07- Mitão e Delgadinha (1)

      Mitão vivenciou na pele um ditado popular que ele mesmo propagava: “quem desdenha quer comprar”. De verdade, ele era “o bom”, o esperto, o tal. Bom de bola, bom de papo, bom de olho. Nossa! Tinha um olho que via tudo. Tudo que ninguém via e que ele chamava de “lance”: -“... mas bah! Hoje vi um lance...”. E olha que sempre tinha alguém com ele, alguém que também via mas que de fato, realmente não via tudo o que ele via. Acredite: era uma delícia ouví-lo narrar o “lance”; era quase melhor do que ver. Mitão tinha o dom da narrativa, que enriquecia com expressões faciais e gestuais incomparáveis. Ah! E ele também era bom de fazer ironia, jogar com as palavras e fazer trocadilhos, especialmente em relação às mulheres; mas só depois que elas passavam ou não estavam presentes, porque tinha um código de honra: “não se fala bobagem e nem palavrão na frente de criança e de mulher”. Quando a mulher, sob sua ótica, estava fora dos padrões, fazia ironias, especialmente com as gordinhas: “olha só aquela delgadinha” e ria. Um dia, Mitão tremeu na base! Entrava no seu fusquinha verde limão quando foi assaltado: -“passa a grana, véio”...! Fechou os olhos e só conseguia pensar “é agora que vou me borrar todo”... quando ouviu: -“quieto aí, cara... !” Era uma voz feminina, fria, cortante. Mitão abriu os olhos a tempo de ver o ladrão fugindo. Depois olhou na direção de onde vinha a voz: -“você está bem, moço?...”. Era uma policial e se aproximava dele. Imediatamente o olhar investigador entrou em ação e avaliou: “bonitona”... “morena!”... e, “bem delgadinha”... Ela chegou mais perto e ele registrou: “é bonita mesmo!... ”. Ela sorriu e ele registrou: “simpática, uma bonequinha...”. Ela estendeu a mão e ele, todo atrapalhado, respondeu: -“ é delgadinha!...”. Ela fechou o sorriso: -“ O quê?...”.

 

1 comentários:

Anônimo disse...

figura lendária esse Mitão... único e imperdível!!!! Dudi


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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