Desapego

A mãe entrou na sala onde eu estava, apreensiva. Uma jovem mãe. Estava preocupada porque sua filhinha, de 1 ano e 7 meses, iria fazer seu primeiro passeio de topic com os colegas de escola. Um passeio curtinho; mas o primeiro da pequena sem a presença do pai e da mãe ou de um dos avós, que comumente ajudam, na lidança com ela, no cotidiano. Observei o quanto ela era bela e o quanto mais bela era nesta condição de mãe, esquecida de si e focada na filha! Os olhos brilhavam numa mistura de inquietude, orgulho, insegurança e expectativa que singulariza, aproxima e unifica todas as mães do mundo diante do  filho, a partir do momento em que ele descobre e avança no mundo, desligando-se dela e começa caminhar com suas próprias pernas, rumo a um desconhecido, rival e apaixonante! Ela queria e autorizara que a filha fosse ao passeio; mas temia que fosse. Temia o que todas nós, tememos: o inusitado desconhecido e nossa impotência diante do seu humor instável e planos. Ela pediu-me, olhos suplicantes e brilhantes:
- “Olha pra mim! Veja se ela senta direitinho na cadeirinha; se o cinto está bem  colocado... se ela tomou água e se está tudo bem, antes da topic sair...”.
Eu via a fragilidade e a força, ali juntas: a mãe titubeante, oscilando entre a mãe que teme e a mãe que encaminha; a mãe que entrega e a mãe que prende....  a mãe insegura e a mãe confiante. Desejei abraçá-la para confortar e garantir, plenamente, que tudo sairia bem. Tenho desejado, inúmeras vezes nesta vida, este poder de garantir, além de desejar. Mas não tenho. Aquela mãe querida não era somente uma mãe de aluno. Era minha filha. E cada um destes meus papéis, ali: professora, mãe e avó ficaram muito distintos e em nenhum deles eu estava confortável; no momento. Mas eu precisava dar uma resposta. E ali, naquele contexto, respondi como professora, como profissional que sou e que acredita no seu trabalho: que tudo estava bem organizado, ficasse tranquila. E estava e, como sempre,  correu tudo bem! E amadurecemos mais um pouco, as  três: eu, a vó; ela, a mãe e a pequena, que se encanta cada vez mais  com o mundo e nos convoca a tantas perguntas e respostas, desafios, aprendizados e redescobertas.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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