- Qualidade para as "sementes"!




De repente, ergui meus olhos  e me deparei com este inusitado:  do outro lado da janela, pousado no “pé" de ameixa de inverno, um tucano me olhava. Lindo, tranquilo, majestoso. Me concedendo a honra de partilhar tempo e espaço com ele e suas cores, nesta manhã geladinha de outono, quando os primeiros frios vão chegando, puxando lembranças e desejos de quenturas e aconchegos.
Na mata ao meu lado, o sol ainda não chegou, mas os morros em frente e do outro lado, já estão dourados e a promessa, se interpreto bem, é a de um dia lindo!
O tucano tendo mais o que fazer, foi embora, sem alardes. Deixou-me com a palavra suspensa e com a máquina de fotografar, na mão. Talvez esteja me observando melhor, atrás de um e de tantos ângulos que a floresta lhe oportuniza; coisa que o espaço limitado de minha janela não me permite em relação a ele. Mas desconfio que ele tenha, realmente, feitos mais interessantes lhe convocando, lá no seu horizonte.
Também eu estou mergulhada num oceano de trabalho; urgente e interessante; mas o tucano tocou no meu desejo, que está bem além dos limites da escrivaninha e da minha janela.
Eu leio mensagens que chegam a todo momento  e penso nas manifestações que organizam pelo país, em resposta ao momento histórico que vivemos: de grandes golpes, sacudidas na inteligência, na paciência, na ignorância, na acomodação, na mesmice; nos “brios”, nos fanatismos, nas “cartas marcadas”, nas histórias escondidas e mal contadas; nos conceitos de civismo, justiça, confiança, bem comum, de cidadania... penso! E penso! E decido. E me posiciono. Ou será que apenas retomo?! Olhar da janela ou de qualquer lugar é bonito; é bom, é tranquilo. É confortável, mesmo quando a visão não é bonita. Mas aprendo que viver é exigente; exige sempre mais! Isto porque depois que eu vejo, mesmo não querendo, mesmo não admitindo ou tentando esconder, não posso mais esquecer que vi.
Porém, o meu desejo está ainda além deste momento histórico, real. Mas tem a ver com ele e com tudo, inclusive com o tucano.  Meu desejo está lá, junto das sementes!
No final de semana passado, entrei numa estufa e meu coração inundou! Transbordou! Inflou... mergulhando, finalmente, num universo de  significados, metáforas, verdades, aprendizados... Não era novidade estar ali. Mas estar ali, naquele momento e com aquelas pessoas e escutando o idealizador do projeto falando com tanta propriedade e amor sobre e das sementes, era singular.
Ali, naquelas estufas (eram mais de vinte), milhares de sementes, em vários estágios, recebiam cuidados especialíssimos! Sementes caras, preciosas; tendo uma germinação assistida: luz, água, calor, proteção e olhar! Olhar atento, minucioso. E investimento. Cada ano, novas descobertas, criatividade para proteger a qualidade das sementes; assegurar sua germinação e o seu futuro: alimentar a população! Alimentar bem, garantindo as propriedades e singularidades de cada semente... Ah! Isto é demais! Se a gente aprofunda um pouco... Bah!!! Arrepia o coração e a consciência!
A estufa é um útero! Não vou entrar no mérito da artificialidade. O que me toma é o olhar, o cuidado, a proteção para garantir um futuro. E o melhor futuro! Bem cuidadas, bem observadas; pouquíssimas, raras sementes se perdem!
Por analogia... desde o útero materno, por quantos outros úteros passamos? A família, a escola, a comunidade, o estado, o país... a pátria!
O tempo que levei, desde o momento em que comecei a escrever até agora, foi o tempo que o sol levou para chegar a este lado da floresta, à frente da minha janela!  E sem poesia: o sol está dourando tudo, por aqui!  É bonito! Cada um fazendo sua parte;  o sol, o ar, a água, as estufas, os queridos donos das estufas que visitei: cuidar das sementes! Semeá-las em bom solo e acompanhar, zelar, proteger, garantir o desabrochar do seu melhor!

O tucano foi embora, mas as borboletas ficaram ali, sob as flores da ameixeira, fazendo, também, a sua parte neste processo maravilhoso de semear; oportunizar a continuidade das espécies; a continuidade da vida. De uma boa vida. Sem escolher a quem, sem discriminar, sem privilégios e favorecimentos; sem negociar vantagens. Somente dando o seu melhor no seu fazer, para todos. E, na reciprocidade, recebendo o melhor de todos. 
Com e sem metáforas, é bem aí que está aninhado o meu desejo.



 

0 comentários:


Minha foto
2023, 14o aniversário do Blog! O meu desejo, por estes tempos, é de um pouco de calma, um pouco de paciência, um pouco de doçura, de maciez, por favor! Deixar chover, dentro! Regar a alma, o coração, as proximidades, os laços, os afetos, a ternura! Um pouco de silêncio, por favor! Para prestar atenção, relaxar o corpo, afrouxar os braços para que eles se moldem num abraço!

Arquivo do blog