que passa pelo meio da varandinha. Os objetos foram aparecendo e compondo o ambiente; presentinhos da vovó, dos dindos, do papai e da mamãe, dos tios e de alguns amigos. Algumas coisas recicladas. Uma festa para Maria! Tapetinho na porta. Varalzinho na varanda. Prateleirinhas, mesa e cadeirinhas. E as filhinhas! E  a lidança começa...
Hora de recolher a roupa, no varal... “E agora... "(ela repete quando quer sinalizar que vai mudar de foco)...
Hora de passar e dobrar. "E agora..."

Hora de cortar os legumes e preparar a sopa... "E agora..."
Hora de dar sopa às filhinhas: “Mari e Sorvetinha”... "E agora..."

Hora de pegar o baton da vovó.... "E agora..."  
Hora de receber visitas...
E conversa e risos!
Assim como acontece com as outras crianças, Maria vivencia a preciosa "fase do simbólico". Este é o seu mundo do agora. Encantador, rico e grande do ponto de vista do tamanho, da idade. Vai crescer  e enxergar outros “mundos”, outros horizontes, caminhos e possibilidades; outras coisas com as quais irá ou poderá  identificar-se e, que de repente, não  terão nada a ver com este “trinômio” que nos marca e singulariza na raiz: mulher X casa X maternidade. Muitas mulheres já não se ocupam das atividades da casa e muitas abdicam da maternidade em prol de outras coisas. Mas, agora, esta identificação  com estas questões é muito importante para  a descoberta e compreensão de si mesma, do seu gênero e do mundo que a cerca e desafia; para se organizar e situar no seu contexto; para trabalhar e expressar pensamentos e sentimentos; elaborar hipóteses e conceitos. Tão bonito isto! E tão bom: brincar de casinha! 
- "Vamu bincá di cajinha, vovó Isa! Vem... vem...". 
   
                                                                                                       
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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