As filhas e a mãe

Duas mulheres fortes, uma em frente a outra, mostrando sua arte, a arte de vender. Vender coisas de uma essência marcadamente feminina, mas não preconceituosa: jóias e produtos para o corpo e ambientes. Dos mostruários saíam os produtos, acompanhados de palavras e demonstrações. Cremes com fragrâncias deliciosas eram espalhados em mãos e braços, deixando um rastro de  suavidade na pele e bem estar no ambiente, que, antes,  já exalava verdes de todo tipo. Anéis, correntes, pulseiras, brincos, dourados, prateados, coloridos brilhavam diante de nosso olhos, numa combinação fantástica com os perfumes e com o universo feminino. Eu observava, cativada. Gostava daquilo; dava vontade de comprar tudo! De me enfeitar toda com aquelas jóias e ficar assim, tão perfumada! Pele sedosa e atraente. Ficar bela! Concluí que todas nós, mulheres, merecíamos isto. Enfeites! Adornos. Perfumes, delicadezas. Eu observava. Mas, confesso, que muito mais do que pelos produtos, cativada por aquelas duas mulheres ali, na minha frente. Belas e fortes; enfeitadas e perfumadas de singularidades.
Uma viaja todos os dias, cada dia um itinerário, certo ou incerto; uma nova cidade, um novo bairro, uma nova rua... levando seu mostruário de porta em porta, conclamando a vaidade feminina; mobilizando desejos, alimentando fantasias, preenchendo vazios, acrescentando alegria aos olhos do “mulheriu” por aí afora. Desbravadora! Destemida e persistente: “todo “não” que eu recebo, me motiva e eu volto lá”. Uma sedutora ensinado sedução; sem intenção! A intenção é vender, trabalhar, ganhar o sustento. Mas eu desconfio. Faz muito mais do que isto! Então, porque teria esta alegria e brilho todo no olhar e nos tons de voz falando de um trabalho desgastante e tão incerto, quanto este, de bater de porta em porta, debaixo de sol, chuva, frio, calor; ciente da incerteza; oferecendo algo, aparentemente supérfluo, como jóias; sabendo que quem tem interesse e possibilidades, pode ir à lojas especializadas, existentes para todos os gostos e bolsos, nas cidades? Ela própria poderia trabalhar numa loja destas, no conforto, no ar condicionado; com salário certo e etc.
A outra, diferente, mas do mesmo jeito apaixonada, vibrante: “eu tenho meu trabalho, sou enfermeira, mas eu gosto das vendas”! Oferece o seu produto nos círculos mais restritos, o dos amigos e conhecidos; depois do expediente. Não se cansa. Não almeja ir pra casa, descansar em frente à TV. Um complemento à renda familiar? Sim. Mas não só. Não! Também não descuida de nada da casa, filhos, marido. Mas há algo a mais! Sim! Há muito brilho no olhar! Muito desejo impulsionando a curiosidade a lugares tão distantes; a procurar e buscar produtos, implicar-se com eles e sair oferecendo a outras mulheres; decidida, convicta! Também esta poderia, então, trabalhar numa loja, num contra-turno; com o amparo de uma estrutura montada, mais segura e confortável.
Eu observava, cativada! Admirando; porque é admirável! Tanta garra, tanta força, ânimo para fazer! Fiquei pensando nisto e a lembrança de outras tantas mulheres guerreiras, veio à mente. Nossa! Sou privilegiada neste quesito. Rodeada por valorosas  e virtuosas (em todos aspectos) descendentes das amazonas! 
Observo, agora, da minha janela, a Mãe Natureza. Vem dali, desta nossa Mãe extremosa, o exemplo! Ela trabalha muito! É incansável e persistente. É bela, cheia de sutilezas e mistérios. E forte! Com mil e uma utilidades e sempre com o olho brilhante! Resistindo bravamente; verde, cheia de esperança e desejo! Obviamente, todas nós “puxamos à Mãe”! Até Maria, tão pequenina, já se identifica com esta Mãe guerreira bela, perfumada, enfeitada, cheia de iniciativa, doçura e força e, também ela já se lança no mundo, decidida, em busca do que quer. E a Mãe não esquece, não nega e não omite, às filhas, no entanto, que cada passo tem seu preço. E não é barato.

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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