74 - Olhar

           Duas mensagens, com o título “onde você guarda seus olhos?”; chegaram, hoje, quase que simultaneamente, de amigas de lugares muito distantes um do outro. Numa constatação objetiva, é a globalização, circulação rápida de informações; mas posso pensar de outro modo; posso pensar que duas amigas queridas enviando, ao mesmo tempo, uma mensagem sobre um conteúdo que me fascina e de autoria de um poeta muito próximo do meu coração, é algo bastante simbólico para este meu momento! Não dá para negar certa magia e grande beleza nisto de poder ver um pouquinho mais do que se vê, naquilo que se vê! Sempre há algo que não se viu direito e todos os dias confirmo a descoberta de que nada é exatamente como se vê numa primeira passada dos olhos ou numa primeira impressão ou interpretação. Em se tratando de gente, sempre há um espaço que é o das sutilezas; que é o do intervalo ou da distância entre o que os olhos falam e as palavras confirmam; porque os olhos são sinceros, sempre; mesmo quando não querem! Um dia, experimentando profundo amor, escrevi “eu ficaria sempre com os olhos fechados, olhando pra ti, que está dentro de mim!...” . Não é preciso estar de olhos abertos para ver. Abrir os olhos, por vezes, atrapalha e, por vezes, fechar os olhos é o único jeito de poder olhar e ver. Bom quando a gente pode e consegue olhar e ver com os dois juntos, o olhar de fora e o olhar de dentro. Há alguns anos atrás, trabalhando na construção do conceito de numerais, numa turma de alfabetização, solicitei que os alunos desenhassem cinco objetos. Um dos alunos e somente ele, me trouxe o desenho de um menino. Eu olhei e contendo o impulso de fazer uma observação precoce, senti que devia investigar, porque ele se mostrava tão feliz e seguro com o seu trabalho... “querido, conte para mim quantas coisas você desenhou”... e ele foi contando: “1, 2, 3, 4, 5 ! ...”, (apontando, respectivamente para as duas pernas, os dois braços e a cabeça do menino que desenhara)... eu fiquei muito emocionada e grata pelo aprendizado, que nunca esqueci! De fato, uma das coisas que me mantém encantada no trabalho com os alunos, nestes anos todos, é este constante “aprender a aprender” a olhar, perceber, contemplar e respeitar as diferenças e as singularidades. E, encantada na interação com os outros, quando acontece o encontro de olhares que se acolhem, brilham e se permitem andar e descobrir juntos. Bonito, grande demais quando o olhar do outro nos distingue, nos torna únicos, nos invade com ondas de confiança, ternura, admiração, calor, cura, alegria doce, amor; nos aquecendo sem tocar e produzindo desejo de viver!







 

1 comentários:

Michele disse...

Me recarrego, entusiasmo e admiro a sutileza de sua poesia e a profundidade da tua sensibilidade. Acredito que você não consiga dimensionar que efeitos sua presença, postura e atitudes causam no "outro" (aqui me considero). Você é um exemplo de alguém que tem "olhos não só no coração, mas na alma".
É muito confortante o convívio com sua simpicidade e maturidade, obrigada por ser assim... carinhosamente, Michele


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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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