Diferente

       Diferente foi o Natal este ano. Fora do previsto, do planejado. Uma serpente picou meu marido no dia 23 e “ficamos hospitalizados” até o meio dia do dia 25, em vigilante observação. Como é duro quando as coisas acontecem totalmente diferentes do que esperamos. Que esforço grande temos que fazer para nos adaptarmos ao que o momento oportuniza, presenteia. Depois que a gente se entrega, as coisas até que se encaminham; mas enquanto a gente resiste, é muito duro e tudo fica impossibilitado. Estranho este ambiente formal do hospital, cheio de regras, cuidados e medos. Ao mesmo tempo em que uma parte nossa se crê segura, recebendo cuidados, outra, se sente vulnerável a um perigo que não vê. Tudo muito limpo e organizado; mas de uma limpeza e organização da qual se desconfia totalmente, porque o fantasma dos vírus, das bactérias ronda e assombra o tempo; bem visível nos recipientes com gel às portas dos quartos e enfermarias... eu vi pessoas passando gel não somente nas mãos, mas pelos braços, pescoço, pernas, insistentemente. E eu queria passar o gel nos trincos das portas e tive medo e se o cansaço físico não fosse tão grande, eu não teria cochilado, à noite, na poltrona... sem falar no receio de que o soro não fosse soro ou de que algo não estivesse, de fato, bem esterilizado... Lembrei, nestes momentos, ali, que há trinta anos atrás, quando tive meu primeiro filho, senti o maior orgulho e segurança por estar dando à luz num hospital, assim como depois aos outros dois filhotes; protegida, segura pelos cuidados dos médicos, enfermeiras e com todos os recursos do hospital a disposição; senti-me privilegiada em relação a minha mãe, que deu à luz a mim e meus irmãos, em casa, com uma parteira; sem os recursos de um hospital e de um profissional especializado; correndo tantos riscos... por outro lado, alguns meses após o último parto, quando fiz uma laqueadura de trompas, no mesmo ambiente seguro do hospital; tive complicações: uma “infecção hospitalar” me trouxe desconforto, constrangimento e deixou uma cicatriz. Fiquei advertida, mas ainda considerando importante e necessário o serviço; até porque sempre tivemos um bom tratamento, quando atendidos por convênios; mas isto nem sempre ocorre, sabe-se que existe uma realidade triste, injusta, em muitos lugares, com aqueles que só podem contar com os serviços públicos. Já utilizei estes serviços e tive boas e péssimas experiências. Isto não depende só dos governos; depende das pessoas que estão ali, tratando, cuidado das outras e do que isto significa para elas. Passar agora, este tempo no hospital, me oportunizou um silêncio e isolamento importante. Observei mais profundamente como tudo, em nossa vida, é de fato frágil, rápido, uma chispa! Nada certo, seguro. Tudo com dois lados. E nós, nunca preparados pra os imprevistos e dificilmente dando conta das demandas como gostaríamos. E como precisamos uns dos outros! E como isto é dicotômico! Para interagir precisamos aprender a confiar, a fazer entrega; mas ao mesmo tempo, para sobreviver; não podemos colocar nossa segurança e felicidade inteiramente nas mãos do outro. Há um caminho do meio. Sempre o caminho do meio... Esta possibilidade do equilíbrio faz repensar tudo... e não tem receita. Somos iguais e somos diferentes! Ao mesmo tempo e sempre. Belíssimo! Acho que daí surgiu o amor e todos os sentimentos...



 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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