terça-feira, 8 de março de 2011 | Filed in:
O carnaval movimenta os noticiários e o feriado facultativo. Ao mesmo tempo, muita gente trabalhando e vivendo alheia a estes festejos. A avenida das arapongas, sinuosa e solitária, me chamou para um passeio, ao entardecer. Não parece que a praia movimentada, o trânsito atropelado, os turistas acalorados estão logo ali... Fiquei, como sempre, agradavelmente surpresa com os contrastes ali... a catadora de lixo, remexendo e selecionando o lixo na lixeira do condomínio de casas elegantes plantadas na natureza privilegiada de verdes! Carros modernos, circulando pelo asfalto contornado pela mata e muitas antenas, presença da tecnologia contrastando com uma casinha simples de madeira, escondida atrás das árvores. Revelando o ofício do morador, uma placa fixada, displicentemente, no portão de ripas trançadas anunciava: “AMOLA-SE SERROTES”. Olha só! A plantação de palmitos em frente à de eucaliptos, em oposição ou em parceria? Uma, escura, acolhedora, fechada; escondendo cigarras e aves barulhentas retornando ao ninho, depois de um dia deslumbrante de sol e temperatura gostosa. Outra, aberta, altiva e seletiva, sussurrante! Uma garagem escancarada deixava à mostra um altar; com certeza mais uma pequena igreja brotando na comunidade (temos uma meia dúzia na redondeza! Dá-lhe reza ou esperteza?) bem ao lado de um botequim de esquina... Lembrei que vi, no jornal, ao meio dia, imagens de “mulherões” com pernas, bundas e peitos modelados à mostra, felizes diante das cameras e dos olhares de admiração e, logo em seguida, a imagem desolada de um homem que perdeu a mulher, jovem, bonita, mãe de um bebezinho, durante uma “lipo” a que se submetia para ficar mais bonita ainda... Num determinado momento, a música sertaneja, tocada no botequim, onde a cachaça rolava solta, junto com a língua, misturou-se com a música eletrônica que vinha, a “altos brados” de uma “mansão”, atrás dos altos muros, onde se hospedam executivos de outro estado, que aqui vieram “descansar” e “festar” diferente, no anonimato... Ergui os olhos e me deparei com a beleza de um pinheiro que parecia, assim, naquele ângulo, desenhado no céu (!); muito alto, contornos suaves, silencioso e dativo, próximo a um córrego, que antes era transparente e cantante, mas que agora já está marcado, pesaroso; tão novinho e já, como disse Wander Piroli: “um rio morrendo de sede”. Uma vizinha parou para me alertar sobre os assaltos que estão assíduos na cidade e que, sem demora, podem chegar até nosso “canto”... Entrei em casa um pouco mexida com isto e me deparei com a gatinha Roxo Charruel à beira do lago, contemplando a própria imagem e todas as outras coisas ali refletidas; relaxada, tranqüila, encantada com a descoberta! O que mais a gente pode fazer enquanto vive, além de observar, contemplar e interagir? Se eu “me fecho”, me escondo, me alieno, fujo por medo ou preconceito, posso não te ver passar, chegar, sorrir; me chamar! E isto, perder um abraço, uma troca de saberes, momentos singulares, sim, seria perda irremediável.
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