Misturados e fortes




Um dia, um momento de grande alegria, emoção e honra para mim foi este, de estar ao lado dele e ter junto, minha neta!

Ele, no entanto, não estava sentindo como eu. Contou-me que se sentia envergonhado por precisar deixar sua tribo, lá no nordeste do país e se deslocar, graças à intervenção e favor de outros, para divulgar e conseguir recursos à sobrevivência dos seus; uma vez que a terra e a água, onde viviam, cansadas, não ofereciam mais esta condição.

Doeu fundo. Que dívida impagável nós temos com os povos indígenas! Assim como com os negros! Só muito amor, perdão, humildade e benquerer para cuidar destas feridas, destas marcas esculpidas no corpo e na alma.

        Seria de esperar que o tempo, o progresso, a educação tivessem oportunizado o aprendizado e a evolução do ser humano em relação aos seus erros históricos. Temos exceções, mas a discriminação e o preconceito, ervas daninhas, se alastram, em pleno século XXI, corrompendo e destruindo laços, possibilidades de encontro. Fortalecendo os muros e as máscaras. Pessoas continuam se colocando acima das outras e pessoas continuam padecendo e seguindo à margem.

       Muitas coisas são possíveis consertar, organizar, melhorar através de lutas, movimentos, negociações e leis. Mas respeito, consideração, reconhecimento de que o outro é um ser humano também, com os mesmos direitos e deveres, independentemente de como ele seja; estes,  lei nenhuma consegue colocar dentro da cabeça e do coração de quem não sente, não pensa e não quer isto. É algo de outra ordem. Vem de herança. Mas também pode ser construído através do exemplo; através da educação do olhar, da sensibilidade, da palavra e da consciência. E é isto que alimenta a esperança e mantém nosso olhar “encharcado de horizonte”, como diz o poeta gaúcho! Podemos mudar!

Só muito amor, perdão, humildade e benquerer para cuidar destas feridas, destas marcas esculpidas no corpo e na alma. Vontade política e ética para (re)organizar nossa cabeça, nosso coração e nossa sociedade com justeza.

Dançaremos, um dia, misturados e fortes, celebrando o dia de cada um e das singularidades, com orgulho e respeito?

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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