70 - O sonho sempre é maior

             Um dia descobri que o sonho, o ideal, é sempre maior do que a gente. Foi no dia que “aterrissei”. Quando as “pernas se quebraram” e os “véus caíram por terra”. O sonho não é para viver. É para perseguir. Para animar. Para produzir alento. Para fomentar, atiçar as chamas do fazer, do batalhar, do trabalhar, do buscar, do criar, da paixão pelo viver; superar, não esmorecer! O sonho está sempre lá. A gente fracassa, pena, sofre, se decepciona; mas o sonho está sempre lá, sinalizando, acenando, seduzindo, fazendo promessas; renascendo das cinzas a cada vez que é supostamente aniquilado, morto. O sonho, depois que entranhado em alguma parte do corpo que ainda não localizei (se é na mente, no coração, nos olhos, na alma, em todo corpo, na pele, no sangue ou nas células...) não sai mais, tipo mancha de tinta numa roupa. O sonho sempre é bonito. . todo mundo sonha em ser feliz, fazer algo bom, sair de uma situação péssima... E quando a gente sonha, faz cara de feliz! Por vezes abobada! Meus filhos dizem que sabem quando estou sonhando, fico com cara de quem está fazendo um “clipe”! Ninguém sonha e faz cara feia (o máximo que pode acontecer é um choro, mas de emoção!); ninguém sonha que vai matar alguém, esganar, machucar... isto é planejar, arquitetar. Quem arquiteta e “conspira contra”, não fica com o olho brilhante, só se for o brilho da loucura, do desvario. A conspiração, positiva ou negativa, se busca; é voluntária. A imaginação também. O sonho não; o sonho vem! A gente entra nele, involuntariamente, por uma palavra que toca; por uma idéia que nos conquista e convence; por um olhar que nos captura; por uma migalha de afeto; por uma lembrança que nos toma; por um friozinho que passa; por uma música que nos arrebata; por uma realidade que nos mobiliza; por uma demanda que chega; por uma injustiça que nos incomoda; por uma falta que nos angustia... mas realmente é muito difícil chegar lá... é sempre mais um pouco; sempre está faltando algo, faltando um pouco... é uma luta! Enquanto é luta, é bom. Quando se torna uma viseira, é pena. E há sonhos e sonhos... é um universo ilimitado e interessantíssimo investigar, especialmente os nossos! O que me lembra a lenda da vitória régia; quando uma índia se apaixonou pela lua e vendo seu reflexo na água, jogou-se para cair nos seus braços... “Cega pelo seu sonho, lançou-se ao fundo e se afogou. A lua, compadecida, resolveu transformá-la em uma estrela diferente de todas aquelas que brilham no céu. Transformou-a então numa "Estrela das Águas", única e perfeita, que é a planta vitória-régia, cujas flores perfumadas e brancas só abrem à noite e, ao nascer do sol ficam rosadas...”. Era um sonho! A lua não estava lá, de fato. Acordar é sempre morrer. Morrer é aterrissar, dar-se conta do que de fato é. Mas assim como aconteceu com a índia da lenda (que eu acho belíssima!) algo daquilo que é sonhado, de alguma forma se materializa. Por vezes, o sonho de um, viabiliza o sonho do outro, uma melhoria para a realidade do outro que está ao lado ou que vem depois. Assim que muitos dos sonhos dos que nos antecederam, hoje aproveitamos como “flores” importantes, realidades palpáveis que facilitam a vida! Quem dera possamos, agora, sonhar necessárias e belas concretizações para amanhã... Por vezes não somos capazes de fazer, muito limitados ainda, mas se podemos sonhar, quem sabe...

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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