Inscrições rupestres





   - O que será que está "escrito" ali, profe?

Referia-se às inscrições rupestres que investigávamos no Museu Ao Ar livre do Costão do Santinho, Floripa.

O mar sabia, mas eu não. E ele nos contemplava, silencioso, ciumento dos segredos que guardava e, ao mesmo tempo, curioso, olhos brilhantes e desafiadores: eu saberia ler? Intuir? Imaginar?

Tentei. Fechei os olhos e tentei esquecer minha ralidade, minha história, meus aprendizados e buscas. Tentei me concentrar apenas na brisa, no canto de algumas aves navegando o azul solitário  e nas águas do mar espalhando-se no infinito e por entre as rochas e na areia silenciosa da praia... Que significantes tiveram para os nossos ancestrais? O que lhes falaram as tempestades noturnas? As ondas inconstantes? As gigantestas rochas? O interior das matas, seus incontáveis tons? As noites estreladas? O lamento do vento; a cantoria da chuva? O que seus olhos viam e que inquietudes  ardiam em sua alma diante do sol surgindo no horizonte? Da lua espelhada nas águas? Da maré ondulante? Da alternância do frio e do calor? Da impotência diante da dor; da ignorância diante dos sentidos, dos mistérios da vida e da morte?

Um fio de emoção percorreu e unificou meu corpo. Depois, diluí no momento...

Agora, atrevo-me, sim, a dizer o que eu sinto: são inscrições poéticas! Certamente, entre os primitivos, também havia os inquietados, os apaixonados, os doidivanos que ansiavam expressar o que lhes fustigava as entranhas, numa tentativa de inscrever, de traduzir o intraduzível.

Riqueza maravilhosa! Um ponto, uma possibilidade de encontro... como assim é, até hoje, a escrita. Maravilhoso este "interseccionar" singular dentro e fora, passado e presente, a vida e sua grafia! 



 

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