42 - Onde está Teseu?


          Eu nunca gostei dos labirintos. Tive medo deles na infância. Todas as vezes que entrei em algum deles, em brincadeiras, fiquei apavorada! Com a sensação de estar sufocada, perdida, sem noção de direção e até mesmo de tempo naquela busca enlouquecida de encontrar logo a saída. Nada é bonito num labirinto; não há para onde olhar, curtir. Não há beleza, só presenças ameaçadoras, desconforto, medo. Tudo que se quer, é sair dali. Imaginei muitas vezes aquele horrível labirinto de Creta, construído por Dédalo, onde, de acordo com a mitologia, reinava o solitário minotauro, esperando por suas vítimas, encurraladas, desesperadas e sem a mínima chance de escapar. Em quantos labirintos a gente entra, voluntaria ou involuntariamente, no decorrer da vida?!!! Onde se reproduzem estas mesmas sensações de desespero, desamparo; quando nos sentimos ameaçados por algo terrível, monstruoso e diante do qual nos sentimos impotentes, frágeis, desorientados, perdidos, sozinhos e sem conseguir encontrar nem mesmo a menor possibilidade de saída... Muitas vezes o labirinto está somente dentro da mente da gente e ele é pavoroso! Quando nos deparamos com teorias, conceitos, preconceitos, fantasias, hipóteses, idéias, valores diferentes e contraditórios, que infernizam e paralisam as chances de “ser feliz”, de ter sossego, encontrar o nosso eixo e a própria verdade. Uma crise de labirintite faz a gente experimentar sensações semelhantes, quando náuseas e tonturas ininterruptas nos fazem perder o chão, a noção de tempo e espaço e mergulhar num mundo desesperador onde nada se articula, organiza, se mantém de pé e não se encontra conforto, em posição, em lugar nenhum e o que se encontra é somente o nada vertiginoso nos engolindo, num sorriso vitorioso. A etimologia, em relação à palavra labirinto, aponta para uma derivação “que se entronca com “lábrys”, machado de corte duplo”. Um mestre, chamado Samael, fala que “Conta a tradição que no centro do Labirinto existia a síntese, isto é, o Lábaro do Templo. A palavra labirinto vem, etimologicamente, da palavra lábaro. Este último, era um machado de dois gumes, símbolo de força sexual, masculino-feminina. Realmente, quem encontra a síntese comete a maior de todas as tolices quando sai do centro e regressa aos complicados corredores de todas as teorias que formam o labirinto da mente”. Descomplicar é difícil. Fácil realmente, é complicar, sair “do centro”, encantando-se ou deixando-se levar por isto ou aquilo, atrás de quimeras, facilidades, vontade do outro, etc e, de repente perceber-se prisioneiro no labirinto... a espera de que surja, de algum corredor, o “salvador” Teseu. Este, dificilmente vem de fora, na verdade, diz-se que temos que encontrá-lo dentro de nós...

 

1 comentários:

Gustavo disse...

Só pra dar um sinal de vida e dizer que estou acompanhando blog diariamente! Um beijo!
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