Um livro

         



         Uma das coisas mais bonitas, neste ofício de ser professora, são os inusitados; isto que não estava no planejamento e aconteceu, nos arrebatou e levou a um algo que nem sempre é possível nominar; sempre bom e nutritivo.

         Assim foi na quinta passada. O livro me encontrou logo de manhazinha, na biblioteca da escola, quando eu escolhia uns livros para os alunos: “ADIVINHA QUANTO EU TE AMO”, o título. Desarmante! Um livro falando de amor. Coisa simples. Deste amor que a gente sente e quer - eu estou sempre tentando - traduzir com palavras. Amor que inunda. Que não tem nada a ver com qualquer coisa interesseira ou de posse ou que se possa barganhar. Amor que é. Não consegui deixar o livro na biblioteca; separar-me dele!
        Ele me acompanhou nas aulas, o dia inteiro e ao iniciar cada uma delas, eu li para os alunos, todos; dos menores aos maiores, os mais exigentes, os pré-adolescentes, críticos que só! 
        O texto produziu silêncio, quietude, brilho no olho, sorrisos doces, ternura. Os menores, de cara, identificaram-se com o filhote. Os maiores, com mais tempo de vivência, perceberam com maior clareza, o que se passava entre o pai e o filho, personagens da história: um tentando mostrar ao outro, o tamanho do seu amor. 
         Neste cotidiano de extremos e contradições, onde as gentes, apesar do conhecimento e avanços tecnológicos, ainda não conseguem conversar, guerreiam e manipulam o tempo todo com a palavra, o poder, armas químicas, bombas e o ego; constatar que um abraço, alguém que se importa e que ama “ida e volta”... ah! é tudo de bom! 
         Na última turma da tarde, uma menina, timidamente, mas investida de verdade, me surpreendeu. Ela dificilmente se manifesta no grande grupo. Pediu a palavra: “eu tenho este livro em casa, professora. Minha mãe sempre lia para mim, quando era menor. E ela dizia: “ filha, eu te amo daqui até o céu”! E eu respondia: “ e eu, mãe, te amo ida e volta”!
        Depois disto, como já foi dito por alguém, em algum lugar, “ o resto é silêncio”. Uma quietude pairou no ar e cada um concentrou na sua prova.
        ADIVINHA QUANTO EU TE AMO! 


 

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2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

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