"Café no bule"

Perder... ninguém quer! E perdemos todos os dias: o tempo que passa, oportunidades, objetos, experiências, contatos, competições,  energia, vitalidade, dinheiro, sentimentos (?), saúde, espaço, espetáculos gratuitos da natureza, confiança, paciência... Um dia, soube de uma pessoa que escondeu um valor considerável de dinheiro num lixeiro, para protegê-lo. A faxineira, que não sabia, mandou para o caminhão do lixo. Um grupo de mulheres simples, do interior do RS, veio, pela primeira vez, à praia. Eufóricas, brincavam na praia, fugindo das ondas, felizes como crianças! De repente, no riso solto, a dentadura de uma delas caiu... desespero, orações (muito católicas), varredura de mãos pelo chão até uma última tentativa de solicitar ajuda ao salva-vidas; tudo em vão! Há muito tempo atrás, perdi um  bebê em gestação. A morte, aparentemente, é invasiva como um ladrão esperto e ágil, que rouba o que  temos de mais precioso... Um dia encontrei a expressão “amor-te”, num texto psicanalítico e isto produziu um efeito gradativo de mudança e aceitação em relação a ela.  Um conhecido, recentemente, tentou suicídio porque a mulher separou-se dele e se apaixonou por outro; está por um fio, 1 % de chance de sobreviver... É fragilidade ou infantilidade colocar a nossa felicidade nas mãos de algo ou alguém?  Equívocos, quando se tornam conscientes, configuram-se em perdas terríveis. O que dói mais: perder ou renunciar? Abandonar ou ser abandonado? O que é mais terrível: ser egoísta ou submeter-se? Tantos meandros, sutilezas, senões, variáveis, jeitos de olhar, de sentir, de pensar... onde não se encaixam os julgamentos. É consenso entre filosofias espiritualistas, mestres de todos os tempos e etc, que o sofrimento (e toda sua família, inclusive a perda) é fonte de crescimento, purificação, evolução. Porém, para fazer este mergulho no vazio da falta, da rejeição, da invasão e desrespeito do outro; acho que é mais ou menos como diz o meu pai e os mais velhos, lá na minha terra :”tem que ter café no bule”! E, encontrar o "café" é que "são elas"...  

 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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