Vovó fez uma tatoo


       
        

       A vovó admirava tatuagens. Alimentava um desejo (secreto por muitos anos; depois exposto, olho brilhando, por mais alguns anos) de fazer uma; sonhava com uma pequenina, próxima à nuca.

Entretanto,  nunca priorizava este desejo. Até que às vésperas de tornar-se sexagenária, um dos filhos disse:

- Mãe, agora você vai fazer uma tatuagem! É meu presente de aniversário!

Friozinho na barriga foi pouco! De repente, o sonho que repousava sossegado, acordou ansioso! Mas nada agradava. Um desenho parecia muito grande, outro exagerado, outro muito colorido; um era “nada a ver”, outro, inadequado... até que:

- Mãe, deixa eu ver este papel aí na tua mão...

A vovó organizava desenhos e “trabalhos” que a netinha fazia e deixava de recordação para ela quando vinha visitá-la.

- Hummmm... ele disse. – Olha só que bonita esta assinatura do nome dela! O que você acha, mãe?


Ela? Ela adorava! Amava as palavras! E gostava demais destes primeiros traçados das crianças em fase de construção da sua alfabetização. Amava os registros dos alunos.... imagina, então, o que sentia por estes primeiros escritos da neta, especialmente do nome dela!

 - Ai, filho! Que ideia bonita! Tatuar o nome da Maria... Ah! Tudo de bom!  

E ela, que nunca tinha pensado em tatuar palavras, tomou-se de encanto pela hipótese de tatuar o nome da neta! Impossível pensar, olhar, escolher outra coisa depois disto! Era muito mais do que um nome, do que uma palavra. Era uma história de vida, de crenças, de sonhos, de ideais. Um registro externo de uma infinitude de registros e marcas internas, na memória dos sentidos e no coração.

- Olha aqui, mãe, achei outro desenho dela! Lá em cima tem uma florzinha... Que tal a gente juntar o nome e a flor?


E assim foi! O filho levou a mãe para fazer a primeira tatuagem dela! Só que uma tatoo dessas não podia ficar lá nas costas, visível só para os outros. Fez no pulso direito. Ah! Foi um dia memorável!

Quando a pequena, no dia do aniversário da avó, viu a tatuagem, ficou surpresa. Mais tarde, longe do olhar dos outros, chegou pertinho da vovó, abraçou-a e perguntou:

- Doeu para escrever meu nome aí, vovó?

- Não, tonchinha! A vovó só sentiu alegria!!!! É para comemorar nossos aniversários: os sessenta anos da vovó, hoje e os seis anos seus, daqui alguns dias! O que você acha?

A pequena pegou a mão da vovó e deu um beijo estalado na tatuagem. E as duas riram seus sentimentos!

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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