Meu pai



Provedor.

Cidadão posicionado,

trabalhador.

Teve muitos amigos!

Mas não foi ilustre,

não foi letrado,

nem poderoso, nem abastado!

Não foi consenso.

Teve defeitos reconhecidos,

apontados.

Porém, encontrou e viveu,

como poucos privilegiados,

a sua singularidade!

Intensamente!

E, deixou-me uma riqueza:

um remédio poderoso

que cuida das minhas feridas

e mantém meu encanto

pela vida, todos os dias!

Ele me apresentou

e presenteou com dois mundos:

um, do olhar curioso, apaixonado

e o outro, das palavras,

sempre geradoras de outras 

e outras e mais outras....

Neste seu olhar profundo

e interação criativa

com as palavras,

faltou, certamente, a delicadeza,

o verniz, o fino trato;

mas nunca, a sutileza!

Via o que outros não viam!

Revestia e desvestia palavras

transformando-as em outras

com a maestria e simplicidade

de um poeta

que não se descobriu ser.

Imagina! Ele não se dava

a menor importância;

intitulava-se semianalfabeto!

Oscilou entre a

a boemia e a clausura.

A “cangibrina”, tão polemizada,

foi o divã na lidança

com as privações, humilhações,

culpas, os limites,

a ignorância sobre tantas coisas,

a sensibilidade incompreendida

e os sonhos...

porque os seus olhos,

marejados de horizonte,

sonhavam, sim!

Há tempos investigo

e viajo por estes horizontes, pai!

Dia destes,

olhando-me no espelho,

eu te vi, querido!


 

1 comentários:

Unknown disse...

Noooooossa !!!!!!!!!
Verdadeiro, muito lindo !!!!!!!!


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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