Amarras

          O que fez a cigarra voltar ao lugar da tortura? Os gatos a disputavam na varanda; brincando num primeiro momento; jogando-a para lá e para cá. Ela gritava loucamente. Não suportei e interferi. Com uma pazinha,  libertei-a dos gatos e joguei-a na noite. Havia muitas opções para ela se proteger, fugir, se esconder na mata ao redor. Julguei que ela merecia uma chance ou oportunidade. Mas ela voltou à varanda. Ficamos num fazer sem entendimento algum; eu tentando salvá-la, supondo que ela quisesse ser salva, fugir dos gatos e ela retornando, sempre e sempre, até que eles a pegaram outra vez e nada mais pude fazer. Pensava que isto acontecesse somente com as pessoas... O que faz com que se repita, permaneça ou retorne ao cativeiro, aquilo que  nos fere, magoa, oprime? Qual a atração, o gozo que se esconde aí? Onde estão as amarras? Eu não me conformei com a volta da cigarra. Mas eu também já fiz isto. Não posso julgar. Mas ainda desejo  entender. 

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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