Senta aqui, vovó!

         



Ela esperava por mim. Uma senhora desconhecida, tímida, um pouco ansiosa. Enquanto me estendia a mão, também entregava um bilhete. Nele, uma ex-colega apresentava esta senhora e solicitava que eu a escutasse. Fiquei um pouco tensa, tentando adivinhar o que ela queria, o que esperava de mim. Sentamos para conversar...
Ela era mãe. Também era empregada doméstica, analfabeta; sozinha, com uma porção de filhos para criar. Estava pedindo socorro, desesperada com a situação de um destes filhos, pequeno ainda, que não se ajusta mais à escola, às regras, às leis; agressivo e com grande dificuldade para o aprendizado; “ainda não sabe ler e não tem vontade de aprender, de fazer tarefas escolares...” . Uma mãe dedicada, que via o filho sofrer e produzir desconforto aos outros, desajustado.  Ela buscava uma ajuda, uma palavra, um horizonte, sedenta: “professora, eu faço qualquer coisa para ajudar meu filho! O que a senhora disser para eu fazer, para onde ir, onde buscar... eu faço, eu vou... Não sei ler, mas eu vou perguntando aqui e ali... eu acho, eu chego lá...!” Estar ali, segundo ela, era o último lugar, última esperança... Contou-me que espera, a cada dia, que este filho seja chamado, inscrito que está, num destes programas municipais de atendimento especializado infância; preocupada, porque sabe e sente que o menino precisa de ajuda urgente, imediata e ela não vem (realidade triste da saúde e da educação no nosso país)... Eu tive vontade de dizer a ela que eu tinha escuta, mas não tinha o poder do milagre! Mas calei e ouvi, ouvi, ouvi... tanta coisa triste e também tanta coisa bonita de superação e luta... Eu tinha que manter a esperança, não só a dela; a minha também. Ela chorou e eu também, por dentro, porque por fora, eu estava “só ouvidos”. Esta escuta e um encaminhamento para contatar a pessoa  certa para a ajuda concreta, foi o que eu pude (tão pouco) dar a ela naquele momento. Minha alma de cidadã, de mãe, de avó e de profe colocou-se no lugar dela, sentiu e sofreu a dor dela. Compreendeu. Com o encaminhamento, ela saiu mais tranqüila e eu também, com a escuta e aprendizado que fizera, sentindo-me mais humana e agradecida.
Durante a conversa, lembrei muito da Maria, minha neta. De quando ela me chama: “vem uouó Isa! "Xenta" qui, chão”; sinalizando, batendo, com a mãozinha, no lugar onde devo sentar, ao seu lado. Aí sento e então conversamos, rimos, cantamos; conto história, brincamos de casinha e lanchamos... Ela me convoca para isto e eu fico feliz por estar ali, por poder partilhar. Por ser um lugar seguro para ela e ela ser uma alegria ímpar para mim! 
Sentar junto, conversar... , escutar e falar... Assim temos uma possibilidade rica de aprender e ensinar; de encontrar soluções, respostas, caminhos, consenso, de forma pacífica e mais justa. Construir respeito, cumplicidade. Estabelecer e aprofundar laços de afeto. Humanizar.  


 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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