Ao pé da letra



- Vamos brincar de super-heroína, vovó?
- Vamos! Só que a vovó brinca e prepara o almoço, tá bom?
        A proposta não foi muito do agrado da pequena, mas concordou. Sabia que ali só tinha a vovó para fazer o almoço e, ao mesmo tempo, só a vovó para brincar com ela.
        - Você precisa me ensinar esta brincadeira, querida; porque a vovó não sabe brincar disto. Quando era pequena, eu brincava de outras coisas. Não conhecia as super-heroínas, só as fadas, as bruxas e as  princesas...
        - Ta bom, vó, eu te ensino! – e abriu um sorriso gigante!
        Nos intervalos entre o cortar legumes, amassar o aipim para fazer o escondidinho; preparar a salada, lavar a louça, lá ia eu, a  vovó, entrando no imaginário da pequena; correndo pela cozinha para socorrer uma velhinha perseguida por um assaltante malvado! Salvar um gatinho preso por uma bruxa! Resgatar um bebê que havia caído no rio! Libertar o meu pai e meu avô que estavam prisioneiros de perigosos bandidos... ufa!!! Vida de super-heroína é dura!
        Depois de um tempo, cansei! Propus, então,  brincarmos de restaurante:
        - Eu sou a dona do restaurante e você vem almoçar, tá bom? Pode trazer sua filha (a boneca Pepina)... que tal?
        - Sim, vovó! – concordou ela, olhos brilhando; porque pra ela, brincar é tudo! Está sempre pronta!!!
        Veio, sentou na mesinha do “restaurante” e ficou aguardando, com a filhinha ao lado, no carrinho.
        - Só um minutinho, viu, minha senhora! Minha ajudante não chegou ainda e as coisas estão um pouco atrasadas... mas vou servir um pinhãozinho de aperitivo e um chazinho... pode ser? – falei, como “dona do restaurante e cozinheira”.
        - Claro! Tudo bem! Adoro pinhão e chazinho! – falou a minha “cliente”.
        Depois de experimentar o “aperitivo”, partilhar o mesmo com a filha Pepina e fazer “mil caras e bocas” a “cliente” elogiou:
        - Está uma delícia! Pode servir mais um pouquinho?
        Eu servi e quando voltei para as panelas, comecei, repentinamente,  a “chorar”. A pequena “cliente” tirou os olhos do pinhão e da filha. Olhou preocupada e perguntou-me, gentilmente, aproximando-se:
        - O que foi, dona cozinheira?
        - É que daqui a pouco vou receber visitas para o almoço... minha ajudante não chegou e eu não sei cozinhar muito bem....
A “cliente” ficou muito séria, pensativa... de repente, falou, solícita:
        - Não se preocupe! Ela vai chegar loguinho e vai dar tudo certo!
        - Será? Mas e se ela não chegar? O que vou fazer?  - Eu "chorava" insistente e exageradamente.
     - Calma! Eu vou torcer por você! – falou a “cliente”, cheia de compaixão.
        - Vai torcer por mim? Ai que bom! Obrigada! - falei, animada, no papel da cozinheira.
        - Vou sim e a comida vai ficar bem deliciosa! Vou torcer bastante!
        E ato contínuo, começou a torcida, batendo palmas:
        - Maisa! Maisa! Maisa! Maisa!
        Coisa linda!
      Era uma torcida entusiasmadíssima! Literal. A fantasia e a realidade transitando de lá para cá, em perfeita sintonia entre nós duas e entre nossos mundos internos e externos. Enchi de abraços e beijos!!!! 

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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