Minha casa



        

         Ah! Domingo maravilhoso! Pura alegria e beleza para onde corre o olhar! Desconfio de um pacto entre o sol, o céu, o mar, os verdes, as cores, as borboletas, a passarada, a brisa, a temperatura e o nosso  humor! Só para nos lembrar quem de fato somos, onde estamos, o que estamos fazendo aqui, como estamos fazendo e o que realmente tem importância! Dia de paraíso! Impossível não perceber e não sentir esta onda de benquerer! De leveza! De alegria genuína e singela! Será o espírito natalino chegando? Nossa sensibilidade aflorada por alguma magia; “colher de chá” das divindades? Será nossa “humanidade” vivendo um momento de liberdade; livre do querer, do poder, do ter, do consumir, do espinhar, do oprimir... livre para ver! Livre para enxergar novos horizontes! Livre para sentir! Livre!!! Livre para só respirar... sentir o peito expandir, o curação pulsar! E não sozinho! Dá para ouvir as minhas batidas e as do coração do outro... e do vento... e das ondas.... e da floresta... e do universo! Ah!  Corações em uníssono numa manhã ensolarada e risonha de domingo!
Caminhávamos  na calçada, procurando  um lugar para almoçar. Eu estava tomada por esta alegria interna em funda sintonia com a externa - tão raro! – contemplando os arredores e nem vi como se deu o encontro. “Peguei” a conversa já iniciada:
- “Pois é, moro aqui! Olha só que beleza a minha casa! Eu tenho dois andares onde posso dormir, me abrigar, descansar! Se pular o muro, tenho, do outro lado, o mar! – dizia um rapaz, faceiro, ao nosso lado.
Eu procurei a casa, enquanto ele - e então vi que era um catador de lixo - pegou o seu carrinho e lá se foi, cantarolando, feliz! Olhou para trás, para nós e completou:
- “À noite, eu volto para minha linda casa”!
Falou com alegria, com intimidade; como se fôssemos amigos nos reencontrando! Não havia preocupação, nem temor, nem deboche, nem desconfiança.  Simplesmente partilhava sua alegria, o seu bem! Era clara a sua certeza de que veríamos a sua casa com seus olhos e que sobre ela, teríamos a mesma opinão, o mesmo encanto, o mesmo orgulho, o mesmo respeito, o mesmo valor!
Foi então que eu vi a sua casa.
Vi primeiro a flor!  E a partir dela todos os demais detalhes e significantes.
Partilho este presente! Hoje parece ser o dia das coisas boas, dos presentes sutis, estes que nos tocam por inteiro. Destes que quanto mais olho, toco, remexo, mais coisas ele me dá,  fala,  acorda; faz borbulhar meus  sentimentos, minha consciência; produz indignação, silêncio, emoção, lágrimas, pensamentos e um pensamento "mas do que é mesmo que estamos falando"?
       Das minhas memórias mais fundas emergiu, logo depois deste encontro, a frase, das mais lindas: “onde está o teu tesouro, aí está também teu coração”! Desconfio que minha alma soprou-me isto isto no afã, na esperança de que com ela, eu possa aproveitar melhor o presente. 


 

0 comentários:


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog